Capítulo 11: Cai a Noite Sobre Nárnia

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O gigante lançou sua trombeta ao mar e esticou seu braço (que parecia ter quilômetros e quilômetros de comprimento) através do céu, alcançando o sol. Quando o agarrou, espremeu-o com a facilidade que você tem para espremer uma laranja, e imediatamente a escuridão surgiu, muito mais densa do que antes.

Junto com o breu, veio um frio cortante, que fez todos — com exceção de Aslam — darem um pulo para trás. A Porta já começava a ser tomada por cristaizinhos de gelo.

— Pedro, Grande Rei de Nárnia — chamou Aslam. — Feche a Porta.

Tremendo por conta do frio, Pedro empurrou a Porta com certo esforço, e ela se moveu ruidosamente, devido ao gelo que já avançava por baixo. Depois, pegou uma chave de ouro e a trancou.

Era o bastante.

Ao olharem em volta, todos tiveram uma sensação estranha, após terem visto tantas coisas peculiares através da Porta. Parecia até ridículo pensar que havia um mundo tomado pela escuridão bem atrás deles, quando a seu redor tudo era tão vivo, colorido e alegre.

Aslam, que de alguma forma conseguia sorrir com o olhar, virou-se, e, estalando a cauda contra o próprio corpo, disparou rumo ao Ocidente.

— Vamos! Continuem avançando! Continuem subindo! — gritou, por cima dos ombros.

— Mas quem poderia alcançá-lo nessa velocidade? — Eustáquio indagou, retoricamente, e eles começaram a caminhar na direção indicada pelo Leão.

— E assim — disse Pedro —, cai a noite sobre Nárnia. O quê, Lúcia?! Não me diga que está chorando! E você também, Susana?! Com Aslam à nossa frente e todo mundo aqui junto?

— Não tente nos impedir, Pedro — Susana pediu. — Aslam certamente não faria isso.

— Tenho certeza de que nada há de errado em chorar por causa de Nárnia — Anna, tentando enxugar as lágrimas que também banhavam seu rosto, assegurou.

— Pense só em quanta coisa está ali por trás daquela porta, tudo morto e congelado... — Lúcia completou.

— É mesmo. — Jill se pronunciou. — Eu bem que gostaria que aquilo tudo durasse para sempre. Eu sei que nosso mundo não poderia durar, mas nunca imaginei que Nárnia pudesse acabar um dia.

— Eu vi quando Nárnia começou — Lorde Digory contou. — Mas nunca pensei que viveria o suficiente para vê-la morrer.

— Senhores — disse Tirian —, as senhoras fazem muito bem em lamentar. Eu mesmo estou chorando, vejam. Acabo de assistir à morte de minha própria mãe; pois que outro mundo, além de Nárnia, eu já conheci? Deixar de pranteá-la não seria virtude alguma, e, sim, descortesia.

E eles foram se afastando da Porta, e mais ainda dos anões, ainda presos e amontoados em seu estábulo imaginário.

— Anna — disse Susana —, como sabia que as estrelas estavam caindo, antes mesmo de precipitarem em nossa direção?

— E como sabia que estavam sem forças para brilharem em Nárnia? — indagou Edmundo. — Você acabou adivinhando tudo.

— Não adivinhei nada. — Anna riu. — Eu só li as constelações.

— Como? — perguntou Pedro.

— Aprendi com os centauros, há muito tempo — respondeu ela. — Já passei muitas noites em claro conversando com eles e observando as estrelas. Não sei de tudo, óbvio, porque esse dom é todo deles, mas conheço muito sobre isso.

𝑼𝒎𝒂 𝑼𝒍𝒕𝒊𝒎𝒂 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆 | ᴀs ᴄʀᴏ̂ɴɪᴄᴀs ᴅᴇ ɴᴀ́ʀɴɪᴀ | 𝓕𝓪𝓷𝓯𝓲𝓬Onde histórias criam vida. Descubra agora