Peter Parker
Uma noite em Manhattan seria totalmente incomum se não houvessem os crimes rotineiros. Quem me dera ter apenas um dia de paz, onde eu pudesse aproveitar a brisa fria da madrugada, conversar comigo mesmo sobre minhas paranoias que acabo de descobrir e partilhar uma pizza sozinho na cobertura e um prédio.
Não digo que é ruim, é o meu trabalho. Na verdade, sempre tem como piorar. Eles sempre voltam porque eu não posso neutralizá-los, não porque não posso, é porque não quero.
Porém, na existência de alguém bom, sempre haverá o "menos bom". Não gosto muito de sua presença enquanto cumpro minhas missões diárias, mas ao menos ele me dá o suporte necessário. Deadpool mata por dinheiro, e algumas vezes porque quer mesmo. Eu tento dar uma lição de moral ou impedí-lo na marra de assassinar os ladrões de bolsa, as vezes eu consigo. Entretanto, temo o que esse cara pode fazer quando eu não estou perto.
O mercenário e eu estamos convivendo juntos por uns bons anos, conheci-o quando ainda nem tinha a maioridade. Foram muitas missões com essa mesma dupla, desde impedir simples furtos até destruições quase colossais. Demos muita bola fora, brigamos o tempo todo, mas sempre temos aquela harmonia. O silêncio deixou de ser ensurdecedor e passou a ser algo delicioso de se presenciar, pois eu sabia que ele estava junto a mim.
Ambos perdemos alguém em nossa jornada, apoiamos um ao outro nesses momentos, o abraço era caloroso em meio aos choros compulsivos. O sorriso por baixo da máscara aquecia o coração partido. As palavras proferidas eram como o segundo aperto no corpo.
Para a população nova iorquina, somos a dupla imbatível. Os vilões temem se esbarrar em nós, pois sabem que o final do seu crime é a prisão ou morte, repudio essa última parte, portanto tento apaziguar a situação ao máximo.
Voltamos das missões com extrema fome, então pedimos comida nos restaurantes mais populares da cidade, pedindo para que o entregador faça uma forcinha para subir até a cobertura do prédio. A diferença do homem, ou seja eu, para os garotos, vulgo Deadpool, é o quanto seu estômago pode aguentar. Normalmente faço as três refeições, mas a última sempre é mais completa. O mercenário ri do tanto de alimento que coloco num prato e logo devoro, enquanto ele ainda não passa da primeira repetição. Acho que entendi o motivo de nunca me levarem para um restaurante.
Com o nosso relacionamento mais próximo, ambos conquistamos a confiança um do outro para revelarmos as nossas identidades. Foi uma surpresa para nós dois. Deadpool tinha uma aparência que eu jamais conseguiria distinguir, sua pele parecia enrugada ou algo assim, mas eu não o achava nojento ou feio. O mercenário, por outro lado, quase deixou o queixo cair, modéstia a parte. Foi uma cena um tanto estranha, mas que guardei na memória até os dias de hoje.
Uma coisa que passou a ficar frequente foi a questão das investidas que ele dava em mim. Eu nunca demonstrei interesse em homens, portanto, não me incomodava com os comentários corriqueiros. Tem certas coisas naquele homem que eu apenas ignoro.
Porém, com o passar dos acontecimentos, comecei a pensar mais em mim mesmo, no sentido de me questionar. Antes de dormir, eu refletia sobre o dia, imaginava o que podia ter, ou não, feito, o que daria para consertar e, até mesmo, alguma forma de calar a boca do Jameson sem parar na capa do jornal do dia seguinte.
Chegou um momento em que eu passei a aceitar seus flertes, até mesmo a correpondê-los, o que resultou num namoro que ainda dura até os dias atuais. Deadpool tem seus lados extremos, o amoroso e não tão amoroso. Das duas formas eu não saio bem. Ou fico com marcas de abraços ou com algumas mordidas e arranhões pelo corpo inteiro. Eu sempre reclamo da minha performance nas lutas no dia seguinte, mas ele só debocha da minha cara e diz que promete fazer melhor, ou pior, na próxima vez. A vontade de bater naquele rostinho não me cabia em palavras.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Coletânea de Oneshots SpideyPool
Fiksi PenggemarUma coleção de capítulos únicos envolvendo Peter Parker e Wade Wilson. Não existe uma ordem cronológica, portanto, pode começar de onde quiser. Os capítulos têm inspirações de músicas, quadrinhos, filmes, desenhos ou até jogos.