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ROMEU

Não vejo Julieta já devem fazer três dias, também não conversei com Mírian até então, tenho vivido em função de esperar que meu pai sinta nossa falta e resolva nos procurar, é algo inevitável, por isso viemos para este "fim de mundo", mas continuo ansioso, se ele nos encontrar, teremos que estar prontos, certo?
Digamos que eu tenha investido boa parte do meu tempo preocupado com a Julie, ouvi Mírian chamar a filha assim uma vez, não nego que minha vontade mesmo é adentrar aquele quarto e tentar aproximá-la de mim, aquela culpa estava me matando, mas eu admitir que sou mesmo culpado não vai mudar as coisas, ela continua me vendo como uma ameaça, coisa que eu realmente fui por muito tempo... Sinto que a única coisa boa que eu poderia dar a ela era a garantia de que tudo acabaria cedo e que cada um seguiria seu caminho, mas ambos sabemos que não vai ser assim, então não há o que dizer, apenas fazer, me dedicarei a isso, minha vida já está arruinada, de qualquer forma.

Os pássaros voaram assustados com o disparo, Davi usou objetos aleatórios como alvo para, segundo ele, "extravasar", era do feitio dele usar palavras amenizadoras quando tentava expor seu desejo de balear alguém.

Davi- Ah, isso é bom!

Romeu- Me lembre de nunca confiar em você.

Davi- Eu digo o mesmo, devia soltar uma bala no meio disso que você chama de rosto.

Romeu- Certo, acho que não vai superar isso, mas eu agradeceria se me ajudasse.

Davi- Não faço questão da sua gratidão... -Disse dando de ombros e posicionando os outros "alvos"-

Romeu- Okay, não chore por mim quando eu sumir com a Julieta e deixar vocês todos aqui se virando. -Ameacei-

Davi- Eu sou capaz de me juntar ao seu pai se fizer algo assim e falo sério!

Ri e suspirei.
Subitamente, meu corpo estremeceu, meu sangue fervia, como se um grande peso houvesse sido largado sobre mim, até mesmo as minhas roupas estavam me irritando, não me sentia assim há muito tempo, a ficha caiu mil e uma vezes e continuava a cair, que inferno!
Eu continuava incomodado, Davi atirou uma vez e o som da garrafa quebrando foi muito mais que satisfatório e o som do disparo, convidativo. Tomei o revólver das suas mãos e atirei três vezes seguidas, era como sair de um estado anestésico, eu finalmente acordei, me sentia vivo e muito mais sensível, só então percebi o quão inerte estive esse tempo todo, odeio isso... E a propósito, acertei os três alvos restantes.

Davi- Ele voltou! Se eu tivesse que lidar com essa sua fase donzela por mais tempo, me mataria. -Disse em tom sarcástico e satisfeito com os disparos-

Romeu- Ah... Cara, isso é bom! -Exclamei eufórico-

O imitei, só depois percebi isso, mas era irônico como aquela sensação era genuína.

Davi- Eu sei disso! -Respondeu orgulhoso-

***
JULIETA

Mamãe bate na porta do quarto exatas quinze vezes a cada duas horas, ela chama por mim e eu respondo sempre a mesma coisa: -Não estou com fome- Ela insiste mais um pouco e vai embora.
Em cada uma das quinze batidas meu coração dói e meu estômago revira, minha mente não me deixa em paz e quando durmo, não escapo sem pesadelos. Gostaria de correr para os braços dela como uma criança assustada e ficar lá para sempre, sentindo seu cheio agridoce e brincando com seu colar favorito que estava sempre ao pescoço... Mas creio que eu precise me castigar um pouco e me abster dessa zona de conforto, estava na hora de aprender a lidar com meu inferno interior, precisava pôr isso para fora, mas não seria na frente de ninguém. Além do mais, quem quer me visse naquele estado, certamente precisaria de colírio para os olhos, estava aos cacos, com olheiras e pontas duplas, superficialmente falando, eu definitivamente não queria desapontar mamãe e dizer-lhe que não importa o quanto tente amenizar toda essa loucura, não acredito que vamos ter uma vida normal mesmo que, por ventura, tudo se resolva.
Parecia o fim do mundo e eu carregava o fardo de saber que teria de perseverar... O que devo fazer se na primeira vez que tentei confiar em alguém, descubro que essa pessoa planejou me entregar a criminosos?
Meus ossos doíam, meu corpo está pesado, e meus ouvidos tão sensíveis que posso ouvir os mais míseros ruídos, consigo saber se alguém está vindo desde o outro lado do corredor mesmo que venha na ponta dos pés.
Um barulho familiar e estrondoso ecoou pelo quarto, eu sabia o que era, disparos... aquele som, que me fazia estremecer e perder o sossego, sentei na cama num salto de susto e minha visão começou a girar, fiquei parada um pouco até que ouvi mais três, o que era aquilo?
Saí me apoiando nos móveis até a janela, abri cautelosamente e vi Romeu e Davi, pareciam estar tentando acertar alguns alvos, já que haviam garrafas quebradas e tinha um revólver nas mãos de Romeu.
Olhar para ele ainda doía, mas não tanto mais, apenas estava exausta, como se dependesse de um piloto automático para funcionar, ele me percebeu ali e me olhou, tentei encarar de volta, mas seria um esforço para salvar meu ego inútil, suspirei e tranquei as janelas novamente.
Eu ainda gostava da cor de seus olhos, sorri me sentindo o ser mais frágil que já pisou nesse mundo, normalmente me envolveria em raiva mas posso abaixar a guarda quando estou sozinha, meu campo de visão voltou a girar e depois disso, tudo escureceu.

***

Julie! Filha, você está aí?! Julieta!

Romeu acordou ouvindo vozes no meio da madrugada, saltou do travesseiro pelo susto e pressionou seus olhos a fim de que pudesse enxergar melhor. Dando-se por vencido, levanta e identifica a voz de Mírian.

Romeu- O que houve? -Pergunta ao abrir a porta-

Mírian- Ela não comeu o dia todo e sabe-se lá se está bem... Não me responde. -Fita a porta-

Romeu- Talvez ela só precise de um tempo...

Mírian- Ela não é assim... Julie!

Romeu- Com licença... -Caminhou preguiçoso pelo corredor até a porta-

Romeu- Julieta! Está acordada?!

O silêncio veio em resposta, depois de batidas repetitivas na porta, nada conseguiram.
Romeu cogitou checar pela fechadura, embora parecesse inapropriado, a final, o que é apropriado em toda essa história? Então, o fez.
Tudo o que conseguia ver era uma parede e mais abaixo... pés...
O rapaz empurrou a porta instintivamente a ponto de arrombá-la, e estava claro: Julieta inconsciente no chão frio do quarto... Sua pele estava pálida e seus cabelos lhe cobriam o rosto.

Romeu- Ah não...
































3K?! Eu sou o ser humano mais feliz nesse momento, vocês fazem tudo valer a pena, muito obrigada!!!

Romeu e Julieta •Leonardo DiCaprio•Onde histórias criam vida. Descubra agora