18 - Um capítulo sobre bolo

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-Está incrível...-Romeu ensaiou uma satisfação que não me convenceu.-Você é um sucesso, Julie.

-O que há de errado?- Perguntei roubando-lhe o garfo e um pedaço da sua fatia.

Sal, eu usei sal ao invés de açúcar.

-Meu Deus isso tem gosto de...-

-Não se atreva a completar essa frase!-Me interrompe abruptamente.

-Não posso deixar que coma isso.-Eu disse tirando o prato da sua mão.

-O que é isso? Não seja ridícula, é a melhor coisa que eu comi na vida, olha só- Outra grafada, definitivamente um narcisista.

-Pare com isso, minha nossa, eu consegui te deprimir ainda mais, já está se torturando.-Digo colocando o prato com seja lá o que aquilo era na pia.
-E agora também estou triste por que joguei ingredientes no lixo.

Estava com o orgulho ferido, cozinhando mal na frente de um homem, isso é como um piloto não conhecer um painel de controle. Não é machismo, só frustrante.

-Podemos comprar uma casa, dar uma namorada ao luke e viver deprimidos para sempre. -Respondeu.

Acredito que na cabeça dele não soaria tão pesado assim.

-Romeu, não tente fazer piadas, querido. Pelo menos não nos próximos dias.

-Desculpe, estou enferrujado.

Ele estava se esforçando tanto, odeio não saber o que fazer.

-Mas eu tenho certeza que se você soubesse que era sal...-Fez um gesto italiano, indicando que ficaria melhor.

É claro, se eu soubesse a diferença visual entre sal e açúcar. O que me fez pensar em como consegui fazer um bolo sem provar.

-Ah, sim, com certeza.

-Vou fingir que você não fez isso de propósito para me castigar.-Dramatizou.

-O que? Acredite, querido, se eu quisesse te castigar, colocaria arsênico ao invés de sal.

-E por que não fez isso, "querida"?-Perguntou cruzando os braços.

-Porque eu não te odeio.-Respondi.

-Gosta de mim, então?-Perguntou provocativo.

-Posso gostar...-Respondi no impulso de tentar provoca-lo de volta, mas soou muito diferente de como gostaria, nesse momento me sinto nua, mas não retiro.

Ligo a torneira para lavar o prato, procurando não demonstrar o constrangimento, mas Romeu, que estava encostado no balcão, desliga, puxando minha atenção de volta para si me conduzindo pelo pulso sutilmente para sua frente.

-Pode repetir?-Me pede.

Ele me fitava com aqueles olhos, que mesmo cansados, agora esperavam por alguma coisa. Avermelhados, mas o azul da íris continuava impecável.
Eu não gostava de confronto, não tinha medo disso, mas ainda não gostava. Meu coração parecia tropeçar entre as batidas.

-Repetir o quê?-Protelei.

-Diga novamente que gosta de mim.-Disse direto como sempre.

-Eu não disse isso.

-Então não gosta?-Provocou.

Não posso mentir, não consigo mentir.
Sequer sei o que é real.
Sequer posso traduzir o que sinto.

-Eu também não disse isso.-Respondi quase num sussurro, acanhada, esperando que ele soubesse ler as entrelinhas, para que eu não precise passar pela tortura de me explicar.

-Eu sei...-Respondeu como se estivesse constando algo para si, satisfeito, visto o pequeno sorriso que se formou no canto de sua boca, que parecia incrivelmente atraente agora, como nunca reparei?

Romeu, me puxou para mais perto, prontamente acariciando minha bochecha e afastando meu cabelo para atrás da orelha e juntando as nossas testas.
Eu não consegui me afastar, era como se uma corda invisível nos prendesse, e também não era como se eu quisesse me afastar.

-O que está fazendo?

-Digamos que eu queira muito beijar você...-Sua voz estava mais grave devido ao sussurro, o que estava me convencendo ainda menos a me afastar.

-E..?-Pedi pela conclusão.

-Eu quero saber se posso fazer isso, Julie.

Fiquei em silêncio, nada faria qualquer palavra sair da minha boca nesse momento.

-Afaste-se de mim se não quiser que eu faça isso.

Aquele esforço, aqueles olhos, aquele toque, aquela voz, aquele homem.
Estavamos próximos o bastante para que nossos narizes se encostassem, a apenas centímetros dos lábios um do outro.
Me surpreendi por não conseguir sair, ou melhor, não querer sair. Não posso nomear tantos sentimentos, tampouco conter a curiosidade de conhecê-los.

Não me afastei.

Romeu me presenteou com mais um sorriso de canto, e me puxando suavemente pela cintura, deu fim àquela miserável distância, finalmente me beijando.
Seus lábios eram macios e me confessavam seu desejo.
Era um beijo doce e apaixonado, não demorou para que nossas línguas começassem a dançar juntas e um incêndio começar dentro de mim.
Amaldiçoei a falta de ar por nos obrigar a parar, mas tinha consciência de que se não fosse por isso, não tomaria decisões por mim, nada racional se passava pela minha cabeça e por um momento tentei adivinhar no que Romeu estaria pensando.

Se aquilo era um erro, não me importava, embora fosse a coisa mais egoísta que eu poderia estar fazendo no meio desse fogo cruzado.

Nos fitavamos, esperando uma palavra do outro como dois idiotas e as testas juntas como dois confidentes.

-O que foi isso?-Pergunto um pouco ofegante e incrédula.

-Apenas um terço do que eu sinto por você, Julie?-Sua voz continuava rouca e convidativa. -Espero que você tenha entendido por quê eu não posso te perder.

Seus olhos mesclavam seu humor abatido e desejo. Me olhava como se não quisesse me perder de vista. Implorando pela minha certeza.

-Acho que posso entender.-Ensaiei uma resposta.

-Eu quero que esteja certa disso.-Retrucou.

-Como vai fazer isso?

-Vou te mostrar... Se você deixar.-Não sei o que ele planeja, mas estou curiosa o bastante para me arriscar.

-Me mostre.




























































Postei e saí correndo.

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⏰ Última atualização: Jul 02, 2023 ⏰

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