Capítulo 6

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Quando acordei, estava deitada na minha cama que em tempos fora também da Beatriz. Os lençóis amarrotados e a minha roupa do dia anterior no mesmo estado aos pés da cama.

Na minha secretária tinha os livros de matemática, pois no dia anterior ao meu aniversário estivera a estudar. A minha média a matemática era bastante alta e eu ia ter um teste neste dia. Obviamente que não estava preparada. Nem para o teste nem para me levantar da cama. Levantar-me significava aceitar a nova realidade.

Esperei que alguém aparecesse no meu quarto. Eu ia ter aulas às 8:30h e eram 8:00h. De repente a minha mãe entrou no quarto.

- Gosto tanto de ti... - e abraçou-me com toda a sua força. Foi do nada. Mas valeu de tudo. Provavelmente só me abraçou porque perdera a sua outra filha. Agora eu era a filha mais nova. E talvez fosse isso a razão do abraço.

Ficámos abraçadas durante cerca de 10 minutos. Levantá-mo-nos da cama e ela deixou-me sozinha para me vestir.

- Podes ficar em casa hoje, se assim entenderes. - dizendo isto saiu, sem me dar tempo para responder. Eu preferia ficar em casa, mas se assim o fizesse, ficaria o resto do dia a chorar e a pensar na má irmã que fui. Então dirigi-me à casa de banho e tomei banho para ir para a escola. Ia chegar bastante atrasada, mas pelo menos ia.

A banheira estava fria, mas a água estava quente. Despi a minha roupa interior e entrei. As minhas pernas ainda continham areia e marcas do sal, por causa da praia. Mas rapidamente tudo isso desapareceu com o sabão e com a água. Lavei o meu corpo e o cabelo. Depois limpei-me e não sequei o cabelo. Apenas o amarrei muito despreocupadamente. O frio invadia o meu corpo e além disso, a minha cabeça. Peguei na primeira blusa que encontrei, preta. Depois vesti umas calças de ganga muito claras, e uma camisola cinzenta, bastante quente. Não comi nada, simplesmente não tinha fome.

8:52h. Matemática como primeira aula. Entrei e pedi desculpa pelo atraso e o professor olhou-me com grande irritação.

- Aqui tem o teste.

O teste. Esqueci-me. Peguei no teste e consegui resolver apenas algumas questões, outras foram deixadas em branco simplesmente. Fui das primeiras a acabar o teste, então apenas baixei a cabeça e coloquei-a por cima dos meus braços cruzados. Consegui sentir uma pressão por cima de mim. O Lourenço, que estava na outra ponta da sala, olhava-me fixamente e eu devolvi-lhe o olhar. Consegui ler nos seus lábios um "Então? " e apenas fechei os olhos à espera de que tocasse para a saída. Tocou finalmente e recebi uma mensagem da minha irmã:

Xx : Mariana ♥
Foste para a escola? Podias ter ficado comigo... correu bem o teste?

Rapidamente respondi "Desculpa... Achei melhor vir. Correu mal, mas não me importa agora. Beijinho, adoro-te".

Saí da sala e a Andreia veio ter comigo super feliz e a querer contar-me muitas coisas, mas eu desprezei-a.

- Agora não consigo Andreia. Estou mal disposta.

- Não consegues o quê? Estás com uma cara pior que sei lá o quê e não me ouves, queres que faça o quê? Que se passa?

- Beatriz. - saí de ao pé dela e ela insistiu em vir atrás de mim.

- Eu sei que não gostas dela e blá blá blá, mas fogo não precisas de falar assim! - insistiu, indignada.

- Eu adoro-a. - contrariei.

- Só podes estar a brincar...

- A Beatriz morreu. - fui demasiado direta. Obviamente que ela ficou pálida e sem resposta. Mas eu não esperei, e saí, em direção ao cacifo. De repente apareceu o Lourenço.

- Como estás?

- Não sei o que dizer Lourenço, desculpa.

Ele não insistiu para que falasse, e deu-me um beijo. Um beijo forte, para me transmitir segurança. Após alguns segundos o meu telemóvel tocou.

#CHAMADA ON#

"Filha, estás bem?"

"O teste correu super mal. Podes vir buscar-me?  Não quero ficar aqui muito tempo."

"Vou a caminho, beijo."

"Beijo."

#CHAMADA OFF#

Quando desliguei, o Lourenço beijou a minha testa e perguntou se queria companhia. Eu apenas agradeci, mas disse que preferia ficar sozinha, e ele respeitou.

O carro da minha mãe já estava na estrada.

Sempre que eu puder voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora