purgatório

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Irmão? – estremeceu ao escutar abrindo seus olhos, sem se mexer ele viu a pequena garota olhando o de cima, longos e lisos cabelos pretos brilhantes balançavam junto a garota sorrindo – está na hora de levantar, o café está na mesa – sem peso ele via a pequena garota desaparecer, oque estava acontecendo? – não importa, ela está aqui, comigo – ele se sentava na antiga cama muito grande, sorria secando sua lagrimas com as mão, o que era aquele desespero? Sorria mais que em qualquer dia que viveu, sorria por ver aquela pessoa de novo, por a ver sorrindo, lagrimas escorriam sem parar mesmo assim sorria feliz e cheio de desespero, queria se levantar e correr atrás dela, mas suas pernas tremiam de mais para se quer voltar a deitar, ficou tremendo no mesmo lugar, podia ser assim possível? Poderia ter uma segunda chance? Tremia tentando se levantar mesmo que não sentisse a mínima força para andar, ele se arrastaria para a poder ver mais uma vez, pelo menos só mais uma vez – cadê você? Cadê? Por favor, por favor – sua alma doía ao descer as escadas a força, precisava a ver, tropeçou caindo de joelhos no primeiro andar, onde ela estava? Olhava para a antiga porta da cozinha e lá estava ela saltitante sorrindo com bolachas na boca, por que? Se levantava aos tropeços correndo desajeitado a abraçou com toda a força que tinha, era tão quente, podia sentir seu coração bater novamente... tentou falar, mas gritou, gritou com toda força do seu coração, o demônio que o devorava finalmente se calou, em seus braços ela era tão quente, caiu de joelhos sem a soltar, lagrimas escorriam violentamente no chão, sua alma gritava com toda a força que podia, caindo em um abismo chegando ao fim com um baque de rachar todos seus ossos, era o que ele sentia tremendo de joelhos a abraçando com toda a força que tinha – não a solte, não a largue nunca – sua alma suplicava dando força para seus braços ficarem no eterno abraço – não a deixe escapar desta vez – implorava, chorava sentindo seu corpo falhar caindo de cara no chão.

Desculpa, desculpa, desculpa – chorava socando o chão, se escolhendo, a dor era algo que jamais experimentara com ela ali na as frente sorrindo e quente – eu devia...eu devia – sussurrava, sentiu uma peque mão morna alcançar sua nuca, pequena e quente entre seus cabelos fazendo todo seu corpo paralisar, pelas lagrimas ele via os pequenos pés – eu devia ser rápido – sussurrou sem forças para se levantar e envergonhado de mais para a olhar, falhou, sabia que merecia ter suas asas cortadas como aconteceu, sua irmã nunca poderia voar.

Vai ficar tudo bem – ele escutou? Caindo de um transe ele ergueu cabeça, seu coração explodiu vendo aquele sorriso – tudo bem – a pequena mão brincava com seu cabelo – não tinha como impedir – lagrimas de dor caíram ao lembrar do dia, da estrada, das arvores que tanto brincavam, se ao menos soubesse que seria a última vez...Era mais fácil sentir que era odiado, ela devia o odiar afinal, não pode impedir, apenas viu tudo acontecer sem poder ajudar... era o próprio demônio.

Vai ficar tudo bem, maninho – ele escutou pela ultima vez quando seus olhos se abriram, parado no escuro quarto Cabresto sentia o ar frio mesmo sem uma janela, apenas uma porta exposta por um raio de luz, seu corpo tremia, lagrimas escorria, sentindo pedregulhos em seus ombros lentamente e receoso ele caminhava para a porta, mãos tremulas giraram uma maçaneta de madeira revelando um sol poente entre altas e abastardas arvores, seu estomago pesou como se um dos pedregulhos tivesse passado por sua garganta direto para a barriga.

Irmão, não vai conseguir me pegar – ele escutou a jovial voz correndo entre as arvores a pequena garota corria gargalhando, menor ele próprio corria atrás sorrindo mais que nunca, peito arfando e respiração descontrolada, era a época mais feliz de sua vida, paralisado ele escutou o corte no ar, a derrapagem na estrada.

