as milhares de fotos

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E eu quase acreditei que eram só fotos numa caixa. Quase. Acontece que Win nunca guarda só uma coisa num lugar específico. Por exemplo, na bolsa dele geralmente é pra ter só livros e canetas. Mas tem livros, canetas, comida, panfleto de promoção de óculos, casca de balinha, uma camisa amassada do Ramones e materiais de fazer pulseirinha colorida. Fica a observação que ele foi na escola da sobrinha resolver umas coisas e a coordenação o entregou o teco de fazer pulseirinhas e ele nunca devolveu para a menina, dizia que era uma terapia.

Guns, Win, Bright, leu. Os dois estavam conversando nessa foto enquanto Guns fazia careta pra câmera. Era um dia de ensaio da Academia. Acho.

— Bright querido, — a senhora Metawin entrou no quarto e viu a carinha de choro que ela fez ao entrar ali, ao sentir o cheiro dele e ver as coisinhas dele — quer comer alguma coisa? Gigi veio ajudar e comprou material pra fazer uma sopa.

— Ah... obrigado tia. Mas vou ter que recusar. — aí eu lembrei que a mãe de Win era a cópia dele. Então me apressei — Tia! Espera eu quero sim, — sorri — só agora vim me tocar que tô com aquela foome!

O rosto dela pareceu um pouco mais animadinho, assim, bem pouquinho.

— Tudo bem então. Eu te chamo.

A porta foi fechada. Eu não pude deixar de olhar ao redor. Os livros empilhados na mesinha, umas fotos fora de ontem pregadas na parede, o espelho embaçado, a cama bagunçada, canetas e papéis pra tudo que é lado.

E agora veio aquele momento em que você suspira e sente seu peito vazio. Simplesmente sumiu. Uma lágrima, duas.

— Não é hora pra isso.

Mais um suspiro, bem fundo, pra sentir o cheirinho de achocolatado que era mais que dominante naquele quarto.

É engraçado como Guns faz umas caretas doidas — dizia no verso da foto — eu nem sei  porque imprimi isso mas sei lá, parece legal. Ter fotos dos amigos. Decorar o meu quartinho, isso se eu tiver paciência de fazê-lo.

Win.

Ele até tentou, pelo visto, mas desistiu e enfiou as fotos na caixinha. Uma pequena pilha pesada de fotos enfiada numa caixa de sapatos. Um papel solto entre elas.

Sempre venha aqui quando se sentir triste. Dizia.

Tristeza e Win Metawin raramente faziam parte da mesma frase.

Cada ponto brilhante no céu parece um doce universo
É confuso pensar que estão mortas á anos e milênios
Mas é bonito de imaginar a morte como algo brilhante
Não deve ser temido
Mas sim admirado
Observar as estrelas poderia ser fúnebre mas não,
É belo

Eu não sabia que ele escrevia poemas. Não sabia.

SOBRE POEMAS AMASSADOS NUM DIÁRIO VELHO. brightwinOnde histórias criam vida. Descubra agora