Capítulo 4

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Às 20:30h o Lourenço ligou-me.

#Chamada ON#

"Carolina?"

"Olá Lourenço, fala."

"Estou preocupado contigo. Eu vou ter contigo ao hospital. Quero ver-te e preciso de estar contigo neste momento."

"Mas não é preciso... estou com a minha família."

"Estou a caminho."

#Chamada OFF#

Que amor. Não me farto de lhe agradecer mentalmente. Adoro.

A Mariana estava nervosa. Mas desta vez já não podia esconder. As mãos dela tremiam. Era a minha vez de falar com ela.

- O Lourenço vem cá ter. Foi super querido e vem ter connosco.

- Ele é amoroso. - disse esboçando um sorriso.

- Como estás? - acabei por questionar.

- Não estou. Carolina, sei que devia ser responsável e não devia alimentar o medo. Eu sei que te disse que ia correr tudo bem, mas já não sei... A Bea está mal, está muito mal. É difícil ela sobreviver. Eu tenho muito medo que ela desapareça. Eu não consigo comer nada, custa-me a respirar. Não consigo pensar bem por um segundo. Quando entrei no quarto onde ela está, o que senti foi simplesmente irresponsabilidade. Culpa. Eu amo aquela rapariga e não posso deixá-la ir.

- Não tens de te sentir culpada! A única culpada fui eu. Eu sei que vou levar com as consequências disto. Eu sei. Achas que ainda não pensei em tudo? Eu já pensei! Eu já sei que de agora em diante no meu aniversário vou não só recordar a minha existência como também o dia em que matei a minha irmã mais nova. Para sempre. Vou passar todos os aniversários assim. Sempre. Sempre sem certezas do amor que tínhamos uma pela outra. E vou apagar as velas e esperar que eu me apague também. E vou esperar que tudo não passe de um pesadelo.

Ela manteve-se irritada e ansiosa, mas compreendia-me.

De repente uma figura alta e morena apareceu, acompanhada de um homem mais baixo e preocupado. Eram o Lourenço e o pai, respetivamente. O pai dele dirigiu-se a mim.

- Carolina, já soube o que se passou. O Lourenço quis vir e acho que fez bem. Ele vai ficar contigo, se não te importares... As melhoras minha querida.

- O Lourenço é espetacular. Muito obrigada por terem vindo... é muito importante.

- Eu sei. Beijinhos querida, cumprimenta os teus pais por mim. - deu um abraço ao Lourenço e deixou-o comigo.

Fomos juntos ao exterior do hospital para que eu apanhasse algum ar fresco. Como sempre, ele iniciou a conversa.

- Como é que estás?

- Péssima. Ela vai morrer, de certeza. Não temos hipótese. Sou tão egoísta.

- Foi um acidente. Não te podes culpar por isso. Não podes mesmo. - ele falou e eu suspirei. Passaram-se cerca de dois minutos de silêncio.  Tentou mudar de assunto. - Tenho saudades tuas. Hoje era suposto ser um dia feliz, o dia do teu aniversário.

- Pois... esquece lá isso. - contrariei-o sem o observar.

- Podes só por um segundo olhar para mim? - obrigou-me. Eu olhei o fundo dos seus olhos brilhantes e ele falou. - Tu não tens culpa. Mentaliza-te disso. Foi um a-ci-den-te. - depois de dizer isto deu-me um beijo na testa, o que me acolheu  bastante. Eu puxei-o para mim e abracei-o. O seu perfume era intenso. Todo aquele cenário deitou-me abaixo e comecei a chorar, pela milésima vez daquele dia.

Sempre que eu puder voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora