Capítulo 9: Os Anões e o Leão

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Assim, Anna e Lúcia puseram-se a narrar o que lhes aconteceu depois de haverem chegado naquele campo. Falaram sobre o sentinela, a aparição de Tash, o gato e Emeth. Mas, ao chegar na parte do macaco, Lúcia fez uma careta de dor e nojo misturados, e não continuou a falar. Edmundo explicou:

— Então, alguém arremessou um macaco porta adentro. E aí Tash apareceu de novo. Minha irmã tem o coração muito mole e por isso não quer contar que Tash devorou o macaco de uma só bicada.

— Bem feito para ele! — vibrou Eustáquio. — Para aprender a não brincar com Tash!

— Aí apareceram uns doze anões — continuou Edmundo. — E depois Eustáquio, Jill, e, finalmente, você, Tirian.

— Tomara que Tash tenha devorado os anões também! — disse Eustáquio.

— Não, não devorou. E não seja tão repugnante! — Lúcia o repreendeu. — Eles ainda estão por aí, dá até para vê-los daqui. Já tentamos fazer amizade com eles, mas não adianta.

— Fazer amizade com eles?! — vociferou Eustáquio. — Se você soubesse tudo que esses anões fizeram!

— Pare com isso, Eustáquio! — falou Anna, com firmeza.

— Venham cá, vamos vê-los! — Lúcia chamou. — Rei Tirian, quem sabe você consegue alguma coisa com eles.

— Bem, não ando lá muito amante de anões hoje — respondeu Tirian. — Mas a pedido seu, senhorita, faria muito mais do que isso.

Todos acompanharam Lúcia até chegarem perto dos anões. O comportamento deles era bem esquisito, pois, em vez de andarem à toa por aí ou descansarem na relva, estavam sentados em círculo, bem juntinhos, como se não houvesse muito espaço disponível.

E, quando Tirian e Lúcia chegaram tão perto deles que poderiam até tocá-los, os anões ficaram balançando a cabeça de um lado para o outro, tentando identificar o que se passava através dos ruídos.

— Ei, cuidado! — reclamou um deles, rudemente. — Por que não olham por onde andam? Não caminhem por cima da gente!

— Tá bom, tá bom! — disse Eustáquio, irritado. — Nossos olhos funcionam muito bem, para sua informação.

— Pois devem ser mesmo muito bons para enxergar aqui dentro! — o mesmo anão, cujo nome era Ranzinza, replicou.

— Não estão nos vendo? — Susana perguntou, confusa.

— Como poderíamos? Está um breu aqui! — o anão respondeu.

— Você está cego? — quis saber Edmundo.

— E quem não fica cego nesta escuridão? — resmungou Ranzinza.

— Mas aqui não está escuro coisa nenhuma! — disse Lúcia. — Será que não percebem? Vamos, levantem o rosto! Não veem o céu, as árvores, as flores? Vocês não estão nos vendo?

— Só pode ser piada! Como é que eu posso ver uma coisa que não existe? E como é que eu posso vê-los nesta escuridão de breu?

— Mas nós estamos vendo você! — afirmou Anna. — Quer que eu prove? Você está com um cachimbo na boca.

— Qualquer um que conheça cheiro de tabaco poderia dizer isso.

— Pobrezinhos! Que coisa terrível! — exclamou Lúcia. Então, teve uma ideia. Saiu e colheu algumas violetas silvestres. — Escutem aqui, anões. Seus olhos devem estar com algum problema, mas talvez o nariz esteja funcionando bem. Que cheiro é este?

Ela se inclinou e aproximou as flores frescas do rosto de Ranzinza. Entretanto, teve de dar um pulo para trás a fim de evitar o soco do punhozinho pesado do anão.

𝑼𝒎𝒂 𝑼𝒍𝒕𝒊𝒎𝒂 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆 | ᴀs ᴄʀᴏ̂ɴɪᴄᴀs ᴅᴇ ɴᴀ́ʀɴɪᴀ | 𝓕𝓪𝓷𝓯𝓲𝓬Onde histórias criam vida. Descubra agora