Capítulo 02

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Camila estava pensando na forma como se sentia todas as vezes que aqueles lindos olhos verdes pousavam nela, quando alguém bateu à porta da sua sala, fazendo-a se sobressaltar da cadeira.

— Pode entrar. - disse ela, tentando se recompor.

— O que você sabe sobre ela? - Nicholas perguntou antes mesmo de fechar a porta. — Onde mora, o que faz da vida. Aliás, você nem sabe se ela é hétero, lésbica, bissexual. - puxando uma cadeira e se sentando logo em seguida, ele a encarou com um olhar preocupado. — Acho que você não deveria ir jantar com ela.

— É exatamente por isso que eu vou, para conhecê-la.

— Você não está apaixonada por ela, está?

— É claro que não. - protestou Camila. — Posso estar fascinada, curiosa, atraída, mas apaixonada? De jeito nenhum.

— Tudo isso porque ela trocou o pneu do seu carro? Se apaixonaria por mim se eu fizesse isso? Camila soltou uma risada enquanto relembrava àquele dia.

— Você nunca ficou intrigado com alguém? Com a forma de olhar, de sorrir, de falar?

— Ah, eu tinha esquecido que pessoas que parecem misteriosas são como um ímã para você, te atraem subitamente.

— Não exagere e nem se preocupe. É só um jantar.

Nas horas que se seguiram, Nicholas se policiou para não pressionar Camila a desistir daquele encontro. Algo na postura de Lauren o deixara em alerta, e isso não era um bom sinal. Camila, por outro lado, estava contando os minutos para que o sol se escondesse e a noite chegasse. Aquela vontade de se encontrar com alguém que mal conhecia a aterrorizava. Precisava acabar com essa loucura o mais rápido possível, antes que pegasse fogo e se reduzisse a cinzas. Quando seu expediente no hospital finalmente acabou, já estava escurecendo. Ao chegar em casa, tentou aliviar a tensão com um banho quente. Às dezenove e trinta já se encontrava pronta, e no horário combinado, ela estacionava no endereço indicado. Um garçom a acompanhou até uma mesa reservada.

Estava tudo muito silencioso e quase vazio. Os poucos clientes sussurravam como se estivessem contando seus segredos mais sombrios, e por um momento, Camila sentiu a tensão voltar. Ela pediu um cálice de vinho enquanto esperava. Detestava impontualidade, e deveria ter deixado isso bem claro. Mas como poderia? Trocara poucas palavras com aquela mulher e, ainda assim, estava ali, ansiosa para reencontrá-la. Sentiu uma pontada de decepção, mas a afastou. Deve ter acontecido algo importante, pensou ela. As vezes a vida era assim mesmo.

As coisas raramente eram perfeitas. Lauren apareceria. De repente sentiu-se só. Toda arrumada, sentada naquela mesa meio escura. Solitária. Camila estava prestes a se levantar para ir embora quando, naquele exato momento, Lauren cruzava o salão conversando com um garçom. Os cabelos longos e loiros estavam puxados para trás em um belo penteado, mais precisamente um coque alto. Ela usava um completo feminino preto com listas brancas e largas nas laterais, e trazia uma bolsa carteira na mão. Quando Camila ficou de pé para cumprimentá-la, Lauren a observou e quase não conseguiu conter um suspiro quando os olhos varreram o corpo diante de si coberto com um vestido tubinho acima dos joelhos, onde uma fenda deixava as coxas parcialmente descobertas.

— Perdoe-me o atraso. Tive um problema com meu carro.

— Por que não me ligou? Eu teria ido buscá-la. - Lauren a encarou com um olhar intenso.

— Quem sabe eu não ligue da próxima vez?

— Haverá uma próxima vez? Lauren não desviou o olhar como Camila previra, em vez disso, abriu aquele sorriso discreto que parecia conter um feitiço impossível de ser quebrado.

Mentiras de PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora