Prólogo

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Estava frio, muito frio. A neve já cobria todas as ruas e telhados de Joseon; cruzei meus braços para tentar me proteger do frio, mas é quase impossível.

Meus pés faziam pegadas na malha branca, emitiam um som oco. Não há uma pessoa nas ruas, se é que ainda estão vivas depois de ontem. O local fora invadido por tropas de outro reino, tudo foi queimado, derrubado; mulheres, crianças e homens foram mortos e seus corpos largados ao relento gélido do inverno.

Quando a notícia chegou ao rei, já era tarde demais. As tropas foram enviadas tarde demais e agora não resta nada. Os que sobrevieram foram levados para uma vila próxima e receberam alguma ajuda.

O vento frio bateu contra o meu rosto, pude sentir meus lábios racharem e meu rosto se encher de flocos. Balancei o corpo para tirar a neve gelada de cima das minhas roupas, mas parei ao ouvir o que parecia ser um choro.

Olho em volto, o vento chilreava e me impedia de identificar de onde vinha o choro.

- Quem está aí?

Perguntei esperando uma resposta; o choro cessou. Suspirei e continuei andando em círculos perto das casas para procurar o choro. Quem chorava? Não foram todos embora?

- S-senhor...

Ouvi a voz jovem atrás de mim, me virei e uma garota estava encolhida, com neve por toda sua roupa e cabelos. Dei uma passo à frente, mas ela recuou, parei.

- Sou soldado do rei, não vou machucar

A garota estava tremendo de frio, sua boca estava quase roxa, assim como seu corpo. A roupa rasgada nas pernas cobria até seu joelho e as mangas não existiam mais.

Ela não se mexeu, então me aproximei, tirei um dos meus casacos de pele e coloquei sobre seu corpo, dava para cobrí-la quase toda. A peguei no colo, ela não resistiu, já deve estar muito fraca devido ao frio.

(...)

Cheguei no acampamento; correndo até meu cavalo peguei um par de sapatos extra que tinha levado e coloquei em seus pés.

- Está grande, mas é só até chegarmos.

A coloquei sentada no animal, subi também e segurei as rédeas do bicho. Ajeitei o casaco sobre seu corpo, apoiei suas costas contra meu peito e olhei para a estrada.

- Deve dar tempo...

Sussurrei

- Vai!

Bati os pés contra o cavalo e ele começou a correr.

(...)

A Saga de JoseonOnde histórias criam vida. Descubra agora