O indivíduo e a sociedade no capitalismo

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Sem dúvida você tem escutado que na sociedade atual uns dependemos dos outros, que a sociedade deve zelar pela satisfação das necessidades da comunidade, do bem estar de todos os indivíduos. Mas é isso que observamos na sociedade atual?

Você já se perguntou porque na agricultura se utilizam milhões de toneladas de agrotóxicos que envenenam os trabalhadores, os alimentos, os animais, os rios, os mares, o ar e os seres humanos que consomem estes alimentos, ameaçando a existência da vida no Planeta? Porque os recursos naturais do planeta Terra continuam sendo destruídos se é de interesse de todos a sua preservação? Será que o uso massivo de agrotóxicos e a destruição do Planeta são de interesse da sociedade?

Estas questões, sem dúvida, nos mostram que o bem estar social não é objetivo dos atores que impulsionam o uso de agrotóxicos e a destruição dos recursos naturais da nossa casa o planeta Terra. Mas por que é assim? Como explicar estas atitudes à luz da relação entre os interesses individuais e coletivos? Visando desvendar as verdadeiras motivações destas atitudes, vamos filosofar a respeito destas perguntas.

O desenvolvimento das sociedades e dos indivíduos passou por várias etapas históricas, no interior de cada uma destas etapas históricas se desdobrou uma determinada relação do indivíduo com a sociedade. Nas sociedades menos desenvolvidas, no início da história da humanidade, o homem possuía conhecimentos, instrumentos e formas de organização tão precárias e simples, que sua existência individual dependia da existência coletiva, pois era a única forma de sobreviver, isto é, de obter os alimentos e meios de vida. Com o desenvolvimento da tecnologia, da ciência e a divisão do trabalho, abriram-se a possibilidade de produção de enormes quantidades de riqueza (bens e serviços), a partir deste momento a existência individual deixou de se subordinar à existência coletiva.

No capitalismo, caracterizado pelo intenso desenvolvimento da ciência, tecnologia e divisão do trabalho como nunca antes imagináveis, a conexão indivíduo e sociedade é rompida. Esta conexão se modifica na medida em que a vida social passa a ser predominantemente marcada pela propriedade privada, quando a razão da existência pessoal deixa de ser a articulação com a vida coletiva, para ser o mero enriquecimento privado. Nesta sociedade, o dinheiro passa a ser a medida e o critério de avaliação de todos os aspectos da vida humana, inclusive os mais íntimos e pessoais.  Os indivíduos passaram a considerar todos os outros indivíduos como adversários. O capitalismo transformou a vida cotidiana em mera luta pela riqueza.

A partir da reflexão anterior é possível responder de forma genérica às perguntas realizadas ao início do capítulo: Por que na agricultura se utilizam milhões de toneladas de agrotóxicos que envenenam os trabalhadores, os alimentos, os animais, os rios, os mares, o ar e os seres humanos que consomem estes alimentos, ameaçando a existência da vida no Planeta? Porque os recursos naturais do planeta Terra continuam sendo destruídos se é de interesse de todos a sua preservação? A resposta pode ser elaborada da seguinte forma: o capitalismo deu origem a uma sociedade na qual as necessidades humanas (coletivas e individuais) estão subordinadas às necessidades de enriquecimento privado. A sociedade se reduz a instrumento para o enriquecimento privado dos burgueses. A geração social da riqueza e sua apropriação individual por uma pequena camada da sociedade se concretiza na ideia do individualismo, deixando de ter responsabilidade e preocupação com o outro, seja ele um ser humano, um grupo social ou a natureza.

Ainda que somente uma pequena fração da sociedade se aproprie da imensa riqueza gerada pelos trabalhadores, ganhar dinheiro se tornou a razão central da vida de quase todos os indivíduos, deixando de lado a dimensão coletiva. O princípio de responsabilidade, em particular, o cuidado com o outro, é uma preocupação não presente na maioria das nossas atitudes devido ao individualismo gerado numa sociedade em que a produção da riqueza é social e sua apropriação ocorre apenas por parte de alguns indivíduos, pro- cesso em que o antropocentrismo tem sua máxima expressão.

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