2.4 : Deslize

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[Gatilho: pedofilia e abuso sexual]

|||Angeais, Fevereiro de 1929|||

   Puxar Alastair para seu lado não foi a parte difícil para Ellara. Afinal, seria uma mentira dizer que não tinha tirado proveito do momento que passaram juntos, muito pelo contrário, ela achava que nunca tinha sido tão desejada daquele jeito antes. 

A parte difícil daquele dia foi quando ela andou até o meio da clareira e encarou aqueles olhares esperançosos de pessoas que juravam de pé junto que ela seria a Salvadora de todos eles. 

Trajando vestes justas em couro preto, ela parecia uma Dama da Morte de novo. Torcia para que sua aparência sombria não espantasse seus aliados naqueles momentos tensos antes da batalha.

Todos olhavam para a Hierofante como se ela fosse a solução para todas as suas dores, a fundadora renascida. 

A atenção a incomodava, tanto que ela tinha dito a Hyas enquanto se vestia naquela manhã. O elfo apenas balançou a cabeça e disse que era melhor fazer um esforço para aguentar, pois as pessoas estavam mais motivadas do que nunca para a missão, e essa era a única coisa que importava.

Ellara entendia isso e não queria decepcioná-los, por isso resolveu improvisar um discurso para dar uma última dose de incentivo ao seu pequeno exército:

— Nove anos atrás eu perdi tudo. Eu era uma criança e pra sobreviver tive que fazer coisas terríveis — disse, lembrando-se das lições de Welly. — Vi tudo que nossos pais construíram ser corrompido e nossa magia ser manchada com o sangue de inocentes.

Alastair, que ouvia tudo encostado na parede de uma cabana, parecia bastante satisfeito com a eloquência que a feiticeira tinha. Talvez ela tivesse mesmo nascido para ser o centro das atenções.

— Feiticeiros impuros tomaram nossas casas, disseram que não éramos mais dignos de sentar na mesma mesa e comer da comida que plantamos se não pagássemos com malditas moedas. Amaldiçoaram essa terra e agora olham para nós de seus lares perfeitos, enquanto nossas crianças passam fome e nosso povo agoniza na lama.

Ellara se sentia confiante como nunca, até estranhava o modo como discursava, pois ela nunca tinha tido muito jeito pra falar em público. Porém, de frente para os moradores da Floresta das Lágrimas, toda a vergonha sumia e o que restava era uma oradora capaz de conquistar até o mais incrédulo dos corações.

— Morgana não criou Angeais para ser um cemitério, então eu digo que não vamos mais nos curvar e morrer. Não iremos mais permitir que nos escravizem. Vamos resistir e recuperar nosso lar!

Aplausos e gritos explodiram. Alastair soube, naquele momento, que estava diante da ascensão de uma lenda e sorriu, feliz por ser ela a pessoa que tinha roubado seu coração vil.

Depois do discurso, os combatentes pegaram as armas - facões, pistolas, carabinas - e despediram-se daqueles que ficariam.

Ellara notou que o recém-casado Tim também a seguiria e, quando o viu beijar a esposa pela última vez, desejou que a missão fosse um sucesso para que assim o rapaz pudesse voltar para a mulher que amava. Eles mereciam ser felizes num mundo sem Andra.

A feiticeira e sua tropa deixaram a Floresta no cair da noite. Darvi e Lua íam na frente, seguindo cachorros de metal que a humana tinha montado com peças de autômatos que roubara da Pólis. Os olhos dos animais serviam de farol e iluminavam a trilha por onde os rebeldes passavam.

Dama do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora