Dama do Fogo

1.4 : O Despertar

|||Angeais, Fevereiro de 1929|||

   A Dama da Morte tentou finalizar seu trabalho, mas o homem acertou um soco no estômago dela, o que a fez recuar. Ele girou na cama, caindo do outro lado e apareceu com um revólver nas mãos trêmulas.

Ellara o encarava com ódio por ter sido golpeada, mas ainda mais por estar na mira dele.

— QUEM É VOCÊ? — Berrou.

Ótimo, ela pensou, em pouco tempo todos da pensão estarão na porta para saber o que está acontecendo. Grite um pouco mais, idiota.

— QUEM TE MANDOU AQUI? EIN?

Ellara não sabia o que o sujeito havia feito para ser marcado para morrer, mas naquele momento ele parecia bem ciente de seu destino.

— EU VOU ATIRAR EM VOCÊ! EU JURO POR DEUS QUE EU VOU! E DEPOIS EU VOU ATRÁS DAQUELE IMBECIL DO JEFF!

Ellara não fazia ideia de quem era Jeff, poucas eram as vezes que ela entrava em contato com os clientes. Normalmente era Welly que cuidava disso.

Ela respirou fundo, imaginando como sair daquela roubada, então veio em sua mente algo que podia dar certo. Ela costumava saber atirar facas quando mais nova, era hora de ver se ainda tinha prática.

A Dama jogou a faca na direção do homem e o acertou no ombro esquerdo. Ele gritou e quando ela enfiou a mão no casaco para pegar outra lâmina, um tiro foi disparado.

Ellara tropeçou nos pés e caiu sobre as garrafas de bebida no chão. O homem urrava de dor e passos já circulavam pela pensão, as pessoas estavam vindo para ver o que tinha acontecido e iriam entregá-la aos sentinelas. Era seu fim.

Ela se permitiu gritar quando viu que tinha sido atingida no braço direito e sangrava sem parar.

O homem se aproximou, ainda com a arma erguida e mirou na cabeça dela. Ellara grunhiu enquanto tentava alcançar alguma das lâminas reservas com o braço bom, no entanto o dedo dele foi mais rápido e o gatilho foi puxado antes que pudesse fazer algo.

Ellara sentiu o coração errar uma batida. Seu corpo inteiro se arrepiou e ela sentiu uma onda de adrenalina ser descarregada em suas veias, culminando numa barreira invisível de energia em sua frente, o que manteve a bala flutuando no ar, presa entre a testa dela e o escudo mágico.

Havia funcionado, o pacto havia realmente funcionado, e ela havia despertado.

Um sorriso se formou involuntariamente em seus lábios quando ela percebeu isso, e o homem ficou paralisado com uma expressão de pavor no rosto.

Ellara se levantou num movimento rápido e sacou uma lâmina, cravando na garganta do alvo tão ferozmente que a ponta quase saiu do outro lado.

Ele caiu tentando gritar, mas todo o barulho que emitia era um sinistro gorgolejar enquanto se afogava no próprio sangue.

A Dama da Morte correu para a varanda e quando a porta do quarto foi escancarada pela dona da pensão, não havia sinal algum dela.

Mais uma missão estava completa, e um novo horizonte se abria para aquela jovem assassina. Em seu íntimo, ela sussurrou um agradecimento a Alastair.

*****

Ellara correu por telhados e becos escuros segurando o braço direito ensopado de sangue. Embora sentisse a terrível dor que uma bala alojada num músculo pode causar, ela sorria. Havia finalmente despertado e nada seria capaz de tirar aquele sentimento de euforia que sentia, nem mesmo um ferimento tão doloroso como aquele.