– Onde? – perdendo o controle virou correndo por ondem viu a garota correr segundo antes – onde? – corria entre as arvores – onde? – nada via ignorando as batidas nas arvores, a plantação ricocheteando em seu rosto, corria – onde? – parou diante a estrada, pernas tremulas, a garota parada no meio da estrada.

Não pode me salvar – ela disse sorrindo, tremulo ele caminhava em sua direção, dessa vez, dessa vez iria fazer algo, escutou a derrapagem mas uma vez vendo o carro de relance, meio segundo, o mesmo meio segundo que tinha cravado na parte mais distante de suas lembranças, sua irmã sendo lançada diretamente para uma arvore, o som de carne batendo e ossos rachando, se lembrava muito bem do rosto quebrado de sua irmã, um dos olhos inchado e seu nariz arrebatado para dentro do rosto, sangue escorrendo de sua boca, corpo quebrado, braços em posições estranhas para trás, as pernas tortas de joelhos quebrados, um estranho sorriso , fora o que vira pela janela do carro, aquele homem.

Você, não pode me salvar – seus olhos piscaram e de volta ela estava em pé no meio da estrada, dessa vez, travou por um segundo correu ganhando força, correu pisando na estrada, correu a pegando pela mão, gritou quando pulou para trás, morreu quando percebeu que tudo que havia em sua mão era o braço decepado da irmã, caiu de joelhos gritando ao ver o corpo ensanguentado.

Você não pode me salvar – escutou de joelhos vomitando, bile negra jorrava de sua garganta, erguendo a cabeça ele viu sua irmã ser arremessada pelo carro, caindo torta e morta no toco do que fora uma arvore.

Por que? Por que? – chorava onde segundos antes havia bile, por que? – se erguia vendo a irmã parada sem falar nada – por que eu não posso te salvar? – correu sem medo, correu saltando quando viu o carro, iria salvar ela custe o que custar a empurrando para longe sentiu suas costelas racharem quando o metal frio o lançou para longe – eu vou te salvar – sorriu vendo de relance o céu e logo a casca de arvore.

Gritou sem ar sentindo todo seu corpo quebrar e se reconstruir em segundos ao refazer, sentia suas costelas novas mais sensíveis que nunca – o que tenho que fazer? – gritou para a garota, a mesma recuou assustada.

Se lembre – ela sorriu momentos antes de ser partida em dois e logo voltar – você não pode me salvar – quantas vezes ele escutou paralisado? Perdeu a contagem se levantando, se lembrar, do que devia se lembrar? Correu pela sexte ou sétima vez pegando a garota sendo errado por pouco chegando ao fim da estrada – consegui! Consegui irmã! – sorriu antes de desespero encher seu rosto, segurava um corpo velho de uma pequena garota já a muito tempo morta.

Não pode me salvar – ela falou em suas costas, já não segurava nada.

Não posso te salvar, agora lembro que você era bem teimosa, como poderia te salvar afinal, te salvar de mim... – o espantalho se erguia – eu vou te salvar, custe o que custar – andava para a estrada – eu não vou te deixar, nunca mais – parou de costas para a irmã – ele vem daqui certo? Fique atrás de mim, eu vou te proteger – sentiu as pequenas mãos agarrarem sua roupa ao mesmo que escutou o barulho de derrapagem – dessa vez vou fazer certo, fique atrás de mim – o espantalho observava o prateado carro voar em sua direção, fechou seus olhos apenas sentindo as mãos e o rosto colados em suas costas – DESSA VEZ EU NÃO VOU ERRAR - quando abriu os pode ver parado no ar varias peças reluzentes do carro flutuando, não havia ninguém entre as peças – obrigado e desculpe – falou se virando de joelhos para ficar na altura da irmã – nunca mais vou te deixar – a abraçou forte para nunca mais larga, as peças derretiam em nada sobre eles – vamos pra casa agora? – a pequena garota assentiu com a cabeça sorrindo – tenho que falar uma coisa antes, posso?

13 ANDAROnde histórias criam vida. Descubra agora