Capítulo 4

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─Pode explicar de novo como esse negócio funciona? ─Clarence perguntou ao Oni enquanto ele preparava umas seringas e pílulas. Oni era japonês, ou seja, era umas cinquenta vezes mais inteligentes do que todos do grupo juntos.

─Veja bem. ─ele começou a explicar─ As pílulas estimulam as amígdalas, que são responsáveis das alucinações. Depois, injeto o conteúdo da seringa na veia, que estimula a parte do cérebro que mostra claramente os erros e falhas das pessoas.

Parecia loucura, mas parecia funcionar. O filho do Oni, Makoto, estava brincando no tablet com fones de ouvido, calado como sempre. Todo mundo estava assistindo Oni cuidadosamente limpando as seringas e injetando um líquido vermelho claro nelas.

─Preciso de voluntários. Shakur, Clarence e Valquíria. ─ele sorriu de um jeito sombrio.

Primeiramente, pensei ótimo, mais uma coisa que eu posso morrer mas não custava nada tentar. Clarence estava muito animado para começar, mas Stephano se levantou antes que o amigo (cofcof-amante-cofcof) dele pudesse falar.

─Espera. Eu faço por eles dois. Não precisa testar neles. ─ele disse, mas não sabia que ele estava realmente sendo gentil comigo e com Clarence.─ eu posso testar no lugar deles, eu e Rima.

Oni pareceu muito furioso, mas se acalmou e sorriu, Juntamente com ela, Shakur e sua irmã Rima e Steph caminharam até Oni, todos prontos para serem cobaias de um experimento muito bizarro.

─Não vai doer. Apenas relaxe. ─Oni instruiu e começou com Shakur. Ele cuidadosamente limpou o braço dele, preparando a pílula para ela tomar. Por algum motivo, todas as pílulas tinham cores diferentes, mas todas as seringas tinham o mesmo líquido. Shakur tomou a pílula verde e assim que engoliu, tomou a injeção em seu braço. Depois passou para Rima, mesmo procedimento, mas a pílula era laranja. Depois, finalmente foi para Stephano. A pílula dele era um verde água, mas ele mal sentiu dor ao levar a injeção no seu braço (se fosse eu estaria chorando antes mesmo que eu tomasse a injeção).

─Vai demorar uns dias, mas o efeito começa em poucas horas. ─Oni instruiu. Ele continuava falando, mas eu apenas olhava para Robert, que estava mexendo no celular. Ele era muito bonito, mas ainda não o conhecia, por isso ainda estava com dúvida. Jean Marco ou Robert? Jean Marco era até bonitinho, mas ainda não tenho certeza. Achar alguém bonito e amar alguém são duas coisas diferentes.

Me chamem de amarelona, mas estou aliviada por não ter que participar deste experimento doido. Não gosto de tomar injeções, muito menos tomar pílulas que eu nem conheço no seco (sem água). Pois é.

Olhei para Clarence e ele parecia muito abalado, como se realmente quisesse encontrar um Demônio Interior (segundo Freud, aquela vozinha chata que sempre nos diz como somos ruins, como somos inúteis... Tipo uma professora na mente), mas se Stephano se arriscaria isso por nós, mostrava que ele realmente era leal. Eu gosto dele nesse aspecto.

Enfim, a reunião acabou depois de um tempo e caminhei até a saída, aliviada de não sentir mais o cheiro horrível de ossos podres. Valentina estava lá, me esperando. Ela correu até mim e me abraçou, mas o contato era estranho. Começamos a caminhar até a direção do shopping mais próximo, não era tão distante.

Enquanto estávamos no shopping, Valentina foi comprar uns sapatos, mas eu estava muito entediada. Por sorte minha, fomos ao fliperama logo em seguida.

─Bem, se divirta enquanto eu compro algum presente para você! ─Ela sorriu e correu até as lojas, mas eu fiquei ali, jogando. Jogando por horas. Me lembrei do dia em que a minha mãe morreu, eu peguei o Atari 2600 do meu pai e joguei enquanto chorava, mas me deixava calma. O Atari 2600 foi a minha única saída por anos, todos na minha escola tinham Xbox 360, PlayStations, mas eu só tinha um Atari 2600 e um Nintendo Wii com poucos jogos. Só. O dinheiro do meu pai estava escasso e eu não tinha muito tempo pra jogar, mas eu ficava calma, ficava feliz.

