N°17

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- Merda, merda, merda, merda- praguejei enquanto vestia, Ahh Mônica, sempre te gostei e agora te tornas numa empata foda? Triste.
Maia- o que eu faço?
- Cala a boca e fica quieta- depois de eu colocar a camisola do João que me ficava como um vestido, com um colã curto no fundo ue nem aparecia, calcei as minhas converse e como alguém que acabou de se vestir sai de lá e fui até a Mónica.
- Oiii Mônica.
Mônica- Olá criança- ela aperta as minhas bochechas, vício feio ein- o Anastácio me contou o que aconteceu e decidi ver como estás.
- Eu estou bem Mônica, sei lidar com esse tipo de palhaços.
Mônica- queria é ter visto a cena, com certeza foi hilariante.- eu ri pela empolgação dela.
- Foi demais, eles saíram a olhar para o chão, mas foi merecido, onde já se viu?...
Mônica- humilhar uma preta dessas- ela completou a frase que eu dizia sempre depois de ver algum caso de racismo contra uma mulher.- bom eu já vou, queres uma boleia?
- Não precisas minha kota, vou a caminhar mesmo, preciso de deixar um pouco o sedentarismo antes que ele me mate.
Mônica- está bem então, até amanhã miúda.
- Até Mônica.- esperei ela sair e fui ver a intrusa no quarto dos fundos.
Maia- e então?
- E então a merda, e se te encontrassem aqui? Eu ia ser despedida na hora.
Maia- fala como se não tivesse gostado.
- Eu ouvi isso, agora vamos, antes que mais alguém decida conversar comigo.- peguei na mão dela e saímos pelas portas da traseira, já fora eu sento no chão, de repente senti um aperto e comecei a passar mal, algo não está certo, e eu sinto que é com a minha pequena.
Maia- eu o que foi?- ajoelha a minha frente com um olhar de preocupação, eu não conseguia explicar nada.
- Chama um táxi, rápido, rápido por favor- eu não parava de chorar, detesto esse sexto sentido que me deixa sentir tudo tão forte.
Maia- calma, eu já chamei, mas o que foi? Eu estou a ficar preocupada.
- Eu explico depois.
Não demorou muito e o táxi chegou, eu dei o endereço da Lia com a Maia sem saber o que estava a acontecer, eu já explico, eu só preciso de ver os meus amores, só isso.
Ao chegarmos ao endereço eu noto as cortinas fechadas e um silêncio total, o que é muito estranho porque a casa tem sempre que estar com as cortinas abertas, para poder entrar o sol normalmente, a Maia paga o táxi e eu vou até ao vaso do lado de fora da varanda e tiro a chave, ao abrir em case desmaio, a Lia está pálida no chão e a Ângela está ao lado a chorar baixo, parece estar a chorar a muito tempo.
- Oh, meu anjo, vem minha bebê, shiiii, não chora, não chora- coloco o junto o indicador e o dedo do meio e ponho no pescoço da Lia, a respiração estava fraca, Oh meu Deus, porquê isso agora? Porquê?- Maia!- grito- Maia chama a ambulância pelo amor de Deus, chama rápido- eu queria chorar, muito, mas eu tinha que ser forte pela Ângela, eu tinha que ser.
Vou a geladeira e retiro um biberão com leite, ponho a aquecer e enquanto isso vou dar um banho a minha pequena que agora está mais calma, depois de limpa e alimentada ela dorme fácil nos meus braços e aí a ambulância chega.
Enquanto carregam o corpo da Lia numa maca eu quase caiu no chão e desabo aí mesmo, mas não, tive que preparar a mochila da Ângela as presas e correr para entrar na ambulância com a Lia, a Maia me seguia sem perguntar nada. Já no hospital eu continuava com a Ângela a dormir no berço, a Maia me olhava com curiosidade e então eu decidi explicar.
- Aquela menina nas emergências é a Lia, essa aqui é a Ângela, a nossa pequena rosa, a Lia não tem família, veio aqui quando os pais morreram, filha única, veio a procura de melhores condições, só que aqui ela foi estuprada, o jovem graças a Deus foi preso, mas ela engravidou- limpo as lágrimas chatas que insistem em cair- ela com 17 anos, sem família, estuprada e com uma vida, graças a Deus ela foi forte o suficiente para carregar a nossa pequena, eu a encontrei uma vez no parque, uma semana depois de ter chegado aqui, ela estava com a bolsa rebentada e quase desmaiada no banco, eu a meti num táxi e fui com ela ao hospital, tiveram que optar pela cesariana porque a Lia estava desmaiada, a Ângela nasceu bem, saudável, com 2.789kg e a chorar muito alto, já a Lia ficou quase um mês na UTI, nesse tempo eu quase vivia no hospital, as enfermeiras me ajudavam a cuidar da bebê, a Lia não tinha leite então desde bebê ela tomou leite de vaca, o que só a deixou mais forte, depois da Lia ir para casa eu passei a ir lá sempre.
