Intimidade

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Para o azar de Sarawat, depois do acontecimento no banho com Tine, ele estava tendo alguns desejos com muita frequência. Aquilo não era bom. Não quando odiava Tine com todas as forças. Ele podia ser lindo e fazer a sua boca salivar de tanto tesão, mas ainda o odiava. Ele era debochado e irritante, além de ter jogado cerveja em si. Demoraria para perdoá-lo, e quando perdoasse, ele continuaria sendo um debochado e irritante.

Como não estava com muita sorte, Tine ficou doente. Pegou uma gripe. Teve que ficar no quarto o tempo todo. Para onde Sarawat olhasse, Tine estava lá, com um sorriso maldoso, o encarando.

Um dia, Sarawat se estressou.

— Você tá olhando o quê?

— Eu tô só reparando no quanto você é bonito, Wat.

— Não me chama de Wat. Eu não tenho intimidade com você.

— Tem certeza? Tomamos banho juntos...

— Cala essa boca.

Parando para pensar, Sarawat e Tine realmente tinham uma intimidade. Além de serem colegas de quarto, batiam um papo vez ou outra, mesmo com as farpas que eram trocadas. Podiam ser o amigo um do outro, caso Sarawat não fosse tão mal-humorado. O engraçado era que, apesar do mau-humor constante e do ódio, Sarawat se sentia confortável com Tine, e ele havia percebido aquilo antes mesmo de tomar banho com ele. De alguma forma, um laço foi criado entre os dois, só em Sarawat odiá-lo e discutir com ele na maior parte do tempo.

Em uma tarde chuvosa, ainda com Tine gripado, Sarawat sentou-se na cama dele, marrento como sempre. Ele havia jogado uma sacola com remédios no colo de Tine, que, estranhando completamente toda a situação, deixou de lado o filme que assistia no notebook e encarou Sarawat, receoso em pegar a sacola.

— O que é isso?

— Remédio.

— Pra quem?

— Não seja um imbecil. É pra você. Pra quem mais seria? Tá vendo mais alguém doente nesse quarto?

— Ah. Nossa. — Estava realmente surpreso com o gesto gentil e com a quantidade de remédios na sacola. — Obrigado, Wat.

Sarawat nem mesmo protestou em ser chamado daquele jeitinho.

— Fique bom logo, antes que acabe passando esse vírus pra mim.

Tine abriu um sorriso tão grande que fez Sarawat formar uma careta, se levantar e andar até a sua cama, com raiva de si mesmo por ter ficado tímido.

Semanas mais tarde, Tine já estava melhor da gripe. Era a hora do almoço de um sábado, e ele estava pensando se convidava Sarawat para comer consigo. O pior que poderia acontecer era levar um "não" bem no meio da fuça.

Com a perna balançando em pura ansiedade, viu Sarawat acordar e olhar para si, juntando as sobrancelhas e virando para o outro lado. Tine riu.

— Wat.

Ele grunhiu.

— O que é?

— Quer ir almoçar comigo?

— Já é a hora do almoço?

— Já. Você dormiu demais.

Demorou alguns minutos até que Sarawat acordasse de verdade, lavasse o rosto e vestisse uma roupa limpa. Tine achou uma graça ele não ter dito que aceitava o convite. Ele simplesmente se arrumou e andou até a porta.

— Você vem ou não?

No restaurante, Tine quis conversar algo sério com Sarawat.

Tine já havia transado com algumas pessoas. Ele era bonito, tinha atitude, e era gentil também. Todos ficavam encantados com ele. Mas ele nunca, nunca viu alguém sentindo tanto prazer como Sarawat sentiu naquele banho. Não estava na pele dele, verdade, mas pôde sentir o corpo quente do colega de quarto, e viu suas expressões, e Tine também ouviu os gemidos manhosos, como ninguém nunca gemeu para si. A questão ali não era Tine se gabando, a questão ali era Sarawat que parecia nunca ter tido nenhuma relação sexual com alguém. Talvez ele fosse virgem. Precisava conversar com ele sobre aquele assunto, não porque estava curioso, e sim porque, a cada oportunidade que tivesse de conversar com Sarawat, era uma forma de conhecê-lo melhor.

Sentados, Tine esperou que Sarawat engolisse a comida para questionar:

— Você é virgem?

Para a surpresa de Tine, Sarawat o olhou não com raiva, mas assustado.

— O quê?

— Você ouviu. E, só pra você saber, tudo bem ser virgem. Sério. A sociedade quer enfiar sexo na gente quando a gente nem sabe o que é sexo direito. Perguntei isso pra você, porque... naquele dia... o dia do nosso banho... você... agiu como se nunca tivesse feito aquilo, como se fosse a primeira vez que sentisse prazer.

Sarawat ignorou a pergunta, e continuou comendo, em silêncio. Precisava de um tempo. Estava sem graça. Tine mexia consigo até com palavras. Estava começando a ficar apavorado.

— Eu odeio essa merda, Tine. — Desabafou, falando o nome do outro. Não falava o nome dele com muita frequência. Estava de cabeça baixa, terminando de comer aos poucos. Tine deu total atenção para ele, como se Sarawat fosse a única pessoa no mundo. — Eu odeio não conseguir sequer beijar ou transar com alguém. Afinal, qual é o problema? É só contato físico. Não deveria ser tão difícil. Mas é. Pra mim é. Eu odeio isso até mais do que odeio você. E, a única pessoa a quem consegui me entregar, é você. Você, Tine. Isso consegue ser mais contraditório? — Tine tentou não sorrir. Ele tentou muito. Mas estava tão feliz. O que aquilo significava não sabia, mas sabia que o corpo de Sarawat havia o escolhido. — Tira esse sorriso da cara.

— Não consigo. Eu tô muito satisfeito com essa descoberta.

— Satisfeito? Acha que eu fico satisfeito quando não consigo ficar de pau duro com alguém?

— Você ficou de pau duro comigo.

— Você é um imbecil.

— Um imbecil que te deu prazer e fez você gemer sem parar.

Sarawat queria se levantar e ir embora, mas estava, claro, excitado o suficiente para deixar a calça de moletom marcada. Por precaução, ele se sentou melhor, encostado na mesa, e, só para provocá-lo, Tine fez o mesmo. Estavam próximos, com os braços tocando um no outro, e duros pra cacete. A situação estava perigosa, mas satisfatória. Era bom sentir tudo aquilo.

— Sabe que eu posso oferecer mais do que um boquete a você, não sabe? — Sussurrou, se inclinando na direção dele. — Eu não tô oferecendo só uma foda, eu tô oferecendo... muito mais. Não me importo se você me odeia, não é recíproco. Gosto de você, Wat.

— Isso não é problema meu.

— Certo.

— Certo.

— A proposta ainda tá de pé. Agora que eu sei como o seu corpo reage quando tá comigo.

Sarawat riu, irônico. A cabeça estava baixa, os cabelos cobrindo os olhos, e o lábio sendo mordido. Infelizmente, Tine estava preocupado demais com o pobre coração para se deliciar com a cena.

— Eu nunca vou fazer isso com você. — Disse, não mais sorrindo, e não esperou uma resposta do colega de quarto.

Ele se levantou da mesa e saiu, sem rumo.

IncógnitaOnde histórias criam vida. Descubra agora