Algumas pessoas perdem a cabeça, expulsam para fora tudo o que não aguenta estar dentro da alma. Não sei como, nunca perdi a cabeça. Nunca. Não nesse sentido. Perdi a cabeça no sentido de ser burra.
Tenho 15 anos, sou uma criança, mas já passei por coisas que nenhum adulto deveria ter passado. Tenho uma relação boa com os meus pais, nada de espetacular, mas é boa. Duas irmãs, Beatriz, de 7 anos e Mariana, de 21.
Tudo começou com as minhas irmãs, duas raparigas surpreendentemente lindas. A mais velha, despertou-me sempre imensa admiração, e a mais nova, imensa raiva e inveja. Quando digo isto, custa-me respirar. Tudo o que sentia foi em vão. Foi um desperdício.
A minha irmã mais velha foi sempre a única capaz de reter a minha confiança. A única capaz de ganhar todo o brilho dos meus olhos. Chorar ao pé dos meus pais foi sinal de fraqueza e de ignorância.
Por outro lado, a minha irmã mais nova, foi um raio que chegou ao meu coração. Horas em que a observava com desrespeito por mim própria, com inveja do seu sorriso, com pesadelos no coração. Sou uma irmã mais nova que vale a pena ter. Mas sei ser uma irmã mais velha egoísta, triste e de meter vergonha, como no cair da noite do dia dos meus anos. Insistia em mostrar à Beatriz que eu era a preferida da Mariana. Que no meu aniversário, a alegria da Mariana era eu. A Mariana dizia-me sempre que eu era egoísta para a Beatriz. E era, mas pensar nisso era impossível. Nesse dia, fui a correr para a sala enquanto a minha irmã Beatriz vinha atrás. Lembro-me bem.
- Estás a armar-te para o Lourenço! Ele nunca vai olhar para ti. - gritou ela, de maneira a que o Lourenço ouvisse cada palavra que ela proferisse, ficando corado de uma maneira irremediável. Obrigada Beatriz.
- Bea, cala essa boca e deixa-me em paz. Não fales do que não percebes.- Eu calo-me sim. Percebo mais disso do que tu.
- Desde que desapareças, por mim está tudo bem. - tentei manter a calma.
A minha mãe apareceu.
- Carolina, precisas de alguma coisa?
- Está tudo bem, obrigada mãe.
* 10 minutos depois *
Risos invadiam o meu quarto. O Lourenço estava comigo e fomos verificar o que acontecia. Pedi-lhe para ficar à porta e ele respeitou.
- BEA! SAI IMEDIATAMENTE DA MINHA CAMA! QUE RAIO TE DEU PARA MEXERES NO QUE NÃO PODES?! - enervei-me. Ela estava a mexer no meu caderno, onde estavam escritos todos os meus sentimentos. Lembrei-me imediatamente que lá estava também um texto meu que falava sobre o meu ódio por ela e retirei-lhe o caderno, ela não podia ter lido. - LARGA IMEDIATAMENTE ISSO, NÃO TENS ESSE DIREITO BEATRIZ! ISSO NÃO TE DIZ RESPEITO!
- A mim parece-me que sim! Para de me dar ordens! Se me odeias assim tanto porque é que não mo dizes em vez de escreveres em papelinhos? Também te odeio, sabes? Odeio-te! Quem me dera nunca ter nascido! Só vim para estragar a tua cara de mula e o amor que a mana tem por ti.
Dei-lhe uma chapada que pôde soar no corredor, em que várias pessoas entraram com curiosidade. Desculpa Beatriz, foi sem intenção.
Ela começou a chorar incontrolavelmente e saiu a correr de casa.
- Carolina, tu não tinhas esse direito. - a Mariana encarou-me com desilusão nos olhos, e eu devolvi-lhe um olhar de preocupação. A Mariana foi atrás dela pela rua abaixo. - Beatriz! Por favor querida espera!
Estrondos. Gritos. Todos corremos para o final da rua e encontrámos a minha irmã Mariana rodeada de uma multidão e aos gritos.
- PORQUÊ?! PORQUE É QUE ÉS TÃO EGOÍSTA?! EU TENHO TANTA VERGONHA. A CULPA É TUA! ESTÚPIDA! COMO FOSTE CAPAZ?!
- Eu não sei! Não é culpa minha! Ela não podia fazer o que fez! - defendi.
- E TU, PODIAS? DESAPARECE.
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Sempre que eu puder voltar
Ficção GeralVoltar atrás não é possível, mas é a solução.