3.6 : O Intruso

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|||Angeais, Maio de 1934|||

   As pedras que protegiam o Portal de Fogo tremeram como se estivesse acontecendo um terremoto. Os sentinelas responsáveis por vigiarem a área se olharam, mas antes que tivessem a oportunidade de fazer qualquer coisa foram jogados para longe por uma explosão inesperada.

Sombras se arrastaram para fora do círculo flamejante e uma figura trajada de preto atravessou a passagem sem que nada ou ninguém pudesse impedi-lo.

 Naquela noite, a única testemunha da entrada triunfal de Alastair em Angeais foi uma pequena coruja, que logo voou para outro lugar assim que os olhos furiosos da criatura a encontraram.

O ruivo aspirou o ar da Cidade Mágica e fez uma careta. Pelo visto aquele lugar não demoraria a morrer, o cheiro da destruição iminente pairava na atmosfera como uma nuvem pesada de chuva. Era tarde demais para tentar salvar Angeais.

Ele só torcia para que não fosse tarde demais para Ellara.

*****

   Alastair caminhou pelas ruas esburacadas e mal-cuidadas do que antes tinha sido o centro de poder e de todo o luxo de Angeais. Agora, no entanto, ervas daninhas cresciam entre as pedras da calçada e muitos dos prédios destruídos na noite da rebelião foram simplesmente abandonados em ruínas.

Olhando com mais atenção, o anjo caído percebeu novos elementos na Pólis destruída, como muros e cercas de arame farpado. Tudo para proteger os feiticeiros daqueles que estivessem do outro lado. 

Alastair esboçou um risinho debochado, como era possível que aquelas criaturas tão arrogantes temessem um punhado de humanos e elfos famintos? Ora, ora, parece que o fantasma daquela noite de cinco anos atrás continuava assombrando aquela gente.

Não demorou muito para que ele se encontrasse com os tais moradores desagradáveis da Pólis. Todos sorridentes e vestidos em trajes de gala, perfumados e maquiados, embora por baixo de todo aquele luxo o cheiro punjente da magia proibida fosse tão forte quanto o de carniça.

Os feiticeiros seguiam em direção a uma mansão de tijolos vermelhos, cujo portão era protegido por dezenas de sentinelas.

Alastair, que já estava com a paciência curta para interagir com aquela gente, deu a volta no bairro e pulou o muro do quintal da mansão. Dali podia ouvir o barulho das risadas e da música alegre vindo do salão, assim como o fedor potencializado por tantos usuários de magia proibida reunidos em um único lugar.

Ele atravessou o jardim, espantando algumas fadas que se escondiam numa roseira, e quebrou a tranca da porta que se abria para a cozinha. 

Assim que pôs os pés dentro da casa, Alastair teve que respirar fundo e colocar a cabeça no lugar.

Tinha um plano a seguir, mas precisaria ser frio como uma pedra de gelo para fazê-lo funcionar, e talvez até precisasse ser um verdadeiro demônio naquela noite para resgatar a única pessoa que valia a pena para ele naquele lugar maldito.

Para confirmar suas suspeitas de que ela continuava viva, Alastair puxou o medalhão do bolso e pressionou-o na mão, sentindo o calor vital de Ellara como havia feito tantas vezes nos últimos cinco anos. Sim, ela estava viva, e sim, ela estava ali em algum lugar. Ele só precisava encontrá-la.

Assim, Alastair passou a mão pelos cabelos e pegou o corredor que o levaria até o salão de festas, seguindo o barulho como guia.

Era um dia de festa, o aniversário da filha da líder, e Andra não tinha poupado recursos para aquela celebração, embora o resto de seu povo estivesse morrendo de fome do outro lado daqueles muros.

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⏰ Última atualização: Jun 26, 2023 ⏰

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