Capítulo 13

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[Primeira parte do registro de Stephano]

08:45-

Primeiro dia depois do experimento, tudo está correndo bem. Não estou vendo nada ainda, além das pessoas do grupo. Algumas vezes as reuniões podem ficar bem entediantes, mas eu nem me importo mais. Estou esperando pelo efeito do experimento acontecer.

12:00-

Hora do almoço. Valquíria, Clarence e Valentina estão comigo no almoço, comendo um fast food. Odeio restaurantes assim, toda a gordura e as coisas nojentas, mas estou morrendo de fome. O efeito ainda não começou. Ainda. Espiando pela janela, vejo Oni falando com o filho, mas o filho dele está sempre calado. Pelo o que eu vejo, o filho não fala nada por que o pai o obriga ficar calado. Eu nunca faria isso com as minhas crianças.

17:30-

Cinco e meia, finalmente podemos ir embora. Me sinto meio tonto, minha visão ofusca e volta ao normal, em um ritmo que me causa náuseas. Eu e Valquíria voltamos a casa a pé, como Katherine usou o carro o dia todo. Ainda bem que é o último dia na escolinha da Isabelle, senti muita falta dela em Londres.

18:43-

Chegamos em casa, adoro ver minha família me esperando na porta de casa. Jean está provavelmente confinado no quarto dele, lendo, jogando videogame ou escutando música. Me pergunto se ele realmente se apaixonou pela Valquíria ou é um truque. Quer dizer, uma garota que escuta as bandas dele, joga videogame e gosta de coisas paranormais. E Jean é um pouco idiota, não sei se ela vai realmente gostar dele.

02:08-

Acordei no meio da noite com um sussurro. Não era Katherine, era um voz masculina, uma voz familiar. Eu escutava aquela voz quando era criança, mas não queria acreditar que era mesma voz. Talvez o experimento realmente fez o que deveria. Andei até o banheiro e continuei a escrever isso. Minha cabeça lateja, olho no espelho e vejo uma imagem que sempre me assombrou. Uma cópia minha, mas com os olhos pretos e vermelhos, dentes afiados e chifres. Um demônio. Meu demônio. Me lembro de o desenhar no meu tempo livre, eu o via desde que meus pais e minha irmã morreram.
A primeira vez que o vi foi no funeral de meus pais e minha irmã, eu fiquei ali chorando, um garotinho que nunca mais viria os pais nem sua pequena irmã. Um homem alto e esguio de terno se aproximou, mesmo com os dentes afiados, os olhos pretos com íris vermelha e os chifres, ele sorria para mim, estendendo sua mão. Até hoje me lembro das palavras dele: "Ninguém merece ficar assim. Ficarei sempre ao seu lado.", então segurei a mão dele. Um erro terrível.
Enfim, de volta ao presente, ele olhava para mim, ria da minha cara. Assim como sempre fazia.
"Nos encontramos de novo." Ele me disse "Mas você não mudou nada. Continua o mesmo fedelho chorão naquele funeral."
Lavei meu rosto e tentei me concentrar. Aquilo não era real, não era real. Eu não tinha motivo para vê-lo de novo. Sequei meu rosto e olhei para o espelho, via meu próprio reflexo. Nada demais. Senti algo tocar meu ombro, dedos finos. Ele ainda estava comigo.
"Seus pais odiavam fantasmas e coisas paranormais. Por que continua fazendo isso? Você odeia seus pais?" Ele ria de mim. Eu tentava segurar minhas lágrimas, mas ele não parava. Me sentei no chão do banheiro e me encolhi, abraçando minhas pernas e enterrando meu rosto nos meus joelhos.
"Ainda se escondendo? Se escondia na escola, se escondia em casa, se esconde em todos os lugares." Ele se sentou perto de mim.
"Pare com isso." Disse e me afastei um pouco. Mas ele me seguia sem parar. Ele sorriu para mim e segurou meus ombros.
"Acalme-se, criança." Ele disse.
Por fim, me levantei e voltei para a cama com Katherine.

06:57-

Acordei extremamente cansando. Queria ficar deitado dormindo o dia todo, mas tinha o grupo e tudo mais. Coloquei o velho suéter vermelho do meu pai e ajeitei um pouco meu cabelo, eu estava visualmente cansado. Com os nervos ardendo e minha visão ofuscando e voltando continuamente, fui fazer o café da manhã.
Jean estava dormindo no sofá de novo, rodeado por salgadinho, refrigerante e segurando um controle remoto. Às vezes eu quero que ele volte para a escola, pois ele é muito desleixado e preguiçoso. Malditas férias.
Me sentei e comecei a tomar o café, sentia minha cabeça como se ela pesasse uma tonelada. Era o efeito. Me fazia me sentir terrível, mas não poderia fazer nada.

[Nota da Valquíria: Nesse ponto, eu fiquei bem triste. Não sabia que o efeito era tão ruim assim. Vou continuar amanhã, já são 05:59 da manhã]

A Voz Oculta (A Portadora dos Sonhos 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora