Eu esperei cerca de um mês ou mais, nem sei. Eu real, perdi a noção do tempo. Porque sem Win os dias se arrastam tediosos e parecem sempre os mesmos. Hiury notou nosso afastamento e meu comportamento, nada perguntou porque elas sabe que eu sou idiota e não vou falar nada.
Previsível, né? Mais do que eu, só dois eus.
Quando meu celular vibrou no bolso pela primeira vez eu nem estiquei a mão para o pegar, somente ignorei. Mas na segunda vez eu o peguei e na tela estava o nome de Win.
Me veja hoje. Preciso... Contar. Você sabe.
Dizia a mensagem. Faltam duas horas para sermos liberados e até lá eu vou roer minhas unhas finalmente grandes até sentir minhas falanges contra os dentes.
— Nesses livros que você lê tem um feitiço pra fazer o tempo correr? — questionei a morena enquanto deixava o celular de lado, ela achou graça. Largando o livro de lado e dando uma rápida olhada para o professor ela se aproximou mais para cochichar.
— Se tivesse eu os faria todos os dias, não acha? Mais rápido, anda! — ela disse aquilo como se fosse um feitiço, apontando para frente e tudo. — Você é um burro que não pega referências à Carry On.
— Não abuso da perda de tempo. — dei de ombros, ela me mataria.
— Filho da pu—
— Gostariam de continuar a aula, Senhor Vachirawit e Senhorita Braddock? — a turma toda nos encarou, contive o impulso de revirar os olhos
— Não Senhor. — ela disse, baixei a cabeça em sinal de respeito, somente para não enfiar a coitada numa encrenca — Sentimos muito.
— Acho bom.
Se eu revirar os olhos de cabeça baixa ele não vai ver.
E finalmente, duas horas depois eu estava livre de toda aquela merda. Corri para casa, tremendamente ancioso e receoso com aquela conversa. Esperei o horário que eu sempre ia antes de tudo acontecer e, independente da merda que ocorra, eu faria questão de ouvir tudo.
Porque digerir aquelas cartas era tudo o que eu não conseguia fazer, não sozinho. E eu queria saber lidar com isso, queria aprender a entender o que porra eu tava sentido e como controlar isso pra ajudar o Win. Mas, não adianta. É um caso sem rumo. Uma pizza sem massa, queijo, molho de tomate e manjericão.
Quando cheguei na casa dos Metawin a única memória que me fez ficar mais alguns segundos no carro foi a de quando ele voltou. Eu estava desesperado.
Nesse momento eu poderia o perder de vez ou o ajudar, finalmente. Eu não estava em um bom dia, muito menos de cabeça totalmente fria, nunca estive, na verdade. Mas, se eu pudesse chegar em qualquer conclusão boa o suficiente e filtrar o máximo possível de palavras que eu queira falar, talvez tudo dê certo.
Isso, respire fundo.
Eu desferi duas batidas na porta e esperei. Quando a porta se abriu era Win ali, eu senti um impulso tão grande de o abraçar que me feriu de forma inexplicável ter que me segurar. Respire fundo e não faça merda.
— Vem, não sei que horas mamãe chega e acho que não quero que ela presencie essa conversa.
Eu assenti e caminhamos num silêncio incomum até o quarto de Win. Ele respirou fundo e fechou a porta quando entramos. As coisas em seus lugares.
— Quando... Quando achou as cartas? — perguntou ainda de pé, ele brincava com os dedos, um ato que fazia somente quando estava nervoso.
— Um dia depois de desaparecer — fui direto.
— E... Não contou pra ninguém...? — disse incerto, eu assenti seu olhar questionava o motivo, eu o poupei as palavras.
— Você não escondeu tudo numa caixa atoa, não deixou onde ninguém além de, possivelmente eu, acharia. Você nunca faz as coisas de qualquer jeito.
O canto do lábio dele se ergueu num triste sorrir. Win encarava o chão provavelmente enfileirando as perguntas e resposta dentro de sua mente.
— Obrigado, eu não saberia dizer isso e... Que bom que foi você quem achou meu diário.
— Diário?
— É, aquela caixa é um diário mas como essa palavra ficou massiva eu troquei por caixa e coloquei tudo dentro dela, depois que terminasse faria um diário bonitinho e botaria fogo — seus olhos estavam tristes —, eu achei que assim botaria fogo em tudo de ruim que eu sentia.
Por isso tinham fotos e poemas e cartas misturadas.
— Você deve ter sentido dificuldade para entender o que tava escrito, né? É porque está totalmente fora de ordem. — ele riu e esfregou as mãos nos cabelos então as escorregou para o rosto, as largou ap lado do corpo — Eu escrevia tudo o que sentia e quanto mais eu alimentava minhas tristezas mais elas me engoliam então ficou insuportável e pesado demais. — quando eu o fixei o olhar eu vi as lágrimas brotarem por seus olhos, mas suas mãos a impediram de escorregar por seu rosto — E aí, meu bem, foi só ralo á baixo.
"Eu só me sentia cada vez pior e pior — contou caminhando para um lado e outro do quarto — eu não sabia que daria tanta merda, os dias passaram e eu só queria me isolar de tudo e achei desnecessário dizer a você sobre. Eu achei que eu seria idiota se o fizesse. Eu me enfiei em encrenca, eu que saia! — ele disse como se fosse óbvio — Mas aí ficou pior, mais profundo. Agradeça ao Nani que me disse 'Lute com todas as suas forças por boas memórias e bons sorrisos, nada cura a tristeza melhor do que um sorriso', só que eu não tinha entendido o que ele queria falar com isso.
Eu achei que ele queria que eu sorrisse e tudo passaria — jogou as mãos para o alto — eu sou um idiota, afinal! Na verdade ele queria que eu olhasse pra mim mesmo e tal, que eu lutasse contra o que tenho medo dentro e mim e que, por fim, sorrisse."
E eu continuo me sentido exausto, dizia um dos textos. Mas eu tenho esperanças de que dias melhores virão.
Isso estava escrito antes da foto de Nani.
— Mas eu fiz tudo errado e fingi que tudo estava bem e aí tudo começou a doer numa intensidade descomunal. — ele me olhou no fundo dos olhos e pareceu cogitar se aproximar mais alguns passos mas ficou parado. — Me desculpa por ter sido péssimo. Eu agi errado, pensei errado, julguei de forma deturpada. Por favor Bright, me desculpa. Me desculpa por fazer vocês sofrerem.
Eu sinto tanta saudade dele.
E agora não tinha como me conter porque eu me aproximei e o puxei para mim, o aproximando de meu corpo e o envolvendo num abraço que não gritava outra coisa além de saudades.
— Onde você esteve, garoto.... — não era nem uma pergunta, eu estava pouco me fodendo para onde ele esteve, eu só queria o abraçar até meus últimos dias, eu só queria que ele se sentisse confortável e protegido.
— Onde o oceano toca nosso rosto. — ele choramingou — E eu descobri que cigarro é horrível.
Eu deixaria para matá-lo outra hora, agora eu ignoraria a tentativa de foder os pulmões e o abraçaria porque eu sinto saudades dos abraços de Win.
— Eu te amo, criatura. Nunca mais faça isso outra vez, por favor. — eu sussurrei. Ele me abraçou com mais força e eu senti que eu poderia morar ali.
— Eu também te amo muito... Eu quero não fazer isso de novo. — disse, eu senti suas lágrimas na minha camisa, ouvi a fungada que deu e o quanto se encolheu em meus braços.
— Nós vamos vencer isso, tá? — eu deixei um beijo em sua bochecha e acariciei seus cabelos escuros — Com calma e carinho nós vamos.
Nós vamos cuidar disso depois que eu tiver uma cabeça não carinhosa para te dar um sermão.
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SOBRE POEMAS AMASSADOS NUM DIÁRIO VELHO. brightwin
Fanfiction"Eu estou escrevendo essa carta... porque... Sei lá. Eu não sei mais o que fazer, entende? Não sou o Win Metawin que tantos amam e têm expectativas, o líder perfeito, o que terá um grande futuro. Olha, me desculpa se você tá lendo essa carta. Ou se...