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Julieta

Essa definitivamente seria a última noite que eu pretendia ser "salva" ou depender da compaixão daquele traidor, já basta a situação que estamos, eu não vou dar uma de coitadinha na frente dele, não mais.

Acordei inspirada, um sentimento de determinação que não sentia há muito tempo e quero que continue assim. No momento que os raios do sol invadiram meu quarto pela janela, saltei da cama e dei algumas voltas pelo cômodo, não me preocupei em contar quantas foram, mas o bastante para pensar no que eu faria, deve haver algo, com certeza. Tomei banho, vesti uma calça cintura alta jeans de lavagem levemente clara e um cropped preto que deixava meus ombros a mostra, nele estava escrito "Damn Marx" em vermelho e letra média centralizada, caçoar de socialistas, onde quer que estivessem, era divertido para mim, não que eu me importasse muito, mas ainda era divertido. Abri a porta com cuidado para garantir que o corredor estava vazio, deixei para calçar os sapatos quando tivesse certeza que em nenhum dos quartos ouviram meus passos, atravessei na ponta dos pés e revirei algumas caixas que ainda estavam na sala para procurar algum livro que pudesse ler, encontrei "Orgulho e Preconceito", estava para ler esse há séculos, agora creio que vou ter todo tempo do mundo.
Eu sabia que ia ter de confrontar a presença das pessoas que moravam comigo, a única que não me incomodava era minha mãe, mas mesmo assim, aquele silêncio e a sensação de não estar numa realidade deprimente por conta da leitura era uma das melhores vivências.

Devem ter se passado 1 ou 2 horas de impecável silêncio, poderia passar muito mais tempo lendo, até começar a ouvir passos pelo corredor, meus ombros enrijeceram, tentei continuar lendo mas não pude prestar atenção em mais nenhuma palavra, pelo menos não até saber quem vinha, permaneci parada e quando seja lá quem fosse finalmente adentrou a sala, virei uma página do livro, como se eu, de fato, estivesse lendo.
-Ah... bom dia...
Uma voz preguiçosa, presunçosa... ninguém alí era tão indiferente quanto Davi.
-Bom dia.
Revidei, procurando ser o mais seca possível e tentando barrar qualquer brecha para uma conversa.
Ouvi ele apertar o passo até atrás da poltrona que eu estava e roubar o livro das minhas mãos.
-Ei!- Exclamei.

-Silêncio, esquentadinha, tenho perguntas para você.

Suspirei e cedi, que surpresa, outra frustração.
Não é possível que alguém acorde tão inquieto.

-Pergunte de uma vez e suma da minha frente.

-Bom, digamos que eu dediquei boa parte da noite pensando nas minhas perguntas.

No plural.

-Davi pensando, isso é novo... -Debochei-

Vi ele fingir uma risada antes de começar a falar.

-Quero saber sobre o seu pai.

-Revirei os olhos- Meu pai...

-Não vai ter essa de "Se não quiser falar, vou entender", adianto.

-O que, exatamente, quer saber?

-Que tipo de pessoa ele era?

-Do tipo ruim, próxima pergunta...

-Ow Ow Ow, calma aí, seja mais explícita.

-Ele me trancava no quarto sem comida o dia inteiro quando eu fazia travessuras, era a coisa mais cruel que ele fazia comigo, até porque ele dizia que me amava depois... Nunca acreditei, mas ele não me batia, talvez sirva de alguma coisa.

Eu já era indiferente quanto a essas lembranças, pelo menos achava que era, não me incomodava em falar sobre isso, normalmente me reservava sobre esses assuntos, mas a essa altura do campeonato, mais parece que estamos competindo para ver quem tem mais traumas.

-Já com a minha mãe, se eu seguir a mesma linha de raciocínio que ele, não tinha o mesmo "carinho" que tinha comigo, ele definitivamente não a amava.

-Entendi- Disse satisfeito com -aquela- pergunta.

-Como e por que esse "pega-pega" começou?

-Só posso dizer o que eu sei e não quero contar. -Fingi.

Eu estava disposta a contar, assim, poderia arrancar mais informações e talvez juntar os pontinhos para entender tudo.

-Não seja tão má...

-Sorri- Tudo o que eu sabia naquela época, era que meu pai andava "jogando" e apostando o salário dele, mas um dia, ele chegou em casa gritando aos quatro ventos pelo meu nome, quando eu já estava descendo as escadas, ouvi minha mãe protestar com muita raiva sobre algo que eu não entendi direito...

Certo, talvez eu não estivesse tão confortável com o rumo que aquela conversa estava tomando, mas eu não tenho nada a perder, não preciso me conter mais.

-Então, meu pai sacou um revolver para ela e eu congelei, ele não ia hesitar em atirar nela, bastava querer. Eu tentei me fazer de desentendida e desci as escadas perguntando o que queria comigo, ele puxou o meu braço  e eu chutei ele, -Ri- Não me arrependo, foi engraçado...

Davi exibia agora um semblante sério, sério demais para ele.

-Meu pai soltou o revólver e eu peguei toda desajeitada... Nessa hora...

Eu já não sabia como ia contar, certo, eu não quero mais fazer isso.

-Nessa hora...- Davi repetiu, implorando para ouvir mais.

Levantei e tomei o livro de volta, meus ombros continuavam tensos e minha garganta seca pela ansiedade.

-Ele correu.

-Ei!- Davi protestou.

Eu fui até a porta, não sabia se havia algum lugar lá fora onde pudesse ficar sozinha e me acalmar, mas tudo o que eu queria era sair, Davi continuava a resmungar, não dei ouvidos a nenhuma palavra, para ser sincera, mas antes que eu pusesse as mãos na fechadura, a porta se abriu exigindo Romeu, ele devia estar lá há um tempo considerável, mas tão cedo?
Seja como for, estávamos a centímetros de nos esbarrar, não tive como não reparar seu rosto cansado, mas surpreso ao se deparar com o meu, minha nossa, aqueles olhos me agoniavam de um jeito que nunca vou conseguir verbalizar.

Saí o mais rápido que pude, o ar fresquíssimo da manhã num terreno verde preencheu os meus pulmões, assim, me vi mais disposta ainda a ficar fora de casa.



































Vocês acharam que não ia ter capítulo novo, ?
Gostaram do formato dos diálogos? Me deixem saber, não se esqueçam de votar e comentar!
<3

Romeu e Julieta •Leonardo DiCaprio•Onde histórias criam vida. Descubra agora