Capítulo 14

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— Não me surpreende que Meryl tenha traído papai. É mais do que óbvio que ele jamais poderia satisfazer sexualmente uma mulher jovem e bonita como ela. Mas, porra... — Regina deu um sorrisinho enquanto se servia de uma taça de vinho.

— A filha da puta tem uns fetiches sacana...

— Regina, por favor — Camila a repreendeu.

— Desculpe. Sei que está com ciúmes por causa de Lauren, mas isso é passado. É estranho, mas é passado.

— Não é apenas estranho. É... — Camila se levantou e começou a andar em círculos.

— Não sei explicar, mas tenho medo de pensar nisso enquanto... — as palavras ficaram presas na garganta porque um pensamento lhe veio à cabeça, tão doloroso, que ela desistiu de completar a frase cuja verdade não desejava saber.

— Enquanto transa com ela? — Regina disparou o que Camila temia ouvir. — É bobagem. Quando estamos dando e recebendo prazer, não pensamos em nada.

— Simples assim? — indagou Camila.

— E se fosse o seu namorado que tivesse dormido com ela? Diria a mesma coisa que está me dizendo agora?

Regina respirou fundo e em seguida levou o cálice de vinho aos lábios enquanto imagens, não de seu namorado, mas de Emma, na cama com a sua madrasta, passavam pela sua mente. Sentiu-se perturbada ao pensar em Emma tocando Meryl como lhe tocara nas vezes em que estiveram juntas. Ela engoliu a bebida com dificuldade e sentiu alguma coisa muito semelhante ao ciúme, por mais absurdo que parecesse. Desconfiada, Regina se perguntou se em algum momento teria acontecido algo entre as duas e, de repente, se sentiu possessiva, coisa que nunca tinha experimentado antes. Elas caíram num silêncio que só se viu interrompido quando a campainha tocou.

Levantando-se, Camila caminhou sem vontade até a porta. Quando a abriu, deu de cara com Lauren. A surpresa em encontrá-la ali foi bem evidente, a julgar pelo assombro em seu rosto.

— Vejam só quem está aqui — disse Regina, pegando a bolsa e caminhando na direção de Lauren.

— A bonitona que trepou com a minha madrasta. Quem é a filha da puta agora, hein?

— Regina! — Assustada, Camila a repreendeu.

— Vai se foder, sua patricinha do caralho — respondeu Lauren.

— Lauren! — sem entender nada, Camila se colocou entre elas. — O que está acontecendo?

— Nada, irmãzinha. Nos falamos depois — ela deixou um beijo no rosto de Camila e em seguida foi embora.

Quando Camila se afastou para que ela entrasse e em seguida fechou a porta, Lauren se virou para ela, querendo tanto abraçá-la que isso se tornou uma dor física. Por um bom tempo tinha lhe abraçado sempre que desejava, mas agora Camila parecia querer lhe tirar esse direito. Cada dia afastada de Camila era um fardo quase insuportável para ela. Nos primeiros dias, tentara superar o abismo, reparar o dano, mas todas as tentativas de reconciliação e explicação tinham sido ignoradas. Fazia mais de uma semana que Camila não falava com ela.

— O que você está fazendo aqui? — Camila perguntou.

— Não faça isso comigo, Camila — disse Lauren, ignorando a pergunta por completo. — Não me deixe nessa angústia, esperando que você me responda, que retorne as minhas ligações. Eu não posso passar o resto da minha vida esperando você fazer isso, olhando para a estrada através da janela, pensando hoje, talvez hoje ela apareça... Isso partiria o que resta do meu coração.

As lágrimas que ela estava reprimindo desde que acordara naquela manhã se libertaram, o que não era exatamente a reação que queria ter. Camila assentiu, tentando processar tudo o que Lauren estava dizendo e conciliá-lo com suas dúvidas e preocupações. E por mais que desejasse abraçá-la e beijá-la, não podia. Não agora.

Mentiras de PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora