Capítulo 18

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— Por que você mentiu para mim? Elevando as sobrancelhas, Regina olhou para os lados antes de fechar a porta.

— Está falando comigo? — perguntou ela, ouvindo o tom sarcástico da própria voz, mas sem se importar.

— Não estou com humor para as suas piadinhas sem graça, então, por favor, responda a minha pergunta.

— Está perguntando isso para a pessoa errada porque a única mentirosa aqui é a sua amada causadora de problemas! Ou seja, Lauren.

— Eu liguei para você e...

— Camila — erguendo o dedo indicador, Regina lhe interrompeu a fala. — Não concordo e nem aprovo o fato de Lauren ter escondido isso de você. Mas ela é minha cliente, me pediu sigilo e eu não podia fazer outra coisa que não fosse acatar o pedido dela.

— É você quem está cuidando do caso dela?

— Sim, e vou ser sincera com você. Apesar das merdas que ela fez e escondeu de você, tenho certeza de que é inocente.

— Do que está sendo acusada?

— Assassinato.

Durante todo o tempo em que Regina esteve contando os supostos relatos do ocorrido, Camila tratou de respirar regularmente para vencer a tensão que pesava cada vez mais em seu corpo. Embora tivesse uma série de perguntas, ela não sabia por onde começar.

Então deixou que Regina continuasse falando, desde o depoimento de Lauren, até o que descobrira durante esses poucos dias de investigação. Enquanto falava, Regina viu a aflição nos olhos da irmã e isso a assustou. Sabia como tudo era frágil naquele momento.

— Vai dar tudo certo — disse Regina, tentando parecer segura em vez de preocupada.

[...]

Como todos os contos de fadas, o de Lauren e Camila era cheio de espinhos, lugares obscuros, sonhos abandonados e perda. Lauren suspirou quando o alarme soou. Finalmente o momento destinado ao banho de sol tinha chegado. Ela passava todo o tempo olhando para as nuvens, mergulhando na dor de estar ali tão perto, e ao mesmo tempo tão longe de Camila. Aquele momento...ele o puxava dos cantos mais distantes da sua mente em suas horas de solidão, permitindo que o calor do sol a confortasse. Permitindo que a aquecesse. Só por pouco tempo, antes de voltar à realidade fria da sua cela. Ela passou a ansiar por esse calor, porque ele afugentava o frio solitário por um momento. De onde estava, Lauren reconheceu o Mercedes preto que estacionava, então se levantou e com passadas largas alcançou a barreira de arame farpado. Quando desceu do veículo, Camila caminhou em direção a porta de entrada principal, mas então olhou para trás, por cima do ombro, do jeito que se faz quando sabemos que alguém está nos observando. Não demorou muito e ela desviou o olhar, porém, Lauren a manteve em seu campo de visão até que ela desaparecesse. A lembrança da dor que tinha causado a Camila provocou uma nova onda de remorso, e antes que o banho de sol acabasse, ela deixou o pátio e foi para o corredor onde algumas detentas aguardavam pela visita médica. Ela esperou para ser a última a entrar, e quando entrou, seus olhos verdes percorreram a sala da enfermaria e foram parar sobre Camila, que quis desviar os olhos mas não conseguiu. Como se tivesse o poder da hipnose, Lauren sempre conseguia capturá-la, deixando-a fascinada.

— Sente-se — pediu Camila, indicando a cadeira diante dela.

— Não vim trocar o curativo — disse Lauren, avançando pouco a pouco.

— E o que veio fazer aqui? — Sua voz soou cortante, acusadora, do jeito que ela se sentia: invadida.

— Nós precisamos conversar.

— Não temos nada o que conversar.

Lauren tentou avançar um pouco mais, porém, Camila se afastou dela, dando-lhe as costas, fingindo um interesse súbito e compulsivo nos medicamentos espalhado pela mesa. Camila fechou os olhos e respirou fundo quando sentiu as mãos dela pressionarem seus ombros e, logo em seguida, os dedos se moverem sobre o zíper do vestido. Ela agarrou as beiradas da mesa sabendo que devia dizer para que Lauren parasse, pois cada minuto que passava ali, em silêncio, deixando que ela a tocasse daquela maneira, enfraquecia tudo o que havia dito no dia anterior e naquela manhã no momento em que ela atravessara a porta. Mas Camila não conseguiu reagir. Em vez disso, disse a si mesma que cederia só mais uma vez. Uma última vez. Seu vestido foi ao chão.

Mentiras de PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora