2.1 : Doce Andra

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|||Angeais, Dezembro de 1919|||

   Will e Andra praticavam seus poderes no jardim, ele havia conseguido fazer crescer pequenos girassóis depois de muito esforço enquanto a irmã se irritava com suas tentativas falhas.

— Eu não consigo fazer essa porcaria! — Ela reclamou, abandonando a bacia com água e cruzando os braços. — É inútil.

— Não é não, você só tem que continuar tentando. Como a mãe diz.

Andra revirou os olhos.

Will podia se contentar controlando torrões de terra e mudas de plantas, mas Andra já não se contentava com tão pouco.

— Ser da Esfera Celeste é tão besta, eu queria poder fazer coisas que realmente importam.

— Controle de água é importante para irrigar nossa terra, os feiticeiros que controlam água contribuem muito na comunidade e...

— São insignificantes, isso sim — ela o interrompeu. — Qual é, você parece uma cópia perfeita do pai. Não gostaria de ser mais, Will?

Will franziu o cenho, aquela conversa não estava lhe cheirando bem.

— Somos o que estamos destinados para ser, não tem como mudar isso.

— Você sabe que não é verdade. — Andra olhou por cima do ombro para ver se ninguém estava por perto e aproximou-se do meio-irmão. — Eu conheci alguém que pode fazer a gente ser o que quiser.

Os olhos de Andra reluziam de uma forma que Will nunca vira antes, como se ela estivesse falando de um presente que ganharia no aniversário ou de uma história fantástica que tinha ouvido das fadas, mas para ele tudo aquilo só parecia um monte de bobagem.

— Do que você tá falando? — Ele perguntou se ajoelhando para tocar nos girassóis recém-criados.

Andra se ajoelhou ao lado dele, o cabelo preso em uma trança escura balançou quando ela olhou para trás mais uma vez, desconfiada que Maryan pudesse estar por perto escutando tudo.

— Jônatas me disse que tem uma forma da gente ficar mais poderoso, de alcançar nosso verdadeiro poder.

— O Viturino é um mentiroso.

— Não fale assim dele! — Ela exclamou com os olhos arregalados, como se Will tivesse dito uma grave blasfêmia.

— Mas ele é, ué. E ouvi dizer que ele é cruel também — Will encarou Andra. — O pai não quer a gente conversando com ninguém da família dele, lembra?

— Ele não entende — Andra bufou impaciente. — Jônatas diz que pode fazer com que a gente seja mais forte do que nunca, consegue imaginar?

— Não é bom se misturar com essa gente — Will a repreendeu, ficando de pé.

Andra agarrou a mão dele e Will sentiu uma terrível sensação subir pelo braço, um formigamento gelado, como se sua carne estivesse congelando de dentro para fora. Ele escancarou a boca num esgar de dor e temeu que seu corpo inteiro fosse congelar também.

— O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? ME SOLTA! — Ele gritou em pânico.

— Você quer revidar, irmãozinho? Vamos, me ataque com tudo que tem! — Andra sussurrou entredentes. — O que vai fazer para se salvar? Conjurar uma roseira? Fazer um terremoto?

Will sentiu lágrimas acumulando nos olhos e tentou puxar o braço mais uma vez, porém Andra era mais velha e mais forte do que ele. O rapaz não entendia por que ela queria tanto machucá-lo.

Dama do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora