𝑼𝒎𝒂 𝑼𝒍𝒕𝒊𝒎𝒂 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆 | ᴀs ᴄʀᴏ̂ɴɪᴄᴀs ᴅᴇ ɴᴀ́ʀɴɪᴀ | 𝓕𝓪𝓷𝓯𝓲𝓬

Capítulo 6: O Que Houve na Estação

Naquela mesma tarde, chegara na casa dos Pevensie um telegrama acertando os últimos detalhes a respeito do ponto de encontro de todos. Como os outros não poderiam desembarcar quando o trem passasse por Londres, caberia a Pedro, Edmundo, Noah e Anna irem até a estação correta, na cidade do Colégio Experimental, próxima a Londres.

O dia seguinte estava muito bonito e ensolarado, aparentemente nada poderia impedir os nove amigos de Nárnia de se reencontrarem. Digory, Polly, Lúcia, Eustáquio e Jill embarcaram logo cedo em direção à escola.

— Quando pegarem os anéis amarelos, vão parar em um lugar intermediário, onde tem muitos lagos. Cuidado para não deixarem a atmosfera calma de lá fazer vocês esquecerem do que devem fazer! — Digory instruiu.

— Façam uma marca no solo à frente de onde saírem, para não acabarem se confundindo na hora de voltar. Depois, pulem no lago à esquerda do primeiro, segurando os anéis verdes. Nárnia fica lá — Polly completou.

— E se errarmos o portal? — Eustáquio indagou.

— Imediatamente peguem os amarelos e voltem para o Bosque, nem pensem em ficar em um lugar diferente! — Digory mandou, lembrando-se do problemão causado por ele ter teimado em explorar o antigo reino de Charn.

— Pode deixar, não estou afim de dar de cara com outra feiticeira — Jill garantiu.

Lúcia estava quieta, apreciando a paisagem, com o olhar perdido na imensidão do céu, e não prestou muita atenção na conversa.

Enquanto eles viajavam, Susana começou a se sentir diferente. Sentada em sua cama enquanto segurava o lenço que outrora fora dela, mil memórias por segundo passavam por sua cabeça.

Desde que recebera aquele acessório de Anna, a moça não estava conseguindo ignorar aquela esperança, da qual vinha tentando se livrar há anos, mas sem muito sucesso. Suas recordações ainda insistiam em aparecer.

O guarda-roupa, o inverno, os castores, os presentes, a Feiticeira... Foi só minha imaginação. O retorno de Edmundo, o sacrifício e ressurreição do Grande Leão, a batalha, a coroação, o reinado... Não, era só uma brincadeira. 

E mais uma vez Susana lutava contra si mesma, reprimindo toda a história que sempre estivera ali, viva, dentro dela. De repente, mais lembranças romperam com violência as frágeis barreiras postas por ela em seu coração.

O soar da trompa, as ruínas de Cair Paravel, Trumpkin os guiando, a história de Caspian, a restauração da antiga Nárnia, as batalhas, a ajuda dada por Aslam. Ah, Aslam... Fora com seu olhar bondoso e acolhedor que lhe disse não ser mais possível retornar a Nárnia.

Então, Susana chorou copiosamente. Não tinha forças para conter as memórias, as histórias, as aventuras. Via agora o quão tola tinha sido, não precisava sofrer sozinha, as coisas poderiam ter sido diferentes. Escolher esquecer não lhe trouxera alento, somente mais angústia.

Se afastar dos outros quando falavam de Nárnia só fazia doer mais o fato de não poder voltar, além de enfraquecer a preciosa amizade entre eles. E apenas tentar viver a vida em seu mundo da melhor forma possível, para assim não sentir falta de lá, não estava dando certo.

Recordou-se, então, do dia em que duvidara de Aslam, quando este não aparecera para ela, apenas para Lúcia, em sua segunda ida a Nárnia. Ao ver seu arrependimento, horas depois, o Leão fora compassivo e amável, e a perdoara. Ele sempre estava aberto a perdoar.

Susana se deixou levar pelas lembranças, permitiu-se sonhar acordada com Nárnia, como há muito não fazia. Desistiu de lutar contra a verdade. Ela sabia que tudo era real, sabia que os outros estavam certos, e sabia que queriam ver a décima integrante dos Amigos de Nárnia se reunir ao grupo.