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Acordei com o pescoço latejando de dor pois dormi no sofá, ainda estava sentada com Romeu adormecido em meu colo, então dormir na posição da qual estava devia mesmo fazer meu pescoço doer.
Romeu estava respirando de forma pesada, como se não dormisse a dias, imóvel e visivelmente cansado, estava lá a tempo suficiente de eu dormir e acordar.
Eu não sabia o que faria quando ele acordasse, nem como me comportar, a última vez da qual estive de luto mal foi um luto de verdade. Tudo o que eu sabia era que ele provavelmente continuaria frágil emocionalmente como um cristal, e odiaria ser motivo do qual esse cristal rachasse.
Mamãe passou pela sala e eu impulsivamente levei meu dedo a boca indicando que fizesse extremo e absoluto silêncio, um aviso tão ávido que a fez erguer as mãos em sinal de rendição, atravessou o cômodo sem dizer uma palavra, nem sei se ela sabe o que houve, mas aparentou estar surpresa com Romeu em meu colo. Olhei para ele e voltei a acariciar seu cabelo, fios lisos, macios e injustamente loiros, tão vulnerável alí deitado mas tão forte ao mesmo tempo, toda aquela situação estava me afetando mais do que achei que afetaria simplesmente porque estava afetando a ele, isso é claro, mas não achei que sentiria essa mesma ternura novamente depois de desprezá-lo durante os últimos tempos, parece que nunca aconteceu, ou talvez aquela raiva não fosse real... Acho que, no fundo, nada mudou... Espera, no que estou pensando?
Romeu se mexeu e vislumbrei seus olhos se abrirem devagar, piscando algumas vezes em desnorteio, rapidamente tirei meus dedos de seu cabelo e esperei que ele levantasse. Ele ergueu seu corpo aos poucos até se sentar ao meu lado, ao fazer isso, manteve seus olhos a frente, mas era notável que não olhava para nada, como se estivesse dormente por completo, esperando sua alma voltar.
O silêncio estava me rasgando por dentro, Deus sabe como eu queria dizer algo que acabasse com a sua dor, então arrisquei qualquer coisa.
-Romeu?- Comecei, e ele me respondeu com silêncio.
-Como você está?-Pergunta estúpida.
Coloquei minha mão em seu ombro tentando confortá-lo, até que ele pousou sua mão sobre a minha com certa pressão, ele não disse uma palavra até então, mas quis me fazer saber que aprecia meus cuidados. Então, ele virou seus olhos para os meus, inchados pelo choro e o sono e sem brilho por causa da tristeza, mas me olhavam de forma terna, e aquilo aqueceu meu coração como se estivesse com frio a muito tempo e, de repente, um cobertor macio e quente me cobrisse.
O silêncio se tornou sereno e não mais cortante. Levei minha outra mão ao seu rosto e acariciei sua bochecha, seus olhinhos azuis se fecharam se concentrando em sentir aquilo. Não proferimos nenhuma palavra, mas, de alguma forma, nos comunicamos de claramente, não posso explicar como, apenas aconteceu. Romeu pôs a mão em meu rosto de volta e nossas testas se encostaram, até que ele decidiu finalmente falar algo:
-Julie...-Suspirou. A voz leve.
-Sim?- Respondi prontamente.
-Obrigado, obrigado mesmo.
-Pelo o que?
-Por ter aparecido... E por ter ficado. Quero dizer, -forçou um sorriso- não que fosse escolha sua ficar, mas obrigado por ter me deixado desabafar em você quando poderia muito bem ter me mandado pro inferno. -Brincou e nós rimos brevemente-
-Você não muda mesmo...-Eu disse em meio ao riso-
-Quer que eu mude? -Perguntou provocativo- A forma que aquela tristeza se mesclava ao seu cinismo era estranhamente acolhedora, como se ele me garantisse que estava tudo bem agora.
-Não... Esse é o seu jeitinho.
-Gosta dele?
-É, até que você é um cara legal.
Ele riu levemente.
-Julie...
-Você está bem?-O interrompi.
-Vou ficar, -Me fitou- Vou ficar.
-Tem certeza?
-Sim. -Respondeu prontamente.
-Como?
Literalmente tudo o que nos rodeia era uma montanha russa sem operadores, ele mencionar a palavra "certeza" era como zombar de tudo.
-Porque essa é a última vez que perdi alguém que eu amo. -Disse firme, ainda me fitando- Se acontecer, vai ser apenas depois que eu estiver a sete palmos do chão e não puder fazer nada nem por mim mesmo. Eu juro. -Jurou com uma certa fúria, querendo que eu tivesse certeza daquilo também.
-Fala do Davi? -Imaginei por serem primos e a única familia de Romeu agora.
-Davi é um bandido, ele se vira. -Brincou novamente.
-Sei...-Ironizei.
-Estou falando de você, Julie, e quem quer que seja importante pra você também.
-Você me ama? -Perguntei em tom sarcástico, já que o que ele acaba de dizer soa como mais uma das suas cantadas vazias.
-Como se você não soubesse... -Romeu respondeu e foi honesto demais para achar que foi uma brincadeira. Dessa vez, eu não sabia mais o que dizer, nem se gostei de saber, nem nada. Tinha adrenalina demais, o bastante para obstruir minha garganta.
Ele notou o meu susto, e como sempre, Romeu torna tudo mais intimidador do que já é, sem pena.
-Amo você como você tá imaginando, como os caras amam as donzelas nos livros que você gosta de ler. Li alguns durante a mudança.
O silêncio o incomodou.
-Mas é como eu disse, não importa se você me ama de volta ou aceita que eu te ame, eu te amo, é o que eu sei e vou agir como tal.
De novo, o silêncio o incomodou.
-Ironicamente, Julie, Você nunca fala nada sobre isso, eu acho que você me ama também e não quer admitir. -Brincou.
Estreitei os olhos reagindo a sua presunção, fiquei indignada.
-Você já está bem melhor, não é? -Perguntei contendo meu stress.
-Vou ficar, me ajudaria se eu pudesse comer um doce... -Fez biquinho.
-Ótimo, vou fazer um bolo. -Vi alí uma oportunidade para fugir daquele assunto.
Levantei e caminhei para a cozinha quando ele pediu:
-Faça de chocolate, por favor. -Completou obviamente tentando me provocar.
Romeu ainda está abatido, faz essas coisas para disfarçar suas verdadeiras emoções, isso eu posso tolerar, mas a forma que ele faz questão de jogar na minha cara que me ama como se estivesse certo que o amo da mesma maneira me irrita especialmente. Quanta presunção.





























Sentiram minha falta?
Estamos de volta, senhoras e senhores.

Romeu e Julieta •Leonardo DiCaprio•Onde histórias criam vida. Descubra agora