Explícito

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Sarawat já estava com as malas prontas para ir até a casa dos pais. Não sentia a mínima vontade em ir. Passou a semana toda pensando se levaria Tine consigo ou não. Levar Tine o animaria. A companhia dele o deixava de bom humor — apesar de não sair sorrindo por aí. Não seria um problema levá-lo para outra cidade, especialmente para a casa dos seus pais. Afinal, o Sr. e a Sra. Guntithanon sabiam o suficiente sobre o filho — especialmente sobre o garoto não sentir interesse apenas em mulheres. Contudo, aquele não era o tipo de assunto que importava para o casal. O problema daquela família era lidar com a raiva natural de Sarawat.

Ele lembrava-se com clareza da discussão com os pais. O seu pai o obrigou a passar um tempo com a avó que não encontrava há um tempo. Sua avó era uma senhora que amava cuidar de plantas, e era ativa, mas precisava de ajuda ainda assim, principalmente depois que se viu sem o marido. Sarawat não sabia ser cuidadoso, e quando a senhora acabou tropeçando a caindo quando o neto não estava por perto, o Sr. e a Sra. Guntithanon brigaram feio com o filho. O pai gritou consigo, e disse que ele não era um bom filho e nem um bom neto. O Sr. Guntithanon chorou como se fosse um garotinho, preocupado com a mãe. No outro dia, o assunto pareceu ter morrido. O clima ficou estranho por algumas semanas até Sarawat cansar de se sentir o culpado da história. Fugiu para a casa do amigo de infância, mais velho, já morando sozinho, e ficou escondido com ele até passar em uma universidade em outra cidade.

Agora, anos mais tarde e já no período de férias, Sarawat recebeu uma ligação do pai, o obrigando a ir visitá-los. Caso não fosse, ele mesmo iria buscá-lo pela orelha no dormitório. Para não passar vergonha, Sarawat aceitou por livre e espontânea pressão. Não queria ir. Só de pensar em ver os pais e a avó, sentia-se ansioso e nervoso. Ficar nervoso o deixava de mau-humor. Estava até com pena de Tine, mas não conseguia evitar. Ele ficava puxando assunto o tempo todo, e o abraçando nas horas erradas. Gostava de Tine, mas ele era um grude.

O pai de Sarawat fez questão de dizer que ele e a sua família tinham muito a conversar. Sarawat concordou com um resmungo, dizendo com ódio na voz que logo estaria lá. Dizer que Tine era o seu namorado não seria necessário. Se estivesse de bom humor, quem sabe, dissesse. Caso o contrário, não diria nada. Tine estaria lá ao seu lado, e a sua família que se esforçasse para entender o que estava acontecendo entre os dois — não tinha paciência para lidar com eles. Com ninguém, para ser sincero. Nunca entendeu muito bem o motivo de ser tão marrento. Talvez tivesse nascido assim, ou porque passou toda a puberdade sem transar com alguém, ou porque o seu namorado era chato e gostoso ao mesmo tempo.

Iria para a casa dos pais no dia seguinte e ainda não havia dito nada a Tine e nem resolvido se o chamaria ou não.

— O que você tá fazendo? — Perguntou, impaciente. Estava andando de um lado para o outro no quarto, e se frustrou quando Tine não perguntou o motivo da sua inquietude.

Tine tirou os olhos do livro que havia começado a ler e olhou Sarawat.

— Agora você quer conversar?

— Sim. Como o meu namorado, você deveria saber quando eu quero ou não conversar.

Ali estava o Tine bobo apaixonado. Ele gostava de lembrar dos detalhes da sua história com Sarawat. Conheceram-se odiando um ao outro, e depois passaram a ser colegas de quarto. Saber que começaram a namorar sem um pedido feito em voz alta o fazia rir. Sarawat e Tine tinham a consciência de pertencerem um ao outro. E sempre que Sarawat dizia que ele era o seu namorado, Tine ficava prestes a desmaiar. Tine ainda tentava entender como se apaixonou por aquele garoto misterioso, fechado e mal-humorado.

— Tudo bem, vamos conversar.

Com passos largos, Sarawat estava deitado ao lado de Tine, com a cara fechada e os braços cruzados. Tine deitou-se de lado para lhe dar espaço, — se amaldiçoando pela cama de solteiro ser tão estreita — e observou Sarawat. O rosto, os lábios, o cabelo. Ele finalmente havia cortado os fios. Agora não caíam pelos olhos. Os lábios continuavam meio machucados, principalmente o inferior. Em partes, Tine tinha culpa, já que adorava morder aquela boca quando estava o beijando. Por outro lado, Sarawat mesmo se mordia. Ele fazia aquilo frequentemente.

— Vou à casa dos meus pais amanhã.

— Estava desconfiando disso.

— Eu não tô animado, Tine. Na verdade, eu não quero ir.

— Por quê?

— É complicado. Problema familiar. Você entende?

— Não sei como é na pele. Sempre me dei muito bem com a minha família em geral.

— Claro que sim. Você é perfeito. — Revirou os olhos.

— Você sabe que não. Eu sou um imbecil, não sou?

— É mesmo.

Parando de rir aos poucos, Tine continuou:

— Mas entendo a sua situação. — Falou, cauteloso. Sarawat não estava de bom humor e não queria estressá-lo ainda mais. — Então, por que você vai, se não quer?

— Meu pai me obrigou. Se eu não for, ele vem me buscar pela orelha.

— Isso seria engraçado de ver. — Sarawat o beliscou no braço. — Ai!

— Você mereceu. Acharia engraçado a cena? Quer que eu puxe a sua orelha também?

— Não! Se acalma, marrentinho. Olha só... eu acho que, se o seu pai quer que você vá, é porque ele... não sei, sente a sua falta, talvez. Há quanto tempo vocês não se encontram?

— Faz muitos anos.

— Entendi.

Tine não quis perguntar o motivo de tudo aquilo. Esperaria que Sarawat o dissesse quando quisesse.

— Tine. — O chamou. Mordeu o lábio de leve, nervoso, ainda olhando o teto.

— Sim?

— Você quer ir comigo?

— Sério?

— Vou me sentir melhor.

— Como o seu namorado?

— Ainda não pensei sobre isso.

— Seus pais sabem sobre você?

— Sabem, mas esse não é o problema.

— Certo. Se é isso que você quer, eu vou.

— Então é bom que não se atrase. — Levantou-se da cama, mais relaxado. Estava até com um sorrisinho. — Se você não acordar, eu vou embora e deixo você aqui. Entendeu?

— Entendi. — Respondeu, rindo.

Achava uma graça a forma como Sarawat o tratava. Era diferente de tudo e todos. Aquilo chamou a sua atenção no início. Meio que gostava. Gostava bastante, até.

IncógnitaOnde histórias criam vida. Descubra agora