Não sabíamos o quê ou o porquê o soldado havia aparecido em frente a casa pela manhã, porém tínhamos a impressão de que algo muito estranho estava prestes a acontecer.
Como se desde que cheguei as coisas tivessem sido normais.
Calel o prendeu no porão de Ully, mas aquilo não o deu mais segurança. Ele andava de um lado para o outro na cozinha e eu comecei a checar as janelas o tempo todo como Had fez durante toda minha infância. Talvez fosse um karma e eu logo entenderia como era estar no lugar de uma protetora.
– Não podemos ficar aqui dentro para sempre. – Tobias estava inflexível.
Ele tinha acendido um cigarro e o segurava com dificuldade entre os dedos. Às vezes arriscava uns esforços com o lado machucado, no entanto desistia com uma careta e alguns xingamentos. Eu admirava ainda conseguir falar tanto, ele estava entupido de remédios para dor, além de ter perdido uma quantia considerável de sangue.
– Não estamos nem um dia aqui. – Calel retrucou.
– Está anoitecendo e você está paranoico com um soldado.
– Acha que é um aviso? – aquilo me fez deixar a cortina de lado e me acomodar pensando em todas as possibilidades.
– Pelo que conheço o meu pai, não. Ele não dá avisos presenciais tão singelos assim. – ele finalmente sentou no sofá ao meu lado.
– Vão colocar o cão de guarda para fora? – Tobias apagou a bituca na mesinha de centro. – Foi por causa dele que soubemos da chegada do cara.
– E por causa dele, quase não restou nada do mesmo cara. – rebati.
– Achei que fosse matá-lo. – Calel me fitou.
Comprimi os lábios e ele automaticamente entendeu.
– Não importa o quanto queira, não mate. Ele é nossa moeda de troca.
– Eu não mato.
Calel deu um sorrisinho.
– Falando em moeda de troca: ótimos poderes, Serena. – Tobias tinha um jeito ácido de levar as coisas, o que me fez ver o elogio como um grande insulto.
À sua maneira, Tobias queria ver onde aquilo iria chegar.
– Não dê a ela esse tipo de incentivo. – Ully chegou trazendo algumas latinhas e pondo-as na mesa. – Refri?
– Tem café? – Calel procurou em meio as latinhas.
Café enlatado parecia piada quando lembrei que Calel tinha um cheiro de cafeína impregnado até nas roupas.
– Que café, príncipe. Tem cerveja?
– Deve ter esquecido que eu não bebo. – Ully frustrado abriu uma latinha.
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Amarras de Prata Rubra | Presa
LobisomemDisseram que fora um acidente na beira da estrada. Eles estavam enganados. Fora um assassinato brutal, ela viu tudo pelos olhos do perseguidor, e não tinha dúvidas que logo logo chegaria a sua vez. Seu corpo não lhe pertence, sua mente não é mais co...