Capítulo 8

29 1 0
                                    

Eu e Rima éramos as únicas na sala, com um milhão de caveiras nos observando. O cheiro era absolutamente insuportável, mas com o tempo me acostumei.

-O que foi? -ela perguntou. Ela estava triste, mas mesmo assim sorria. Ela era muito bonita, os cabelos longos e escuros com os olhos cor de mel acentuavam a delicadeza de seu rosto.

-Você sabe que Oni fez seu irmão se matar, não é? -perguntei calmamente, mas seu sorriso desapareceu.

-Eu sei. -antes que eu pudesse dizer algo, ela interrompeu- Mas não posso fazer nada.

Fiquei confusa. Em vez de fazer a justiça e mandar aquele maníaco para a cadeia, ela resolveu não fazer nada. Se fosse eu, faria do mesmo jeito.

-Oni me mandou uma carta ameaçadora. Se eu o denunciasse, ele me mataria e me esquartejaria, também disse que não me adiantava se esconder que ele iria me achar e me matar. -seu sorriso desaparece completamente- Não importa. Daqui a pouco estarei com ele.

Uma tristeza me lavou. Não queria que ela morresse, muito menos se matasse por causa de um efeito de uma droga. Ela era tão gentil e querida, se ela se fosse seria muito difícil, mesmo que não a conhecesse bem. Rima tinha um dom único, mas que o mundo não saberia por conta da sua morte.

-Deve ter uma cura. Não vá. -disse com lágrimas nos olhos.

-Bem, Shakur me disse que se a pessoa é convencida no dia final, ela sobrevive. Convencer não é fácil, ainda mais se não vem do coração. -ela disse calmamente

Me preocupei ainda mais. Stephano também está com esta mesma substância. Ele tem uma esposa e duas crianças. Não quero que ele se mate, ele é o melhor amigo que eu poderia querer. Assim que o conheci e ele me salvou da boneca, não sei como passaria os dias sem ver seu sorriso, sem vê-lo fazer piadas comigo, sem sentir aquele afeto que ele me oferece sem que eu peça.

Me ajoelhei e comecei a chorar. Com as mãos cruzadas sobre o meu coração, estava completamente frágil e vulnerável. Rima me abraçou e passou a mão no meu cabelo.

-Rima. -sequei as lágrimas- Volte para a Índia. Veja a sua família, conte sobre o que aconteceu e viva. Você não merece isso.

-Querida Valquíria... Não se preocupe comigo... Vou fazer o que quer e prometo viver como meu irmão não pôde. -ela sorriu calorosamente- Isso já é o bastante para que eu viva. Vou comprar a passagem e ir embora daqui.

Olhei para os lados. Nenhum sinal do Oni ou do filho Makoto. Não sei por que Makoto nunca fala nada, mas o pai deve o obrigar, sei lá. Parece até uma lenda urbana, todo esse drama e tal.

Assim, Rima apertou minha mão e andou até a saída, me deixando sozinha no meio do monte daqueles ossos.

Será que eu poderia ser perdoada por Jean Marco? Será que eu poderia perdoar meu pai? Será que poderia ME perdoar por deixar Stephano se suicidar?

Tenho tantas perguntas. Mas uma coisa de cada vez.

Fui até a saída e a neve estava caindo lindamente, como cristais frágeis e bonitos. Nunca tinha visto neve na vida, parecia que eu estava em um paraíso de gelo. Coloquei minha luva e peguei um pouco de gelo, formando uma bolinha de neve.

Enquanto me perdia na beleza da neve, senti uma coisa gelada batendo nas minhas costas, o que me fez soltar um pequeno grito. Olhei para trás e Steph estava lá, rindo da minha cara com a mesma intensidade de felicidade que tinha antes. Mesmo que estivesse no auge do suicídio, ainda poderia zoar com a minha cara.

-Fiquei te esperando por um bom tempo. -ele fez um carinho suave no meu cabelo, algo meio incomum- O quis falar com ela?

-Assunto de garotas. -sorri para ele. Para mim, ele ainda era o mesmo. O mesmo rosto, os mesmos olhos verde esmeralda, o mesmo cabelo preto liso que chegava a tocar os ombros e o mesmo sorriso gentil.

A Voz Oculta (A Portadora dos Sonhos 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora