Capítulo 10

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Mais à noite, jantámos na companhia do Lourenço, que iria ficar para dormir. Jantámos todos com a exceção da minha mãe, que ficara a dormir no quarto. Ela tinha de descansar e de se acalmar.

O jantar soube bem, mas fiquei logo cheia. ao início da refeição. Não tinha tido muita fome nos últimos tempos. Comecei a ver a Mariana a levantar-se da mesa com rapidez e a correr para a casa de banho, e todos nós estávamos preocupados com ela porque ninguém sabia o que se passava. Com era óbvio, fui a primeira a ir atrás dela para ver o que estava a acontecer.

- Mariana? Posso entrar? - questionei, reparando que a porta que separava o corredor da casa de banho estava fechada.

Não obtive respostas, mas consegui ouvir sons semelhantes a vómitos. Vómitos prolongados, longos. Entrei de rompante na espectativa de tentar ajudá-la e de saber o que se passava. O seu corpo estava inconsciente, deitado numa poça de um líquido proveniente do seu estômago, que rodeava toda a casa de banho. Um dos seus braços segurava a banheira e o outro fazia pressão contra o seu estômago, para estimular o vómito.

- Mariana!!! Mariana, acorda! - gritei e instantâneamente desatei a chorar com o pânico que sentia. Ela estava acordada, mas completamente confusa, à beira da inconsciência. Ela sabia que estava mal, mas não percebia o que sentia. Segurei no seu pulso coberto de vómito e gelado que fazia o seu estômago contorcer e fiz com que parasse. Rapidamente chamei o meu pai.

- Pai! Ajuda-me!

Senti a sua presença por trás de mim, e afastei-me para que ele pudesse fazer alguma coisa. O meu pai perguntou-me o que se tinha passado, mas eu não encontrava nenhuma resposta à sua pergunta. Apenas sabia que ela estava mal. Rapidamente reparámos que a Mariana tinha perdido a consciência. Levantá-mo-nos do chão da casa de banho e prepará-mo-nos para irmos ao hospital. Despi em instantes o meu pijama e vesti uma camisola azul, a que se encontrava mais à mão, e umas calças de ganga. A minha irmã estava muito fria. Peguei nela e com a ajuda do meu pai, colocá-mo-la dentro da banheira. Fiz-lhe sinal para que saísse e me deixasse dar-lhe banho. Enquanto a água se estabilizava numa temperatura quente, despi-lhe toda a roupa que ela continha. Lavei todo o seu corpo e acabei por lhe vestir a primeira roupa que encontrara. Depois disso, chamei o meu pai e ele levou a Mariana para o carro. Hesitei em chamar a minha mãe, mas acabei por a deixar dormir. O Lourenço veio sempre connosco.

Fomos durante toda a viagem calados e sempre de olho na Mariana, na esperança de que acordasse. O carro parou e pude observar através da janela que tínhamos chegado ao hospital.

Estava a acontecer de novo. Da outra vez fora pela Beatriz, e desta pela Mariana. Porque não me aconteciam estas coisas a mim? Era tão injusto. Isto matava-me mais a mim, do que se acontecesse realmente comigo. Como deve ser fácil de imaginar, esta situação para mim cada vez se tornava mais complicada. Eu estava a perder tudo, de uma vez.

O Lourenço dispôs-se sempre a ajudar-nos em tudo o que fosse preciso. Disse-lhe várias vezes que não precisava de estar a aguentar tudo aquilo. Ele não tinha de o fazer. Não tinha de usar o seu tempo a suportar as crises da minha família. Mas mesmo assim, fez tudo, como ninguém faria.

Já no hospital, ela acordou. Fomos atendidos por um médico que tinha idade para ser nosso avô. Ele era daqueles médicos que passa a consulta inteira a olhar para o computador, sem sequer ver a cara do paciente, e era bastante arrogante. Eu sentia-me muito arrependida em explicar ao médico a história da minha irmã Beatriz. Tive de explicar porque o facto de a Mariana estar assim podia ter a ver com a morte dela. O médico disse que provavelmente toda a situação se devia aos nervos que ela sentia. A perda da fome e os vómitos aconteciam nestas situações. Ela estava de facto nervosa, e tinha todas as razões para tal. Quando percebi que não era nada de grave, fiquei tão feliz como uma criança. Estava mesmo feliz. Dei-lhe um abraço que pôde ser sentido até por quem não estava a ser abraçado.

Despedimo-nos do médico e pusemo-nos no carro.

Sempre que eu puder voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora