A AÇÃO SOCIAL
A visão de Durkheim acerca da sociedade acaba por inferiorizar o papel do indivíduo dentro do processo social. A sociedade impõe suas vontades, sem participação efetiva e autonomia por parte do ser. O sociólogo alemão Max Weber, alguns anos depois de Durkheim, criticou essa visão, por achar que o real objeto da sociologia deva ser as ações individuais, não as pautadas na sociedade.
Weber acredita que as ações dos indivíduos são pautadas por alguns fatores, esses fatores podem possuir objetivos, motivações e intuitos diferenciados. A Sociologia vai ter como objetivo para o sociólogo alemão compreender os motivos da realização de ações por parte dos indivíduos.
Max Weber vai denominar essas práticas de ações sociais, que são comportamentos, atitudes e posturas realizadas pelos indivíduos. Essas ações sociais são dotadas de sentido e são praticadas por seres racionais, com autonomia para agir de acordo com sua vivência social.
Além disso, a ação social tem como característica ser orientada ao outro, em outras palavras, uma ação que se toma levando em conta a relação existente com os demais indivíduos. Weber define quatros tipos de ação social.
TIPOS DE AÇÃO SOCIAL
• Tradicional - Aquela ação baseada no hábito, na tradição.
O indivíduo realiza a ação por um costume determinado.
• Afetiva - Aquela ação pautada em aspectos emocionais.
• Racional com relação a Valores – Aquela ação que ocorre por convicções plenas do indivíduo que realiza a ação.
• Racional com relação a Fins - Aquela ação que busca
objetivos e ganhos diretos para o indivíduo.Para Weber, a Sociologia não deveria explicar os fenômenos e sim compreendê-los, visto que a sociedade não estaria submetida a leis imutáveis, mas seria constituída pela contínua ação social dos indivíduos. Na verdade, a ação individual é considerada e o indivíduo não é colocado sob a sociedade, suas ações têm valor social porque muitos indivíduos orientariam reciprocamente suas ações em determinado sentido comum. A teoria weberiana privilegia a ação social do indivíduo dotada de sentido e a toma como base para a compreensão da vida social. Para ele “toda ação é social”.
Segundo Weber, não é possível uma total neutralidade do cientista social, pois todo cientista age guiado por seus motivos, sua cultura e sua tradição. Os fatos sociais, por sua vez, não podem ser encarados como coisas, e sim como acontecimentos que o cientista percebe e tenta desvendar. O foco de Weber, como podemos identificar, é o indivíduo, portanto, sua análise é subjetiva.
Weber entende que as ações sociais não são puras. Para a compreensão da realidade social, ele estabelece a noção de Tipo Ideal que é uma construção teórica e metodológica que generaliza as diferentes possibilidades de ações visando a interpretação do fenômeno social.
WEBER E O ESTADO
Weber entende que a política é constituída basicamente de um monopólio de força (apenas o Estado pode, em tese, utilizar o instrumento da violência) sobre um território composto por entidades civis. O estado é uma disputa política por poder, poder como capacidade de exercer sua vontade sobre o outro, que nunca se possui plenamente, somente é passível de ser exercido. O poder gera possibilidades de dominação, há três tipos de dominação legítima em Weber:
• Dominação tradicional: baseada na força dos hábitos, de tradições consolidadas.
• Dominação carismática: baseada na crença em qualidades excepcionais de um indivíduo; na capacidade de identificação, por quesitos de comunicação, oratória e até estética.
