Trabalho e alienação

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Os animais, diferentes do homem, têm sua ação caracterizada, sobretudo, pelos reflexos e instintos, visando a sua defesa, a procura de alimentos e a obtenção de abrigo. O animal não trabalha mesmo quando cria resultados materiais com sua atividade, pois sua ação não é deliberada, intencional, e sim instintiva. Já os atos humanos são voluntários e conscientes, deliberados, com intencionalidade. O trabalho humano é ação transformadora, resultado de uma ação dirigida por finalidades conscientes. Inicialmente o trabalho foi a resposta aos desafios da natureza na luta pela sobrevivência. As diferenças entre o homem e o animal não são apenas de grau, pois, enquanto o animal permanece envolvido na natureza, o homem é capaz de transformá-la de forma intencional, ou seja, com um objetivo. Os homens para se reproduzirem devem transformar a natureza, e o único modo de fazê-lo é o trabalho.

Assim, podemos dizer que o trabalho é a atividade humana por excelência, pela qual o homem transforma a natureza e a si mesmo. Por meio do trabalho o homem aprende, transforma a natureza, desenvolve habilidades, a imaginação e relaciona-se com outros indivíduos. O trabalho modifica, ao longo do tempo, a visão que ele tem do mundo e de si mesmo.

Quando um trabalhador não sabe que seu trabalho tem como principal característica gerar riqueza para a sociedade, por meio da criação de mercado- rias e prestação de serviços, deixa de perceber sua capacidade criadora, sua contribuição e importância na produção de todo o que a sociedade precisa. Mas, por que o trabalhador não reconhece seu trabalho como o criador de toda a riqueza – bens materiais - que a sociedade possui?

Quando os frutos do trabalho não pertencem a quem os gerou, a quem os produziu, e sim a uma terceira pessoa, não fica evidente quem cria a riqueza. Por exemplo, quando o que um conjunto de trabalhadores produz é vendido pelo empresário - que fica com os lucros dessa produção - o trabalhador não reconhece seu trabalho como o criador de toda essa riqueza. Quando os frutos do trabalho pertencem a outro, e não a quem o produziu, dizemos que o trabalho é alienado.

O objeto produzido pelo trabalho surge como um ser estranho ao produtor, não lhe pertencendo. É o que comenta Aranha, na passagem a seguir:
“... não é apenas o produto que não mas lhe pertence. Ele próprio deixa de ser o centro de si mesmo. Não escolhe seu salário - embora isso lhe apareça ficticiamente como resultado de um contrato livre -, não escolhe o horário, nem o ritmo de trabalho, passa a ser comandado de fora, por forças estranhas a ele. Ocorre o que se chama fetichismo da mercadoria, pois esta assume valor superior ao homem”( 1986, p. 60,).

Assim, podemos dizer que na vida econômica a alienação surge quando o trabalhador, ao vender sua força de trabalho, perde o que ele próprio produziu, transfere para outro o que é seu; o dono do capital, o patrão, retira do trabalhador a riqueza por ele produzida. Portanto, o trabalho ao invés de contribuir para liberdade do homem, o trabalho torna-se condição de sua alienação.

Após a Revolução Industrial, com a introdução da linha de produção, na qual o operário é unicamente mais uma peça, a separação entre o que ele faz e o resultado final é maior, pois ele passa a realizar unicamente uma parte do produto final.
Mas, quais são as consequências desta separação?
Com a Revolução Industrial e o surgimento das linhas de produção em série há uma separação entre a criação inventiva do homem e a força que transforma a natureza. Os trabalhadores produzem coisas que não são frutos de sua capacidade criadora e inventiva. Eles apenas executam tarefas numa linha de produção. Quem pensou criativamente não realiza o que idealizou. E quem executa não pensou. Ocorre, portanto, a separação entre o pensar e o fazer. Quem pensa não faz e quem faz não idealizou o objeto que será produzido.

Pior ainda, a linha de montagem não permite que o trabalhador domine todo o processo de produção, pois realiza apenas uma pequena tarefa na linha de montagem. Já não se reconhece mais naquilo que produz. Se antes ao produzir um sapato ele se reconhecia como um sapateiro, agora na linha de produção ele é apenas um operário. Uma peça na linha de montagem. Se ele era reconhecido em sua comunidade por aquilo que fazia para garantir sua sobrevivência e a do grupo, agora ele é apenas mais um componente da linha de produção que poderá a qualquer momento ser substituído, descartado e em seu lugar será colocado outro que fará o mesmo trabalho que ele faz. Nisto se constitui a alienação. O ser humano se vê separado do que faz, do que produz, do significado daquilo que produz. Já não o representa.

