Dia após dia, parecia que estava a viver outra vida. Parecia que tinha 90 anos e que já tinha vivido tudo. É um desespero. Termos 15 anos e passarmos pelas piores coisas...
A brisa do vento tornava fria a atmosfera ao meu redor. O ar não era propriamente frio, mas o vento era.
Por mais dias que passassem, o meu coração continuava duro e impossível de amolecer. Era coberto por uma membrana de cimento espesso e por dentro, um coração normal. Acho que a esse cimento era diariamente dada uma outra camada.
A minha relação com o Lourenço estava estranha. Porque se calhar eu não suportava mais relações. Os meus amigos próximos afastaram-se de mim nessa altura. Eram tão próximos... Claro que ninguém tem que ter paciência para tentar compreender os meus problemas e os seus porquês e consequências, desde que nada disso afetasse a sua vida. Dava-me a sensação que estas pessoas faziam tudo por mim, quando eu não precisava. Mas quando precisava... era isto. Acho que não eram amigos de verdade, mas também que lata... Que amiga era eu se me limitava a viver a minha vida?
O Lourenço veio ter comigo. Sábado à tarde.
- Carolina - cumprimentou-me com um beijo que mais parecia um simples toque de lábios.
- Então?
- Todos os dias sinto que estás mais crescida.
Wow.
- Como assim? Eu sinto-me igual, não estou a perceber - fui sincera mas o comentário dele confortou-me.
- Estás cada vez mais bonita. Não digo isto como namorado. Digo isto como amigo. Estás linda. E a cada dia que passa, tornas-te indiferente a cenas desnecessárias que parecem essenciais no dia a dia de um adolescente. Sei que a morte da tua irmã te trouxe muita tristeza, mas também te deu muita coisa, pelo menos psicologicamente. Foi difícil, eu sei. Mas não sei... acho que te fez crescer em alguns sentidos. Acho que não sei explicar melhor - confessou com medo.
- Eu gosto imenso de ti. Obrigada Lourenço - e beijei o seu pescoço antes mesmo de beijar os seus lábios que há pouco tinham apenas tocado os meus. Foi bom. Tenho a sensação que beijar é uma das melhores coisas da vida. Sabe bem e conseguimos pensar numa vida inteira enquanto sentimos as melhores carícias nos lábios. E eu acho que o amava. E sentia-me bem. E confiava nele.