Enquanto jogava um Space Invaders, meu pai me ligou. Ele ainda estava na casa daquela mulher, era irritante! Deixei o jogo de lado e o atendi.

─Fala. ─disse.

─Querida, quero que venha amanhã à casa da Mirage para que você possa conhece-la. ─ele disse─ você vai gostar dela!

Do outro lado da linha, ouvi uma risadinha muito irritante e algo em francês, mas já fiquei irritada. Se meu pai casar com ela, eu me mato. Pensei e suspirei.

─Amanhã não posso, tem reunião do grupo. ─falei meio rispidamente─ Pode ser sábado?

─Quando foi apropriado. ─ouvi uns sons de beijos. Nojento. E ele desligou na minha cara. Meu pai tá começando a me irritar com essa namorada, eu nunca vi ele tão apegado a uma mulher que não fosse minha mãe.

Avistei a Valentina acenando para mim com um monte de sacolas de compras nas mãos. Andei até ela e ela me entregou um pacotinho bonitinho.

─Vi isso e achei a sua cara! ─ela deu uma risadinha─ Abre ai!

Abri o pacotinho e tinha uma bandana roxo-escuro. Tá certo, eu não sou motoqueira ou caminhoneira, como isso era a minha cara?

Ela viu que eu estava confusa e enrolou a bandana em um rolinho e amarou-a no meu cabelo, como um lacinho. Olhei na câmera do meu celular e ficou até bonitinho, combinava comigo, mas precisava lavar meu cabelo ensebado. Enfim, abracei ela e agradeci pelo presente.

Andamos até as lanchonetes e pedimos algumas coisas, comemos e conversamos.

─Então... ─ela deu a sua risadinha─ Como é morar com Stephano?

─Normal. ─comi uma batatinha─ Nada demais, ele é meio mala, mas é o jeito dele.

─Ai, você é tão sortuda! Ele é tão bonito e perfeito!

Quase engasguei na minha bebida. Como. Assim. A Valentina tem uns parafusos faltando, só pode. “Uns”, não, MUITOS.

─Peraí, eu ouvi você direito?! ─falei.

─Ouviu sim! Com aqueles olhos lindos, o rosto dele, a personalidade, tudo! ─ela ficou vermelha e enrolou o cabelo ruivo encaracolado no dedo.─ Pena que ele tem uma esposa, mas isso não muda a minha opinião sobre ele!

─Ai. Meu. Deus. Valentina, tenta ficar com ele por um dia inteiro. Ai tu vai—

Ela me interrompeu com um berrinho. Credo.

─Ia ser perfeito! ─ela ficou mais vermelha ainda.  Eu quero pegar ela, levar o rosto dela bem perto do meu rosto e sussurrar “acorda”.

Enfim, já estávamos cansadas então Valentina pediu à avó dela que nos buscasse. Eu só queria dormir e tentar falar com meu pai. Mesmo que não quisesse falar com ele.

Chegando em casa, Jean Marco estava atirado no sofá com Arctic Monkeys tocando nos fones de ouvido pendurados no pescoço, jogando um jogo chamado Portal. O cabelo dele estava pro lado com gel, mas ele ainda estava bonito. Ele não reparou em mim, o que é ótimo, pois por enquanto só vou observar os dois garotos, Robert e Jean. Logo depois, vi Katherine, a esposa linda do Stephano. Não sei como, com dois filhos, ela está linda, magra e simplesmente cuidadosa.

Andei até meu quarto e tirei a bandana da minha cabeça. Estava muito desleixada, até para o meu nível. Mas, sei lá, sint falta do meu pai. Mas ao mesmo tempo queria deixá-lo, estava confusa ao seu respeito, Enquanto me sentava na cama pensativa, o meu celular toca, outro número desconhecido.

─Oi. ─é a voz de um garoto.

─Desculpa, quem é? ─disse.

─Aqui é o Robert, do grupo. Como tá ai?

COMO TODO MUNDO SABE MEU NÚMERO DE CELULAR?!

─Bem...

─Olha, quer sair comigo, sei lá, pra comer alguma coisa qualquer dia desses? Eu pago.

─Pode ser. Eu acho.

─Ótimo! Tchau!

E ele desligou. Eu vou ter um encontro com o Robert, isso é incrível! Ainda não sei se gosto 100% dele, mas com esse encontro posso confirmar minhas dúvidas!

A Voz Oculta (A Portadora dos Sonhos 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora