Sempre que eu puder voltar

Capítulo 12

A pior semana de testes. Português, História, e Geografia. Segunda, quarta e sexta.

Na segunda-feira apenas me limitei a ouvir música, estando completamente a lixar-me para a escola. Ouvir música deixava-me feliz.

Não ia às aulas, não fazia os testes. Todos os dias recebia mensagens do Lourenço, mas eu não queria de maneira nenhuma sobrecarregá-lo de atenção.

Andava sempre sozinha, e por vezes ia dar voltas à minha rua ou até mesmo à praia. Sempre cheia de saudades da minha irmã, olhava para brinquedos nas montras de lojas conhecidas e em vez de me lembrar dos tempos da minha infância, lembrava-me da morte da minha irmã. Lembrava-me que ela adorava brincar. E eu tinha 15 anos e mesmo assim sentia vontade de brincar com ela. Tinha saudades de tudo, da vida de antes, dos cinco pratos postos à mesa a cada refeição, de repartir tarefas com ela, de fazer partidas à mãe com ela, e de vermos filmes juntas no mesmo sofá, na sala. Essas eram as ocasiões em que trabalhávamos em equipa, e não nos tentávamos "matar". Eram poucas as ocasiões, mas eram ótimas e traziam-me uma felicidade que parecia infinita mas que apenas demorava 3 segundos.

Os rapazes da escola faziam perguntas ao Lourenço, perguntas horríveis, tais como "Então, e a miúda? Aposto que já nem te liga. Qualquer dia aparece nas notícias : rapariga de quinze anos suicida-se por ver irmã morta" e apenas lhe faziam isto para ele chorar, e se sentir culpado. E ele contava-me isto e ligava-me a chorar a pedir para nunca cometer nenhuma loucura porque isso acabaria com ele. Eu não sabia o que fazer, sendo que tinha sete testes em atraso e não conhecia o conteúdo de nenhum deles, e se fosse à escola confrontar-me-ia com esses mesmos testes e com os professores desesperados, e com as bocas dos "colegas" do Lourenço, e com a Andreia e com as minhas amigas mais próximas que nesse momento estavam muito afastadas. Não sabia se conseguia passar por tudo isto sem me magoar.