O trabalho que deveria, como antes, transformar o mundo para melhorar as condições de vida do homem, torna-se agora um instrumento de dominação, de perda de sentido e significado da vida. Torna-se mais importante que o próprio ser humano. Torna-se fonte de lucro e exploração. O que é irônico nisto é que o trabalho como força de transformação da natureza para garantir a liberdade do homem, a sociedade capitalista, separa o homem do significado de sua existência tornando-o incapaz de reconhecer-se naquilo que faz e reconhecer seus semelhantes.

Podemos concluir que, na sociedade atual, a forma em que o trabalho é desenvolvido, não permite que o trabalhador se reconheça como produtor da riqueza e das coisas, não permite que o trabalho, ao qual dedicamos a maior parte do nosso tempo, seja um elemento que contribua com o livre e pleno desenvolvimento humano. Assim, no sistema capitalista o trabalhador torna-se incapaz de reconhecer-se naquilo que faz, sua importância e reconhecer seus semelhantes.

Para concluir, vejamos o que o filósofo Lessa, opina sobre o não reconheci- mento do trabalhador como o produtor de todas as mercadorias existentes na sociedade, isto é, de toda a riqueza gerada.
“A sociedade capitalista, tem sua base na compra-e-venda de força  de trabalho e sua essência na redução do ser humano a mercadoria, a uma coisa; e tal coisificação é o fundamento das alienações contemporâneas”.
“.... Ao submeter a humanidade às alienações capitalistas, a sociedade burguesa destrói qualquer possibilidade do livre e pleno desenvolvimento humano..... o “reino da liberdade”, segundo Marx, nada mais é do que o atendimento das verdadeiras e reais necessidades humanas, postas pelo desenvolvimento histórico-social” (2004, p.74-75)

Toda a atividade humana que resulte em bens ou serviços é considerada trabalho. Bens são todas as coisas materiais produzidas para satisfazer as necessidades das pessoas. E serviços são todas as atividades econômicas voltadas para a satisfação de necessidades que não estão relacionadas diretamente com a produção de bens.
Não existe serviço sem a existência de bens. Em qualquer atividade econômica, bens e serviços estão interligados. Um depende do outro para que o sistema econômico funcione. A transformação de recursos naturais em objetos que utilizamos, através dos bens e serviços, ocorre por meio do processo de trabalho.

PROCESSO: Ato de proceder, ir por diante; seguimento, curso, marcha; sucessão de estados ou mudanças; maneira pela qual se realiza uma operação, segundo determinadas normas, técnica, método.

TRABALHO: Atividade coordenada, de caráter físico ou intelectual necessária para a realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento; maneira de trabalhar a matéria, com manejo ou a utilização de instrumentos de trabalho. Origem da palavra trabalho: Do latim Tripalium (instrumento de tortura), derivado do adjetivo Tripalis (sustentado por três estacas ou mourões), donde vem o verbo romance Tripaliare, fonte do verbo trabalhar: o suplício identificado ao trabalho.

No processo produtivo as pessoas dependem umas das outras para obter os resultados pretendidos. Assim, para produzir os bens e serviços de que necessitam, os indivíduos estabelecem relações entre si, as quais chamaram de relações de produção. As relações de produção mais importantes são as que se estabelece entre os donos dos meios de produção, isto é, entre o patrão e os trabalhadores. E são estas relações que organizam e definem a sociedade.

Neste modo de produção capitalista, o ser humano começa a trabalhar para suprir suas necessidades básicas, mas o sistema de produção não deixa as necessidades reais aparecerem. É o que Marx chama de contradição, isto significa dizer que a sociedade capitalista produz para resolver as necessidades humanas, mas não resolve. Em outras palavras, são problemas que a humanidade não resolveu desde que o homem começou a dominar o planeta. Por exemplo: um dos grandes problemas da humanidade é a fome, e a produção das indústrias de alimentos é gigantesca, quer dizer, se produz alimentos para matar a fome, mas continuamos tendo uma sociedade que morre de fome. Isto é o que chamamos de contradição do sistema capitalista segundo Marx.

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