A Beatriz estava deitada na estrada do final da minha rua. Todos os segundos assemelhavam-se a horas de medo e desespero. O sangue escorria-lhe pela barriga, e os meus olhos enchiam-se de lágrimas irresponsáveis. Desculpa Beatriz. Eu juro que tudo o que fiz foi sem pensar. Foi o espelho destes anos todos. Desculpa pequena.
Os paramédicos chegaram e puseram a minha irmã numa maca com toda a pressa e chamaram por um acompanhante. A Mariana respondeu com medo.
- Eu vou!
- Eu também quero ir! - disse a medo. Mas era verdade.
- Carolina, fica em casa. Por favor.
- Eu quero ir. Eu tenho esse direito. - defendi-me dos meus erros.
- Podemos ir juntas? - a amorosa da minha irmã Mariana implorou, com pressa.
- Rápido! Entrem! - aceitou um dos paramédicos. Obrigada, eu não merecia nem isso.
Entrámos na parte de trás da ambulância e a Mariana tentava ver se a Beatriz respirava.
- Não! Por favor digam-me que isto não está a acontecer! Meu amor, Bea! Olha para mim! - ela estava desesperada. Nunca a vira assim. Não era justo nem para ela nem para a Beatriz, era tudo culpa minha. T-U-D-O. O que ela disse era verdade. Ela odeia-me. Eu não a odeio. Aquilo que escrevi era só um desabafo. Desculpa. Mesmo assim, eu sei que a culpa é minha: bati-lhe.
- Mariana, tu achas que ela vai acordar? Eu não me vou perdoar se...
- Vai correr bem.
- Eu tenho tanto medo... - ao mesmo tempo em que disse isto, comecei a chorar e abracei a minha irmã mais velha. Ela existir foi sempre a bênção da minha vida. Que sorte. Depois lembrei-me. - Temos de avisar os pais!
- Liga-lhes, por favor.
Chamada ON
Mãe : Sim? Carolina?
Eu : Mãe, aconteceu uma coisa. Avisa o pai e venham juntos ter ao hospital da cidade.
Mãe : Calma. Carolina, o que aconteceu?
Eu : Mãe, a Bea teve um acidente, foi atropelada, e não sabemos se vai sobreviver... A culpa foi minha, disse-lhe coisas horríveis. - a minha irmã tirou-me o telemóvel e a chamada passou a ser entre ela e a minha mãe.
Mariana : Mãe, a culpa não foi de ninguém. A mana irritou-se e fugiu. Depois falamos. Despachem-se, por favor.
Chamada OFF
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Sempre que eu puder voltar
Fiction généraleVoltar atrás não é possível, mas é a solução.