capítulo 11

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        Frio

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        Frio. Frio suficiente para me congelar em algumas horas e as mangas longas da minha camisa fina não fariam diferença. Eu não pretendia me levantar, nem tinha tanta força para isso. Na verdade, eu não queria ter. Estava acordado a dias, nada me deixava dormir. A porta parecia abrir todas as noites para que alguém espiasse, os soldados estavam cochichando e Constâncio estava sempre me encarando do outro lado da mesa de jantar.

Tive que deixar o castelo, mesmo que por algumas horas e por isso estava caminhando pela floresta. Caminhava até um campo depois das árvores fechadas quase todas as tardes, mas Eeth me acompanhava – menos hoje que menti dizendo estar ocupado.

Quando cheguei ao campo, meus pés descalços estavam sujos e doloridos e eu não sentia mais as pontas dos dedos. Despenquei na grama assistindo o tempo se fechar sobre mim, logo iria chover. Eu esperaria até que isso acontecesse. Fechei os olhos e a dor distanciou todos os pensamentos embaralhados que me perseguiram por dias.

– Pegou o caminho mais difícil hoje.

Eu reconheci a voz, mas não abri para ver.

– O que faz aqui, Eeth? Eu disse que estava ocupado. – resmunguei.

– Eu trouxe café. – essa frase foi o suficiente para que eu me sentasse para encará-lo.

Ele estava de pé sorrindo com os seus livros de história debaixo do braço pouco musculoso e vestia um casaco extra maior do que o corpo.

– E comprei outro frasco de remédio para dormir para você. – se sentou ao meu lado e me entregou um dos copos e o remédio. – Não é para tomar junto.

Continuei olhando para ele enquanto ele tirava o casaco e colocava em volta do meu corpo. Eu amava aquele garoto, tinha certeza. Os olhos azuis, a pele clara demais, o sorriso raro quando acertava algo e como sempre sabia o que fazer. Eeth me salvava, mesmo sendo eu o com o título de protetor.

– Estava se castigando? – bebericou o café tradicional que era o seu favorito e apontou para baixo..

Observei os cortes nas laterais dos meus pés e alguns sangravam.

– Só ocupando a cabeça.

– É o seu jeito de dizer "Sim, eu estava". Não faça mais isso. – ele ficou mais sério e franziu as sobrancelhas. – O que aconteceu, Calel?

– Nada importante, deve ser o estresse da lua nova. – dei de ombros.

– E por isso não respondeu às minhas mensagens? – confirmei e esperava que parasse por ali. – Dos três dias e as chamadas? Eu conheço você, o telefone nem toca e você já atende e é o mesmo com as mensagens. O que está acontecendo?

– Nesses três dias descobri umas coisas sobre a minha mãe. – comecei.

– Então você desceu lá sozinho.

– Isso. – preferi não falar sobre Manon. – Eu encontrei ele, Eeth, mas não sei mais se ainda quero isso.

– Como assim? Você começou com isso. Tirou a Serena do quarto, queria a verdade sobre tudo e...

– Mas a verdade não inclui o fato de o meu irmão ser meio-caçador e da minha mãe ser uma traidora da própria espécie!

Tudo ficou em silêncio. Eeth não tinha palavras ou tinha algumas tão severas que preferiu nem abrir a boca. Ele sabia de toda a história que me contavam sobre ela. Pelo menos a que eu lembrava até os dez.

A história da rainha amada. Da alfa que se uniu ao soberano na primeira mistura entre clãs. "Justiça e Lealdade como um caminho para a prosperidade", Constâncio disse uma vez enquanto eu lia sobre a hierarquia da nossa espécie. Diziam que ela tinha um sorriso tão belo que iluminava o dia mais sombrio, um coração leal e um lindo cabelo ruivo que eu herdei, e o qual o soberano odeia tanto. Diziam que ele a amava muito e que os caçadores a tiraram de mim. Sempre diziam algo sobre ela... E quando se diz muito é fácil saber que é uma mentira.

Não havia quadros da "adorada rainha". Nem mencionavam mais o seu nome porque Constâncio estava em um luto eterno, ao menos que fosse para falar sobre os caçadores. O clã da lealdade foi dizimado por completo, sem escrituras, protetores ou até mesmo um memorial. Ninguém passa pelo território e os túneis para o castelo foram lacrados e bloqueados por concreto. Esquecidos. Menos o ódio, esse era sempre disseminado e Constâncio fez questão de me ensiná-lo.

– Ele matou ela, Eeth. – o encarei certo do que estava dizendo.

– Não vamos nos precipitar. O soberano é capaz de qualquer coisa para consertar a bolha que construiu. – engoliu em seco ainda tentando encontrar sentido em minhas palavras.

– Eu não estou fazendo uma suposição. – garanti. – Ele matou a minha mãe e colocou coisas na minha cabeça! Não tem como mentir mais sobre isso, Eeth.

– Mas o clã Vogel foi dizimado por caçadores, o território sempre esteve aos pedaços e...

– E não tem mais nada. – o interrompi não querendo me exaltar com justificativas rasas. – É só isso que sabemos. Se os caçadores foram fortes o suficiente naquele inverno, por que não acabaram logo com todo mundo? Nem você pode justificar isso.

– E o que vamos fazer? – ele segurou uma das minhas mãos e os seus olhos azuis estavam mais cinzentos.

– Reúna os outros no castelo, vou buscar o Ully na casa dele e encontro você lá... Vamos continuar com o plano. – disse com firmeza. – Mas eles não vão deixar isso acontecer. Os protetores.

– Então seremos desertores. – Eeth sorriu.

🌒🌕🌘

Oi, Lupinos! Tudo bem com vocês?🥰💕

Depois de um grande bloqueio criativo, consegui terminar esse capítulo e o próximo já está em produção. Espero que estejam gostando da história e da perspectiva do Calel.💕

Muito obrigado pela leitura, não esqueçam de votar e até o próximo capítulo!

Com muito amor, Oli💕

Amarras de Prata Rubra | PresaOnde histórias criam vida. Descubra agora