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Pensei ter ouvido os latidos do Luke no meio da madrugada, cogitei levantar, mas meu corpo estava abraçado pelo cobertor que me protegia do frio e meus olhos estavam tão pesados que mal se abriram, desisti julgar ser justo dar uma olhada quando tudo se aquietou e voltei a dormir alguns segundos depois.

Agora, finalmente desperta, com a luz do sol acariciando meu rosto pela fresta da minha janela, levantei, e após todo o ritual matinal, desci. Eu estava mais leve do que nunca e amei isso, depois da conversa com Romeu, apenas trocamos um "Boa noite" e sorrisos de cumprimento, sem hesitações ou um espectro de ter algo sobre o outro que não saibamos, é o bastante para, ao menos, parar de evitá-lo e facilitar as coisas.

Sem sinal de Davi ou Romeu, diferentemente das outras manhãs, apenas Luke rodopiando em torno de si e me rondando como se estivesse feliz por me ver, acariciei o doce animal e fui até o quarto de mamãe, onde ela não estava.
-Mãe?!- Chamei enquanto caminhava pela casa procurando por ela.

-Aqui!- Ouvi ela exclamar de volta, a voz era distante, achei ter vindo da cozinha e segui.

Adentrei a cozinha visualizando uma zona total, mamãe estava sentada no chão, com as portinhas do pequeno armário abertas, organizando as panelas por utilidade: frigideiras sobre frigideiras, caçarolas sobre caçarolas e assim por diante.
O fogão estava limpo, mas o balcão estava repleto de pires e pratos, mamãe tinha mania de organização quando as coisas saiam do controle, eu não precisava checar seu semblante para entender que estava ansiosa, eu, por exemplo, devo estar em estado de negação e uma hora vou acabar surtando.
-Bom dia, Julie- Minha mãe pronunciou enquanto guardava uma chaleira no canto do armário.

-Bom dia, mãe...- Respondi passando meus olhos pela bagunça e sentando no chão ao seu lado.

-Está tudo uma bagunça, quanto mais eu arrumo, mais as coisas saem do lugar!- Reclamou movendo as mãos freneticamente, simulando nervosismo.

-Você acha?- Perguntei, as coisas nas mãos de mamãe raramente teriam oportunidade de serem bagunçadas, para ela, uma fina camada de poeira pode prever um apocalipse. Eu sabia que ela mesma estava procurando bagunça pelos cantos, nada estava realmente bagunçado. -Passei pela sala e vi tudo tão arrumado...

-Claro que está, eu arrumei!- Vociferou.

Em todo esse tempo, não lembro da última vez de ter visto ela tão sem eixo, até ontem, era um perfeito exemplo de autocontrole.
Ao ter percebido o próprio tom de voz, arrumou uma mecha avulsa para atrás da orelha, tomou folego e devolveu as panelas para o armário.

-Eu preciso parar...- Ela comentou.

Eu não soube o que dizer, todos nós estamos lutando para não perder a cabeça, afinal.
Pensei em pedir para ela ir se deitar ou comer algo gostoso e me deixar arrumar tudo, mas se eu tocasse numa daquelas panelas, levaria uma bronca memorável, conheço bem essa mulher.

-Para onde foi todo mundo?- Tentei mudar de assunto.

-A última coisa que ouvi foi que aqueles dois foram ver a mãe de Romeu, só ficaram uns homens mal encarados lá fora.- Gesticulou com o queixo para a janela.

-Que homens?

Levantei para alcançar a vista da janela e vi um grupo de homens de semblante sério que conversavam entre si, pareciam mais velhos, mas eram fortes e alguns eram até grisalhos.

-Quem são eles?

-Davi disse que são da família dele... Julieta, minha filha, quando eles chegaram eu peguei um martelo e corri louca pela casa achando que era o fim. -Soou tão engraçado que deixei escapar um sorriso de canto de boca.

Romeu e Julieta •Leonardo DiCaprio•Onde histórias criam vida. Descubra agora