• Dominação racional-legal: é o tipo de legitimidade estatal que Weber aponta como característica das sociedades contemporâneas, uma vez que se baseia na racionalidade da lei. A burocracia é um dos exemplos mais importantes desse tipo de dominação.WEBER E A BUROCRACIA
Weber ao analisar o Estado alemão, ou melhor, a Alemanha reunificada e seu Estado consolidado pela figura de Otto Von Bismarck, entende que os seguintes setores de sociedade criavam as bases desse Estado: O exército, os latifundiários (junkers), os grandes donos de indústrias, e principalmente uma elite que formava a burocracia (os altos servidores públicos). Em tal análise, Weber afirma: “o Estado é uma relação de homens dominando homens”, e esse tipo de Estado usa a violência, que por sua vez é consentida pelos dominados, de forma muitas vezes legal e racional, através da burocracia.
Uma organização administrativa do Estado que é racional, regida por leis – regras racionalmente criadas e que possui as seguintes características:
1. Funcionários e cargos hierarquicamente organizados;
2. Especialização das funções e trabalhos, o que “garantiria” produtividade e eficiência (o que aproxima a funcionalidade da burocracia com as estruturas produtivas do capitalismo – análise weberiana);
3. Rotina de trabalho e fiscalização das atividades dadas as hierarquias;
4. Toda a comunicação interna através de papéis, e o arquivo dos mesmos com o objetivo de ‘‘organizar’’ o histórico, a trajetória dos processos do Estados. Weber percebe que essa burocracia, embora seja uma tentativa de ‘‘manter a ordem’’ de um sistema estatal e as bases racionais de uma dominação legal, ainda possui disfunções.
5. As relações impessoais são negligenciadas em prol de questões pessoais, o sistema de meritocracia dita as relações entre as funções hierárquicas;
6. A especialização das funções, em vez de gerar produtividade e eficiência, atrapalha o bom funcionamento da máquina statal, pois não estimula os servidores a desenvolverem uma visão ampla e completa do processo meritocrático (inclusive para propor novas soluções, inovações e criatividade nas atividades), já que ele ‘‘só repete’’ as mesmas ações todos os dias;
7. O acúmulo de papéis torna o processo lento, emperra a organização não só do trabalho, mas também dos processos.
8. A rotina impede que o funcionário burocrático inove, proponha novas soluções, exercite sua criatividade e potencialidades. Não é estimulante.
9. A própria especialização do trabalho não permite que o funcionário tenha uma visão total do processo, o que não o desenvolve tecnicamente;
10. As hierarquias promovem relações impessoais (tráfico de influência, corrupção, nepotismo etc.)
11. A quantidade enorme de papéis acumulados que tornam lenta a administração e a comunicação dentro da burocracia.
A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO
Em sua obra de maior repercussão, Weber vai buscar entender a relação entre o surgimento do protestantismo e o desenvolvimento da burguesia e do capitalismo na Europa.
Na Antiguidade o trabalho era visto como uma atividade penosa e sacrificante. Além disso, para a Igreja Católica, a busca pelo lucro era entendida como pecado. Weber vai estudar como a Reforma Protestante no Século XVI, mais especificamente as concepções puritana e calvinista, transformaram a visão acerca do trabalho. Weber vai apontar que, ao contrário da visão católica, para os protestantes o trabalho passou a ser visto como uma “vocação”, um chamado de Deus, um caminho para a salvação espiritual.
Desse modo, com a radical transformação baseada em valores religiosos, o protestantismo promoveu uma racionalização em relação à prática, sendo assim, o trabalho passou a ser entendido como um fim em si mesmo, como algo racional e metódico. A busca pelo lucro passa a ser vista como algo desejável pois era um caminho para o desenvolvimento espiritual, para alcançar Deus.
Desse modo, observa-se um novo cenário de fundamentação religiosa e de valores que possibilitaram a acumulação de riquezas e a prosperidade econômica. Então, para Weber, essa ética protestante foi um elemento decisivo para a consolidação e crescimento da burguesia e o desenvolvimento do capitalismo.
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TEMAS SOCIOLÓGICOS
RandomNesse livro trarei temas sobre como a sociologia nos ajuda a perceber e refletir a sociedade em que vivemos através de conceitos e ferramentas teóricas que nos dão autonomia de reflexão.