Eu já havia ligado para todos os números que circulei na lista telefônica sem nenhum resultado. Naquela altura, eu só aguardava ansiosa a ligação de Simas enquanto brincava com os pés para bloquear a iluminação amarelada do quarto.
Desde que vi aquele homem de preto na cafeteria, a minha mente estava mais dispersa e exausta que o normal. Não importava se fechava os olhos ou se passava horas olhando para a paisagem na janela. Na minha mente só estava ele, ele e aquela sensação estranha de não sentir a minha própria pele como no dia em que Had morreu, mas sem fome, sem medo, sem frio... Só poder.
Um som repentino na porta, fez eu me sentar na cama e vestir uma calça e colocar o tênis. Apresentável? Claro que não. Eu queria estar pelo menos vestida se precisasse correr.
– Só um instante! – avisei enquanto empurrava a arma, a mochila e a caixa para debaixo da cama.
Andei até a porta passando os dedos pelo cabelo na tentativa de desamassá-lo. Ao abri-la me deparei com um homem de meia-idade parado em minha frente. Demorei um pouco para associá-lo ao dono do carro que quase me atropelou de manhã. Ele parecia bem rígido de perto, escondendo as grandes mãos no bolso do paletó.
– No que posso ajudar? – perguntei apoiando um dos braços no batente da porta. Ele era alto o suficiente para ignorar o ato.
– Sou Constâncio Blecher, dono do hotel. – se apresentou esticando a mão para me cumprimentar.
Blecher? Blecher como a estátua? Não literalmente, mas ainda um herdeiro dos fundadores. Claramente rico e influente. Às vezes, sinônimo de perigoso com toda essa prepotência. Devia ser por isso que meus dedos gelaram.
– Serena. – apertei sua mão que permanecia pacientemente estendida.
– Queria pedir desculpas pessoalmente pelo incidente da manhã anterior. Meu motorista passou horas dirigindo até aqui, não estava em boas condições. – Ao mesmo tempo que falava, uma cicatriz funda se deixava mais visível. A mesma se estendia do pescoço e desaparecia na gola da camisa.
– Eu tô bem. De verdade. Sem problemas.
Tentei finalizar, o que o deixou levemente irritado.
– Não acho que perder a vida é uma situação que deva ser respondida com "sem problemas", não concorda senhorita?
– Eu não quis...
– É claro que não. – Aqueles olhos negros e brilhantes me encaravam de cima e me impediam de pensar em uma resposta.
Alguém entrou e isso chamou a atenção do Sr. Blecher, mas os meus olhos ficaram fixos em sua gravata vermelha. Ele relaxou os ombros, respirou fundo e deu um sorriso frustrado balançando a cabeça.
– Novamente, aceite as minhas sinceras desculpas sem questionamentos. Tenha uma boa noite.
Constâncio se retirou desabotoando o terno e de imediato o ar esquentou.
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Amarras de Prata Rubra | Presa
WerewolfDisseram que fora um acidente na beira da estrada. Eles estavam enganados. Fora um assassinato brutal, ela viu tudo pelos olhos do perseguidor, e não tinha dúvidas que logo logo chegaria a sua vez. Seu corpo não lhe pertence, sua mente não é mais co...