Capítulo 16

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[A quarta parte do registro de Stephano]

Nota da Valquíria: Bem, aqui as coisas começam a ficar tensas. A letra começou a ficar tremida e tem um pouco de sangue no papel. Bem tenso.

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06:00-

Passei a noite em claro. Estava deitado na minha cama ao lado da minha esposa, mas me sentia vazio. Me levantei e me olhei no espelho, suspirando e dizendo para mim mesmo "não deixe ele vencer. Não deixe ele vencer". Antes que Katherine acordasse, escovei o cabelo, escovei os dentes e me arrumei o mais rápido que pudesse, ou ela veria o quão cansado eu estava e me faria um monte de perguntas.

06:15-

Jean ainda estava infeliz por causa da Valquíria ter saído com outro garoto. Eu geralmente iria debochar da cara dele, mas por algum motivo pensei que era errado. Se eu me sentia horrível com minhas falhas, por que faria o mesmo com Jean?
Com um sorriso, afaguei o cabelo (que por sinal era um corte ridículo, na minha opinião), o que o fez sorrir e o ajeitar de novo.
"Tudo bem ontem?" Ele perguntou "Ouvi uns barulhos lá em cima ontem a noite."
"Não era nada." Disse, mas menti "Nem se preocupa com isso."
Passei o café e esquentei umas panquecas de ontem. Começando a comer, Valquíria ainda não tinha ficado pronta. Por mais que eu tentasse, o demônio sempre estava lá. Ele me encarava com olhos vazios.
"Mano."
"Mano o que você está olhando?"
Olhei para Jean e pisquei. Ele estava confuso, mas eu não podia contar para ele, sempre que eu quisesse falar sobre o demônio, minha garganta fechava e eu não podia falar mais nada.
Limpei minha garganta e me levantei.
"Não foi nada. Apenas pensando." Rapidamente coloquei o casaco e sai de casa.

07:00-

Eu não aguento mais. Olho para o nada, mas o demônio sempre fica na minha frente, fazendo com que eu enlouqueça. Como sempre, eu sentava do lado de Clarence, meu amigo desde que éramos crianças. Ele falava sobre... Sobre... Sei lá. Esqueci.

12:00-

Clarence implorou que eu comesse algo hoje, mesmo que eu não estava com fome e queria vomitar se eu sentisse o cheiro de comida. Valquíria e Valentina vieram conosco, todos nós comemos no Mc Donald's. Eu odeio fast food, a fritura me deixa enjoado, mas eu tinha que convencer que eu estava bem. Então, deu para empurrar umas batatas fritas, mas eu ainda queria ficar sem comer.

14:05-

Quanto mais eu fico calado, mais eu via aquele demônio de merda. Eu não ouvia mais nada, apenas um zumbido agonizante, não era alto, mas baixo o suficiente para fazer qualquer pessoa perder a sanidade. Eu sentia mais frio que o normal, as caveiras dentro faziam com que eu me sentisse inferior, todos aqueles olhos vazios me encarando.

18:30-

Valquíria iria ficar um tempo falando com a Rima, então eu esperaria ela lá fora. Se ao menos ela soubesse o quão era importante dela ficar ao meu lado, para que eu não visse aquele rosto pálido encarando o meu. Mas ela foi mesmo assim.
"Saudade?" O demônio apareceu.
"Fique longe de mim." Disse, tentando conter as lágrimas. Geralmente, eu me esqueceria deste "demônio interior", como todo remédios todos os dias contra a depressão, mas não me lembro por que eu ainda via ele.

(Nota da Valquíria: Enquanto eu lia e escrevia no meu próprio registro, estava escrito "Altair" nas margens do papel. Ele me disse que se déssemos nomes aos demônios, eles se apegariam a você. Faz sentido agora, Altair era o nome do demônio.)

Sentei em um banco e o demônio me seguiu.
"Por que você está fazendo isso?" Eu perguntei.
"Por que está fazendo isso consigo mesmo?" Ele me respondeu.
Tirei as luvas e a ferida ficou exposta no frio, mandando calafrios pelo meu corpo. Foi um corte grande nos meus dedos, mas quase não sentia a dor.
"Não sei por que você ainda está vivo... Tantas vezes no olho do Ceifador, mesmo assim ainda está respirando." Ele suspirou "Você não se cansa? Você não quer estar vivo, isso por si já é verdade."
"Não é." Disse, rispidamente "Tenho uma esposa, dois filhos e pessoas incríveis ao meu lado. Eu não preciso de você e não quero morrer."
"Parece que aquela babaca de óculos está de volta." Ele apontou para Valquíria. Imediatamente fui até ela, atirando uma bola de neve nela para chamar a atenção. Eu gostava de tirar uma com a cara dela, mas era por que eu adorava ela.

Quanto tempo eu tenho mais?

20:46-

Enquanto eu e Valquíria preparávamos o jantar, o pai dela apareceu. Ele passou um bom tempo na casa de uma tal mulher, mas ele parecia bem assustado. Acontece que a tal mulher tentou matá-lo para roubar o dinheiro, uma coisa bem clichê. Eu sinto pena dele, mas não consigo parar de rir.

21:00-

Eu me lembro que semana passada quando Valquíria e eu estávamos tentando exorcizar a boneca, disse que não podíamos dar nome aos demônios por que eles nos apegariam a nós. Por causa disso esse demônio existe.
Assim que meus pais morreram, eu e meus irmãos tivemos que morar com meu tio em Nice por alguns meses até encontrarem um orfanato. O nome dele era Altair, tinha problemas com álcool e era muito agressivo, sempre que estava embriagado começava a bater em mim, e eu defendia meus irmãos.
Eu tive que aguentar as surras daquele filho da puta por quase quatro meses, até ele finalmente ir para a cadeia. Depois disso, nós três fomos mandados para um orfanato em Manchester, e eu via aquele demônio quase todos os dias. Como ele me maltratava como meu tio fazia comigo, o chamei de Altair.
Meu tio morreu, mas Altair continua a me atormentar até hoje. Eu não aguento mais isso.

03:00-
Acabei de tomar meus antidepressivos, mas não está adiantando.
Até agora eu estou dormindo mal, comendo mal e me relacionando mal. Estou extremamente exausto.
Sei que não posso deixar Katherine sozinha com as crianças, mas ela sabe que eu sempre estou a beira do suicídio, ela é a minha psicóloga.
Eu estou em um dilema e não sei como escapar.

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⏰ Última atualização: Sep 10, 2015 ⏰

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