Capítulo 24

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Nunca é tarde para mudar as coisas. O pensamento o assustava, ao mesmo tempo que o entusiasmava. A mudança é uma das leis inevitáveis da natureza, cobrando tributos sobre a vida das pessoas. Mas Alejandro estava disposto a mudar sua forma de pensar e agir. Algumas semanas atrás, teria se decepcionado com as filhas. Ou talvez nem tivesse acreditado nelas. Mas, a partir de agora, tudo seria diferente. Ele optou pela compreensão, deixando de lado o fato de Camila e Regina terem conhecimento sobre as traições de Meryl. Estava ciente de que a omissão se deveria por uma justa causa.

— Está pronto para voltar para casa, papai? — Camila perguntou. Ele sorriu e assentiu, se acomodando na cadeira de rodas. No corredor, Nick apareceu diante deles.

— Indo embora sem se despedir, senhor Cabello? — ele falou em tom divertido, mas o sorriso murchou quando Alejandro ignorou a brincadeira.

— Até mais, Nick.

— Não vai me agradecer por ter cuidado do seu pai, Camila?

Ela abriu a boca, querendo dizer alguma coisa inteligente e inesperada, algo que o colocasse em seu devido lugar. Mas, antes que qualquer coisa lhe viesse à mente, Alejandro se virou para Nick e respondeu secamente.

— Você não fez mais do que a sua obrigação. De qualquer forma, obrigado.

Nick se retraiu atingido pela secura das palavras dele, porém, não disse nada. Em silêncio, Camila empurrou a cadeira em direção a saída, desejando que essa fosse a última vez que teria o desprazer de encontrar aquele homem que uma vez tinha sido um amigo.

[...]

O sol havia cruzado o céu quando Regina atravessou a rua, e viu a placa de venda pregada ao lado da porta da cafeteria. Como se os pés tivessem ganhado vida própria, ela começou a andar na direção de Lauren, que estava arrumando umas caixas de bebidas atrás do balcão.

— Por que colocou uma placa de venda ali fora? Vai se desfazer do local? — indagou Regina.

— Exatamente. - Lauren respondeu.

— E Emma? Ela está de acordo com isso?

— A ideia partiu dela.

O chão desabou sob ela. As bases da nova vida que ela pensava em começar se transformaram em entulho diante daquela notícia.

— Isso quer dizer que ela não vai voltar?

— Eu não sei. Por que não pergunta a ela?

— Acha que já não o teria feito se ela atendesse as minhas ligações?

— Bem, eu sinto muito — disse Lauren, um pouco abalada pela nota de dor na voz dela.

Regina fechou os olhos por alguns segundos, respirou fundo, e quando os abriu novamente, estavam frios como gelo. Ela não conseguia processar aquilo. A realidade que ela não queria encarar emergiu por conta própria: tinha perdido Emma. Magoada demais para falar, Regina se virou, abriu a porta e foi embora. No caminho enquanto dirigia, ela ligou para Emma, mas, como nas outras vezes, caiu na caixa postal. Sem querer aceitar que Emma não ia mais voltar, Regina seguiu direto para o seu escritório. Imaginava que se distrair com o trabalho criaria ordem para o caos na sua cabeça. Funcionou por algumas horas. Mas no fim de tarde, quando todo mundo já tinha ido embora, a realidade a atingiu de novo.

Sem ter o que fazer, ela foi para casa. Assim que chegou, foi correndo para o quarto, sentou-se na beirada da cama e passou a mão pelos lençóis, lembrando-se da primeira vez em que Emma dormira com ela bem ali. As memórias estavam em toda parte: no seu quarto, nas cafeterias ao longo da estrada, nos coquetéis, não dava para fugir. Regina não estava preparada para desistir de tudo, ainda que não soubesse quando e se Emma voltaria. E se voltasse, iria perdoá-la? Incapaz de manter os olhos abertos, ela deixou que as lembranças de estar ali com Emma a inundassem. Porém, alguém apertou a campainha e mesmo sem vontade, ela se levantou e foi até a porta. Ao abri-la, deu de cara com Camila.

Mentiras de PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora