Capítulo 10: O Princípio do Fim

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Todos pararam em pé, à direita de Aslam, e olharam através da porta aberta.

Tudo na terra era escuridão, ainda mais do que antes, porque já não havia uma fogueira acesa ali. E só podia-se ver que se tratava de uma floresta, porque a luz das estrelas ajudava a enxergar as silhuetas das árvores.

Foi quando Aslam deu outro rugido e uma sombra surgiu, de onde não haviam estrelas. Primeiro parecia pequena, mas depois, conforme se erguia grandiosamente, todos viram tratar-se da sombra de um homem, o mais imenso dos gigantes. Estava pisando nos altos pântanos, ao Norte, depois do rio Veloz.

— Jill — sussurrou Eustáquio. — Você se lembra do que nos disseram sobre o gigante adormecido no submundo?

— O Pai Tempo... Aquele que acordaria quando o mundo acabasse — ela respondeu.

— Sim — disse Aslam, embora mal se pudesse ouvir o que diziam. — Enquanto ele dormia, seu nome era Tempo. Mas, agora que acordou, vai ganhar um novo nome.

Então a sombra mudou de formato, tendo o gigante levado uma trombeta à boca, e um som alto e terrível, se bem que de uma beleza estranha e fatal, preencheu o ambiente.

Foi quando uma chuva prateada começou, primeiro aos poucos, com mais ou menos uma dúzia de estrelas cadentes se movendo timidamente, mas logo outras inúmeras estrelas se juntaram às primeiras, e elas pareciam dançar pelo firmamento.

— Tem uma mancha escura no céu — Susana comentou com Edmundo.

— Talvez seja só uma nuvem — ele supôs.

Anna, coroada em nome das constelações, ao ouvir isso, pôs-se a prestar ainda mais atenção na cena à sua frente.

A mancha escura, bem no meio do céu, antes pequena, começou a se espalhar gradualmente. As estrelas continuaram a se mover. O espaço sem brilho cresceu ainda mais, tomando um quarto do céu. O espetáculo brilhante ainda não tinha terminado. Metade do céu ficou escuro. Anna estrecemeu.

— Não é uma nuvem, nem todas as nuvens juntas fariam isso. Aquilo é só um enorme vazio, sem constelações — disse em um fio de voz. Então, mirou o Leão, com os olhos marejados, e depois tornou a observar Nárnia. — As estrelas estão caindo de verdade.

Ao ouvirem Anna constatar isso, os outros ficaram em completo choque por alguns segundos, enquanto a chuva prateada findava. Em Nárnia, como sabemos bem, as estrelas não são apenas bolas incandescentes. Em vez disso, são pessoas. Certa vez, durante uma longa viagem, Lúcia, Edmundo e Eustáquio conheceram uma.

Por isso, quando elas começaram a precipitar em direção à porta, o que todos viram foi uma multidão de seres resplandecentes, com vestes brancas e longos cabelos prateados, segurando lanças de um metal branco ardente.

As estrelas pareciam seguir com uma velocidade superior à de um raio, formando riscos cintilantes ao passar por todos, que eram breve e intensamente iluminados pela luz refletida em seus rostos. E Anna podia jurar ter visto muitas delas sorrirem ao encontrarem seu olhar admirado.

Todas elas pararam mais para a direita, um pouco atrás dos outros, iluminando tudo à frente. Isso era ótimo, visto que, com um céu sem estrelas, ficaria difícil enxergar alguma coisa com nitidez.

— É um mundo tão grandioso... — murmurou Lúcia, ao deparar-se com quilômetros e quilômetros de florestas narnianas.

Viram cada árvore, rocha, moita e folhinha de grama se destacar sob aquela intensa e prateada luz, deixando uma sombra atrás de si. As próprias sombras deles eram projetadas à frente. Mas impressionante mesmo era a de Aslam, espalhando-se à sua esquerda, enorme, negra e assustadora.

𝑼𝒎𝒂 𝑼𝒍𝒕𝒊𝒎𝒂 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆 | ᴀs ᴄʀᴏ̂ɴɪᴄᴀs ᴅᴇ ɴᴀ́ʀɴɪᴀ | 𝓕𝓪𝓷𝓯𝓲𝓬Onde histórias criam vida. Descubra agora