capítulo 6

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        Acordei com o estrondo de um dos portões sendo fechado

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        Acordei com o estrondo de um dos portões sendo fechado. As luzes principais foram apagadas deixando apenas pequenos focos avermelhados das luzes de emergência.

Quanto vermelho.

Não estava mais com os pulsos enrolados por correntes. Agora, o meu corpo repousava em um colchão fino sujo de terra no canto da cela. A queimadura ardia no pescoço e, com a ponta fria dos dedos, percebi que estava meio inchada.

Encarei o teto enegrecido pensando que eu estava quase lá. Quase livre de algo que eu nem sabia bem como descrever, mas entender seria a porta de saída. Um demônio que tinha rosto e certeza de liderança. E eu iria acabar entre seus dentes – nunca vi um sorriso sequer de Calel para me certificar de que eram pontudos. Talvez alguém que assistiu uma morte, como Calel assistira a de Had naquela noite, não tivesse qualquer humanidade nos lábios. Na verdade, não fazia diferença ele ter, contanto que não deixasse que Valentine acabasse comigo.

A general devia ter cortado muitas gargantas naquelas celas. Torturado tantos prisioneiros e alimentado a corte do rei com a carne. Uma verdadeira sanguinária com um sorriso orgulhoso e medalhas no peito, mas por quê? E por que mergulhar em uma devoção tão cega ao ponto de odiar a própria irmã por salvar a filha? Devo ser mais uma aberração como eles ou pior para temerem.

Não queria chorar, mas era inevitável. Meus dias estavam contados e eu não consegui viver nada de verdade. Sobrevivi sem saber o significado disso e existi sem ninguém realmente saber desse fato. A pior sensação: não saber o que sou acompanhado do que nunca vou ser.

Tentar parecer significante em uma busca cega acabou me cansando.

Esfreguei os olhos para limpar a visão e me sentei um pouco.

Totalmente sozinha outra vez.

Senti um aperto no peito e uma morbidez crescente enquanto encarava o vazio da cela. Frio, medo e exaustão tilintando pelo meu corpo. Aos poucos o tanto que respirava já parecia insuficiente e posteriormente já ofegava. Só fui capaz de abraçar os joelhos e esperar que alguém viesse...

– Não chore. – murmurou rouco alguém do outro lado do corredor.

A cama rangeu alto quando me coloquei de pé às pressas, observando com cautela o cenário rubro. Procurei alguém pelas sombras, mas não encontrei nada.

Finalmente uma silhueta se definiu entre as listras no cárcere à minha frente. Fiz uma cara feia com um desconforto subindo pela espinha.

Será que cheguei ao ápice da minha loucura? Ficar assim nunca foi bom pra mim.

As luzes brancas foram acesas e a coloração transbordou um cálido azul.

Não pude acreditar no que estava vendo. Era tão real quanto o ferro que nos separava.

Um homem sujo com o cabelo ruivo emaranhado e encardido me encarava do outro lado do corredor. Haviam duas grandes argolas de ferro em seus pés descalços para que não escapasse. Eu me recordava da aparência decrépita do homem com quem dividi o ônibus alguns dias atrás. Mas ele estava pior, mais sujo, mais abatido, e preso. Só que além disso, havia algo mais do qual eu não estava lembrada. Algo em seu rosto...

Amarras de Prata Rubra | PresaOnde histórias criam vida. Descubra agora