Maia- é por isso que a Viola e o João sempre reclamavam que havia sempre uma hora do dia em que tu desaparecias e ninguém conseguia comunicar contigo, eles pensaram que estavas envolvidas com drogas ou dívidas- se não fosse pela preocupação eu iria dar lindas gargalhadas acreditem.
- Não, eu estava sempre lá, a Lia não tinha nada a não ser o que eu comprei quando estavam no hospital, eu, com o meu salário é as vezes o dinheiro da mesada que o meu pai manda é que comprei tudo, um mês depois nos descobrimos que a Lia tem câncer da mama, o tratamento é muito caro mas graças a Deus o hospital faz de graça, ela estava a reagir tão bem, ela estava tão plena e feliz, eu não sei o que aconteceu Maia eu não sei, ela é a única pessoa que a pequena Ângela tem.
Maia- shiii, não é verdade Dinely, ela tem a ti, tu és praticamente a segunda mãe dessa menina, eu vi como ela se acalma no teu colo e como já está acostumada com o teu cheiro, não te preocupes, tudo vai correr bem calma.- e lá, com a minha pequena a dormir e a minha guerreira nas emergências, depois de ter revelado o meu seguedinho eu chorei, chorei porque eu não podia perder as minhas miúdas, é como se as duas fossem responsabilidade minha, eu só não podia as perder, no meio de tanto choro eu acabei por ser levada pelo sono, acordo uma hora depois com as tentativas falhas de manter uma conversa da Ângela.
Maia- então bebê? Vida boa? O que achas do tempo hoje?- a Maia perguntava enquanto a Ângela só queria arrancar os brincos da orelha dela.
Ângela- ihhh babababa, baaaaa, Ahhh ma,ihh ma.
Maia- o quê? Você tem fominha? Tem fominha bola de carne- eu ri e as duas olharam para mim.
- Bola de carne?- pego a Ângela que já esticava os braços para a minha direção- você chamou bola de carne na minha pimentinha? Ela chamou a minha pimentinha de bola de carne eh? Pimentinha da mamãe éh- eu dava beijos esquimó nela enquanto ela quase chorava de rir.
Ângela- mama, mamaaa mama.
Maia- ela te chamou de mamã.- sorri com a admiração nos olhos dela.
- Eh, estamos assim a quase um mês, meti ela sentada no meu colo enquanto procurava a bolacha que eu guardei no carrinho.
Maia- e como é que te sentiste na primeira vez?
- Eu chorei por quase meia hora, eu estava a meter a Lia na cama, ela quase a dormir e a Ângela também, no meu colo, ela pegou o meu dedo e disse "mamã" bem atropelado, a Lia riu e disse "a nossa mamã" e eu lá toda derretida a chorar como se tivesse ganhado na loteria.
Maia- e não é cansativo para ti?
- Ohh é, é muito, ter que conciliar a escola, o trabalho e a saúde das minhas meninas é difícil, mas elas têm uma vizinha ótima que ajuda sempre quando eu não estou, por isso eu estou longe de qualquer tipo de relação que possa me roubar tempo, elas precisam de mim.- dei a segunda bolacha na Ângela que mais sujava do que comia.
Maia- tu me surpreendes a cada dia que passa- sorriu e eu dei um sorriso também, até que o doutor chega e chama:

Doutor- familiares da Lia Teixeira.
- Aqui Doutor.
Doutor- a menina é?
- Mãe, dou mãe.- o doutor ficou espantado mas não questionou.
Doutor- a menina Lia está a rejeitar o tratamento de uma maneira muito violenta, já quase não tem defesa no corpo- nesse momento as minhas pernas vacilaram e eu só não caí com a Ângela no chão porque a Maia me segurou- nos vamos manter ela aqui na UTI, mas infelizmente ela tem poucos dias de vida.
Maia- Dinely? Dinely?
- Segura a Ângela- depois de entregar a Ângela para ela eu desmaiei, era o que o meu corpo precisava.

E o voto?
Vocês não votam meu amores
Assim fica complicado para mim.

O que acharam dessa surpresa?
O que vai acontecer com a Lia? E a Ângela? Será que vai para a adoção?

Vamos esperar né leimores.

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