|||Angeais, A Mesma Noite|||
Alastair movia-se com o gingado de um bailarino que tinha passado séculos frequentando salões de festas, matando as madrugadas com grandes quantidades de álcool e dançando até o amanhecer. Quando estava envolvido pelo ritmo daquele jeito, era livre como nunca.
Conforme a música se desenrolava, os dançarinos cercaram ele e Ellara e o que era pra ser um festejo refrescante ao ar livre, tornou-se uma farra quente e úmida pelo suor da multidão em movimento.
A floresta parecia ferver com tanta agitação.
Ellara e Alastair pareciam ferver em uma estranha sintonia recém-descoberta.
A feiticeira cheirava à jasmins e álcool puro, no entanto, apesar de quase tropeçar umas duas vezes, não chegou a pisar nos sapatos escuros e chiques do anjo caído.
Alastair, entretanto, estava muito absorto nos olhos amendoados dela para perceber qualquer pisão que ela viesse a dar. Em certa altura, culpou até mesmo a bebida pelos pensamentos que invadiam-lhe a cabeça, embora mal tivesse ingerido uma gota sequer daquela nojeira amarela.
Seria o calor? Seria o ar de Angeais? Ele buscava uma explicação para o incômodo provocante que vinha sentindo desde o momento em que tocara a pele de Ellara, mas falhava em encontrar a resposta.
Ele queria deixá-la, mas também queria puxá-la para mais perto.
Queria desprezá-la como fizera com tantos outros, mas também queria roubar todos os olhares dela para si.
Queria soltá-la no meio da dança e quebrar aquele feitiço que ela provavelmente tinha lhe lançado, do mesmo jeito que desejava ser consumido por ele.
A feiticeira girou para longe dele e quando voltou aos seus braços, estava sorrindo por quase ter tropeçado mais uma vez. Alastair notou que aquela era a primeira vez que via Ellara sorrir verdadeiramente e a sensação era a mesma de ter visto um animal raro pela primeira vez.
A pessoa que fizesse aquela garota feliz ao ponto dela sorrir daquele jeito seria o sujeito mais sortudo do mundo, o anjo caído pensou consigo mesmo.
Antes que mergulhasse em mais pensamentos perigosos, no entanto, ele focou no ritmo e torceu para que toda aquela confusão desaparecesse de sua mente, que já era muito perturbada.
Quando a música acabou e Ellara enfim se afastou dele, voltando à mesa de bebidas, Alastair se sentiu um pouco aliviado.
E um idiota completo.
A revelação que surgia diante dele lhe parecia uma piada perversa e sombria, uma zombaria do destino ou mais uma punição do Pai que o renegava.
Para sua desgraça, o anjo caído estava apaixonado pela pessoa que deveria destruir.
*****
Ellara foi puxada para uma ciranda já perto do amanhecer, onde curiosamente as pessoas pareciam nunca ficarem cansadas. Enquanto girava de mãos dados com um elfo e um humano, a feiticeira sentiu como se fosse uma criança de novo, aproveitando a vida boa que tinha antes de Andra.
Quando a música acabou, os dançarinos se espalharam e lentamente, a festa se encerrou.
A bebida aparentemente tinha evaporado do corpo, pois Ellara não sentia nenhum sintoma da ressaca terrível que jurava que ia ter. Ela tirou os coturnos e pegou umas sobras de biscoitos da mesa de guloseimas, onde fitas coloridas e flores estavam jogadas por cima dos pratos.

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Dama do Fogo
FantasyDepois de uma tragédia acontecer na Cidade Mágica de Angeais, a vida da feiticeira Ellara é completamente destruída. Sem poderes, sem família e sem aliados, ela se viu forçada a crescer como uma perigosa assassina de aluguel num mundo dominado por f...