2.2 : Uma Festa

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|||Angeais, Fevereiro de 1929|||

   O preço da Provação foi alto. De jeito que obrigou Ellara a ficar de cama por dois dias para recuperar as forças. Nesse meio tempo, não fazia muita coisa além de dormir e comer ensopado de couve que insistiam em trazer. Nunca se esqueceria daquele gosto terrível.

Quando sentiu-se forte o suficiente para sair da cabana onde Hyas a tinha instalado, os olhos demoraram para se acostumar com a luz do dia, embora o tempo estivesse nublado. Ellara caminhou poucos metros antes de ser reconhecida e cercada pelos moradores, que a enchiam de perguntas e pedidos.

Alguns, os mais atrevidos, tentavam roubar bênçãos beijando as mãos delas ou os pulsos cortados, o que deixava Ellara possessa da vida e prestes a distribuir tabefes.

Pelo visto, aquela história de Salvadora traria muita dor de cabeça.

— Pessoal, deixem a coitada respirar — Darvi pediu, se enfiando no meio do grupo e puxando Ellara pelos ombros. — Ela fala com vocês mais tarde, tá bem?

As pessoas concordaram e o aglomerado de criaturas se dispersou, cada um indo se ocupar com alguma coisa.

— Valeu por essa — Ellara agradeceu, percebendo que pela primeira vez via Darvi sem a companhia da fada Lua.

— Não foi nada, mas você não pode se irritar com eles. Todo mundo fica morrendo de vontade de tirar uma casquinha da mais nova Santa de Angeais.

— Não sou santa nenhuma.

A ideia até a divertia. Santa do quê? Dos assassinos?

— Hm, se você diz. — Darvi a levou até uma cabana enfeitada com vasos de jacintos. — Hyas pediu que eu te ajudasse a escolher uma roupa legal pra festa.

— Festa? — A feiticeira perguntou.

— O casamento de Mel e Tim. Nossa, eles estão tão felizes que você vai participar!

— Sério? Uma festa? — Ela perguntou, sendo arrastada porta adentro pela humana de olhos bonitos.

— Uma distração dessas é sempre bom, ué.

Uma mestiça estava sentada entre uma pilha de tecidos, dobrando algumas roupas que tinha acabado de fazer.

— Celie, trouxe ela — Darvi avisou, empurrando Ellara na direção da costureira.

A mulher, que tinha traços humanos e orelhas pontudas de elfo assim como Yvar Barryn, levantou-se e fez uma reverência. Ellara demoraria um pouco até se acostumar com aquilo.

— Acho que não será necessário, eu trouxe algumas roupas — a feiticeira começou a dizer, embora não achasse que nenhuma delas servisse pra um casamento.

— Besteira! Celie, faça um vestido bem bonito pra Hierofante! — Darvi a interrompeu. — É uma ordem dos patrões.

— Ah, eu vou fazer a coisa mais linda desse mundo! — Ela garantiu, puxando uma fita métrica e tirando as medidas de Ellara antes que ela tivesse tempo de reclamar.

Quando a costureira se deu por satisfeita, começou a cortar tecido e a costurar numa velocidade alarmante. Mesmo sendo mestiça, Ellara poderia jurar que aquela mulher devia ter algum tipo de superpoder.

— Você era da Vila? — Darvi perguntou, apoiada na parede, enquanto Ellara provava o corpete. — Como os humanos de lá nunca te delataram?

— Aquela gente faz de tudo por umas moedas — Celie comentou, apertando um pouco mais a peça.

Ellara se viu no espelho e, mais uma vez, não acreditou que era ela mesma olhando de volta. Tanto tinha mudado em tão pouco tempo que a vida na Vila parecia ter acontecido há séculos. Welly, Lou, o bar, tudo era tão distante agora.

Dama do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora