Demitida

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Eu estava sentada na mesa da cozinha enquanto Mary preparava o jantar às pressas. Eu folhava as páginas do jornal em minhas mãos, apenas passando os olhos pelas palavras, sem absorver nada. Estava me sentindo distante naqueles dias, distraída. Provavelmente pelo fato de que estava prestes a tomar uma decisão.

Se devia ou não pedir demissão.

Talvez seja burrice pedir demissão de uma emprego com tantos privilégios. Além do ótimo salário, eu ganho muitas folgas e ainda posso ver Cole quando quiser. Mas são exatamente esses privilégios que me incomodam. Quero sentir que consegui um emprego por mérito meu e, de forma alguma quero me sentir submissa.

- No que você tanto pensa, querida? - Mary perguntou com seu tom doce usual.

- Nada especial, tia. Apenas lendo o jornal.

Não é que eu não confiasse em Mary para contar a verdade, apenas não queria perturbar mais sua cabeça que já estava cheia por causa da filha.

Quando volto meus olhos para o jornal, paro em ponto do qual já havia passado mas, graças a distração, não prestei atenção. O anuncia dizia "Estamos contratando. Para mais informações ligar **** ****".

Não acredito em coisas míticas mas a coincidência certamente está influenciando minhas ideias.

Saio discretamente da mesa e vou até o telefone, ainda segurando o jornal. Disco o número e espero enquanto chama. Caiu na caixa postal.

Me jogo de costas na cama e reflito se devo contar a Cole sobre a demissão antes ou depois de ligar para o jornal. Chego à conclusão de que seria ruim para ele saber que estou saindo só depois de eu já ter sido contratada por empregador. Por isso vou à casa dele.

Assim que olho em seus olhos e digo "precisamos conversar", sua feição muda drasticamente, assumindo um tom de preocupação que me deixou mal.

Nos sentamos em uma mesa de café e ele me serve chá. Esses ingleses e seus chás.

- O que houve? - ele pergunta bebericando a xícara.

- Antes quero dizer que gosto muito de você. Mais do que planejava. Esse é o principal motivo da minha decisão.

Ele parece ficar ainda mais preocupado. Me pergunto o que está se passando pela sua mente.

- Não precisa se preocupar, sério - Tento tranquilizá-lo. Fazer isso é mais difícil do que eu havia imaginado. - É só que... eu quero pedir demissão.

- Por quê? - ele pergunta imediatamente.

- Porque não quero confundir as coisas, Cole, não quero estragar o que existe entre nós por causa do trabalhão. Não podemos misturar vida profissional com... amorosa. E, me desculpe, mas eu prefiro perder o emprego do que perder o que tenho com você.

Olho de relance para seu rosto. Ele parecia neutro, talvez até feliz.

- Entendo sua vontade, e não importa o que você quiser, eu vou te apoiar - ele diz. - Eu só gostaria que você tivesse me falado antes, se isso vem te incomodando.

Eu me levanto e o abraço, quase automaticamente. Ele retribui com um beijo na minha testa. Levanto a cabeça para alcançar seus lábios com os meus e suas mãos alcançam minha cintura, me puxando para si. Me desvencilho do beijo.

- Não, não. Estou atrasada. Tinha visto uma entrevista de emprego em uma banca de jornal e preciso ir - digo.

- Boa sorte - ele sussurra me dando outro beijo perto da orelha.

Saio e vou direto para o jornal. Como não me atenderam, resolvi fazer as coisas pessoalmente. Assim que abro a porta da banca toca um sino, como em filmes antigos.

Uma mulher de cabelos castanhos e olhos mel aparece na minha frente.

- Olá, bom dia. No que posso ajudar? - ela parece animada. Há quando tempo não vem ninguém aqui?

- Eu estava lendo o jornal hoje cedo e souber de uma vaga de emprego. Eu posso fazer uma entrevista ou teria que trazer meu currículo primeiro?

- Só um instante, querida - ela vai até o pé de uma escada de madeira do outro lado da sala e grita: - SENHOR TAYLOOOR! - Sua voz esganiçada se propaga pelo ambiente fechado.

Depois de alguns segundos um homem de peso elevado, carrancudo e de meia idade desce pelas escadas.

- Essa é...? - A mulher pergunta olhando para mim.

- Lili Reinhart - completo.

- Sim, a senhorita Reinhart gostaria de saber mais sobre a vaga de emprego.

A carranca do homem desabrocha em um sorriso gentil.

- Ah, claro. Venha até minha sala.

O acompanho até seu escritório, cujo ambiente era bem diferente do anterior. Este possuía uma boa iluminação, paredes brancas e aquecedor.

- Sente-se, senhorita Reinhart. Gostaria de uma xícara de chá?

- Não muito obrigada - respondo. Estou cheia de chás.

- Então. As vagas são de escritor, editor, e fotógrafo. Em qual a senhorita estaria interessada.

Por um momento paro para pensar no quão desqualificada eu sou pelos motivos de 1) não ter terminado a faculdade e 2) não saber o que eu quero. Eu escolhi ser jornalista pois meu pai certa vez me disse que eu possuía dom para a escrita e jornalismo me parecia o curso mais rápido e acessível. Além do mais, eu sempre gostei da ideia de sair investigando e correndo atrás da própria matéria.

Mas eu não tenho experiência nem estudos o suficiente para ser escritora, por isso respondo:

- Editora. Eu tenho interesse na área de edição.

Ele abriu um sorriso e fez algumas perguntas sobre mim. Expliquei a situação da faculdade mas ele foi bem compreensivo e disse que se eu soubesse o básico para editar, estava tudo bem. Mostrei o que conseguia fazer e também contei da experiência que eu tinha com revistas. Ele foi muito profissional e gentil.

No fim daquela tarde eu estava contratada.
-
🦋:: muito obrigada pelos 4K gente vcs são incríveis

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⏰ Última atualização: Feb 23, 2021 ⏰

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