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Meu coração acelerou e uma corrente congelante passeou pela minha espinha, quase tão agonizante quanto Romeu me olhando como se tivesse acabado de me desejar um bom dia como costumava fazer antes de tudo.
Engoli seco e obviamente estremeci, se tentasse esconder qualquer traço de culpa seria perca de tempo, ele sabe, está seguro do que disse.
-O que foi?- Se atreveu. -Eu não revelei nenhuma novidade, revelei?

Enquanto eu lutava para encontrar alguma desculpa, uma brecha ou apenas cogitar fingir um desmaio, ele parecia ter me lançado uma informação óbvia, ridiculamente óbvia, como se não entendesse minha inércia, e tudo o que consegui foi endireitar minha postura.

-Está... Você está delirando!- Exclamei fingindo um riso de escárnio que mais soava hipócrita.

-Ah, então eu estou delirando? -Zombou. -O homem desaparece sem vestígio algum, coincidentemente na época que vocês se "mudaram" -Gesticula aspas- Mudança essa que mais parece uma fuga, aliás...
-Pausa esperando alguma resposta, mas não pude dizer nada.- Todo esse mistério e exitação sobre ele e seu cuidado ao falar sobre si mesma praticamente me ofendem, não tente negar, é insultante, Julieta.

Meu nariz ardeu e as extremidades dos meus dedos estavam gélidas, era como se eu estivesse entregue e completamente vulnerável na presença dele. Não tinha mais culpa para fingir não sentir, nem ego para alimentar, tampouco a pose de alguém superior ao traidor que ele foi, era agora uma conversa entre um mentiroso e uma assassina.
Nunca me importou o fato de eu ter agido em legítima defesa ou qualquer um desses termos jurídicos, geralmente esse é o tratamento que se presta a uma pessoa que matou outra, posso carregar essa mágoa pelo resto da vida, mas eu ainda era melhor que o meu pai, esse era o meu álibi, sempre foi.
Senti que aquele silêncio latejante iria me atormentar até que eu dissesse alguma coisa.
-É... Acho que você me pegou. -Me rendi como se eu tivesse atirado contra meu próprio pé.

-Por que sempre faz isso?-Perguntou sereno, contudo, incrédulo.

-Isso o quê?

Desviei o olhar imerso em cansaço para o veslubre que me restava do espelho e da linda mesa, tudo para não ter que continuar o confronte, pensando ainda em salvar o meu orgulho miseravelmente ferido, ainda no meu esforço ridículo de não parecer tão vulnerável quanto já parecia.

-Foge! Por que você Foge?!- Vociferou se aproximando.

Agarrou os meus ombros com um semblante impaciente, perto o bastante para sentir a respiração e o hálito quente.
Se eu ignorasse completamente tudo o que nos comprometia, desabaria sem hesitar sobre seu peito e choraria como se apenas estivesse lembrando de algo triste, eu o faria se ainda acreditasse no antigo Romeu.
Eu juro que procurei em seus olhos, que agora me testavam, qualquer vestígio do rapaz que fazia parte daquela ilusão bonita sobre ter uma vida normal e a baboseira toda.
Não encontrei.
O Romeu que está na minha frente é o único que existe e nada que eu ao menos tente fantasiar vai mudar isso, cansada, ergo a palma das mãos em sinal de desistência.

-Ah, pelo amor de Deus... -Supliquei- O que você quer de mim?! -A voz falha, quase inaudível.

-Era a vida da minha mãe e a minha ou a dele...- Continuei- DELE! Eu juro que já senti mais culpa antes de saber que ele queria me vender. -Disse quase rugindo-

Romeu agora parecia querer que eu apenas falasse, inibiu o olhar de cobrança, como se estivesse pronto para me segurar ou lidar com a minha dor por mim. Estava tendo o que queria, minha rendição, minhas explicações, me pergunto o que aconteceria depois, já que não há segredos, não mais.

-Eu não devia me sentir tão mal, certo? Na verdade... -Suspirei- Ainda não sei o quão mal eu me sinto, não sei que sentimento é esse.

-Eu não sou melhor do que você, Romeu -Senti algo semelhante a uma corrente apertar a minha garganta- Talvez só tivesse sido mais fácil para mim culpar outra pessoa.

Como se eu voltasse a respirar, o ar me pareceu mais suave, meu corpo mais leve, e ele alí, prestando atenção em cada palavra.
Imaginei como se tivesse acabado de contar tudo isso a sua antiga e inocente persona, imaginei ele se espantando e fugindo, talvez passando a me evitar a fim de não se envolver em encrenca ou outras alternativas mais ousadas como continuar sendo meu amigo em meio a essa catástrofe, bem, eu nunca vou saber, a verdade é que estou conversando com alguém suspeito, mas que sei que não vai fugir, nem fingir que nada aconteceu, ele simplesmente está alí, igualmente envolto e afetado.

-Se você queria uma confissão, aqui está.

Ele continuava em silêncio, alfinetando a minha impaciência.

-Por que está fazendo isso? -Perguntei irritadiça.

-Achei que você entenderia de uma vez que não é um monstro como se julga ser, achei que entenderia que em outras circunstâncias, seria alguém que encantaria quem quer que conhecesse, você não é mentirosa, não é perigosa, não é má, não é insensível... -Pousou cada mão em minhas bochechas suavemente-

Naquele momento, pareceu que ele decifrara toda a natureza da minha dor, como se me conhecesse melhor que eu mesma, embora eu entenda que meus pensamentos nem sempre são confiáveis ou seguros, me senti uma tola por precisar que outra pessoa me dissesse.
Seus dedos deslizaram pelas minhas orelhas, depois pela minha nuca, foi quando ele me abraçou, eu não esperei por aquilo, mal sabia se deveria corresponder ou não, eu precisava ardentemente daquilo, a ciência de que alguém me entendia e que estava tentando me ajudar, mas eu não o conhecia, estava fraquejando mas era um detalhe que praticamente sapateava na minha cabeça.
-Sou eu, Julie... Ainda sou eu. -Ele afirmou silenciando os meus devaneios.

Ambos cheios de segredos e estes finalmente sacados como cartas sobre uma mesa de baralho. Não fazia sentido mentir, não fazia mais sentido desconfiar um do outro.

Relaxei o meu corpo, aproveitando o calor daquele abraço e retribuí. Sim, eu o conheço.










































hMMMMMMM...
O capítulo de hoje eu dedico especialmente a @delyy11 , por sempre comentar e apoiar a minha história♡
Aproveito também para agradecer pelas 5k leituras, estamos tomando um alcance que eu jamais imaginei, muitíssimo obrigada!

Romeu e Julieta •Leonardo DiCaprio•Onde histórias criam vida. Descubra agora