Capítulo XXXII

25 4 2
                                    

- Acho que entendi o porque da antropologia. - Comentei com Liam, caminhavamos no escuro da mata durante a madrugada, depois de algumas horas de caça.
- Sabe? Me conta mais! - Ele pediu risonho.
- Quer descobrir nossa origem. - Liam me encarou e acenou com a cabeça concordando.
- Quero, na verdade é tudo o que mais quero, descobrir se tem uma forma de reverter... - Meus pés pararam automaticamente.
- Reverter? - Ele me olhou sereno.
- Adellie, não acha que esse estilo de vida é cansativo? - Ele me perguntou.
- Acho, sinto falta de muitas coisas, mas estou começando a abraçar essa nova vida, as milhares possibilidades. - Ele balançou a cabeça pensativo. - Liam?
- Sim!
- Quero estar ao teu lado quando descobrir uma pista se quer da nossa origem. - Informei a ele, Liam parou e ficou de frente para mim.
- Claro, você não sabe o quão solitário me senti no decorrer dos séculos... A sua chegada mudou isso. - Ele sorriu de canto.

Não havia nada mais a ser dito, voltamos a caminhar em silêncio e em algumas horas, Adellie estaria voltando para a faculdade.
Tinha sido cansativo as últimas semanas, os humanos me tratavam completamente diferente, mudavam até o entonação da voz aonde dirigir a mim, ao mesmo tempo que seus olhares eram de pura admiração, alguns olhares e inveja me magoavam o suficiente.

Antes mesmo de ouvir pela primeira vez, eu ja sabia, a história mau contada de como acabei viva após o acidente e dias desaparecida, seria o assunto na minha presença e fora dela, os Styles estavam diretamente ligados a minha lembrança, me lembro de quando Harry era foco dos Styles, com o seu sumiço, ele parece ter virado apenas uma lenda.

Em relação a ele, ainda servindo os Volturi por vontade própria, ele queria se enganar, por todos esses meses assisti como se fosse um pesadelo Harry a alimentar de homens, mulheres, idosos, crianças e adolescentes, os olhos não haviam mudado apenas de cor, estavam ficando cada vez mais sem o brilho que eu tanto conheci, a cada semana ele passava mais tempo imóvel, Harry não tocava mais piano, algumas vezes ele piscava e mexia seu corpo, coberto por poeira, como se fosse um estátua... Abandonado.

Em casa sozinha retomei um resumo rápido sobre minha mais nova matéria e tirei alguns minutos para estudar Italiano, segui a rotina normalmente, tomei um banho, por mais que meu corpo não necessitasse de higiene, estava sempre limpo, sem nenhuma secreção ou odor, escovei meus dentes também por rotina.

Na frente do espelho sacodi meu cabelo molhado em torno de trezentas mil vezes e ele ficou praticamente seco, depois disso perdi alguns minutos rindo sozinha de mim mesma, agradeci mentalmente por não morar mais com o meu pai, presenciar sua filha balançar a cabeça trezentas mil vezes em dois minutos tiraria o sono dele.

Por mais que fosse proibido me expor a luz do sol, nada me agrava mais do que sentir os primeiros raios do sol tocando minha nova pele, podia sentir me aquecendo superficialmente e toda vez o reflexo da parede de vidro me encarava, ela era diferente, passava uma estranha confiança que dentro de mim não havia, todos meus movimentos eram sensuais por mais que a antiga humana na minha mente ainda estivesse viva.

Escolher a roupa foi fácil, os meus tecidos preferidos agora eram os jeans e o couro já que o frio não me incomodava mais, as roupas de lã e algodão já estavam ficando no fundo no guarda roupa, meu gosto por sapatos também haviam mudado, o perfeito equilíbrio de uma vampira me deu vários modelos de saltos diferentes e também sapatos fechados, por mais que aquele tipo de roupa fosse sensual e fúnebre, cada centímetro do meu corpo estava coberto.

Era a primeira vez que estava dirigindo um carro depois da transformação e manter a velocidade mínima de 40km foi uma verdadeira tortura, mas nessa vida precisava praticar a paciência, mesmo sem necessidade, meu cérebro aceitava a prática de respirar e expirar, descer do carro já me tirou o pouco da confiança, praticamente todos no estacionamento e no pátio me olharam, como se esperassem o meu retorno, por mais que mentalmente estivesse nervosa, meu corpo não acompanhava, minhas mãos e pernas não ficaram trêmulas, minha bochecha não ficou vermelha.

- Será que o acidente foi tão grave que ela precisou passar por cirurgias plásticas? - Se não fosse pelo meu aprimorado reflexo eu teria jurado que alguém estava falando ao meu lado.
- Possívelmente, amiga! - Estavam longe, sete metros e meio, peguei meu óculos escuros para cobrir os olhos e ainda antes de sair do carro respirei e expirei algumas vezes.
- Uau. - Uma voz masculina exclamou.
- Dizem que o acidente mexeu com o psicológico dela e agora ela quer se parecer fisicamente com os Styles... - A voz aguda daquela menina me deixou salivando.
- Verdade, mas continua sendo insuficiente para todos os Styles. - Com força mordi os lábios, o veneno em minha boca descia pela garganta e comecei a sentir o fogo tomar vida.

Caminhei o mais rápido humanamente possível para o corredor principal, enquanto procurava o auditório de antropologia me peguei refletindo em como os humanos são maldosos e por um milésimo de segundo me imaginei secando todos os quarenta e quatro corpos que ainda só fundo comentavam sobre o quão estranha Adellie Lee era.

- Ei! - Liam tocou meu ombro me tirando do transe que me coloquei. - Tudo bem? - Ele colocou meus cabelos envolta dos meus ombros bloqueando os aromas de sangue em minha volta.
- Agora estou, obrigada!
- Não liga para o que falam, é inveja misturada com admiração. - Ele me puxou em rumo ao auditório. - Humanos não sabem lidar com isso.
- A raiva me deu cede. Acho que posso dizer com toda certeza que os odeio. - Liam riu.
- As emoções vampirescas, a transformação de tira toda fragilidade física e coloca no seu cérebro o dobro de emoções... Para compensar.
- Liam, eu não sei, acho que seria melhor ir embora... - Parei no meio do corredor. - Consigo sentir o cheiro de todas as salas, consigo ouvir cada coração...
- Pare de respirar. - Ele aconselhou.
- É impossível! - Exclamei, talvez se meu coração batesse, estaria enfrentando uma crise de pânico.
- Olhe para mim! - Liam retirou meus olhos escuros. - Se ficar nervosa, aí sim vai acabar matando alguém! Fique calma, você precisa disso, precisa ter contato com o mundo humano, para supera-lo!
- Você faz parecer tão fácil... - Murmurei.
- Não é fácil... Mas, não é impossível! - Ele me assegurou, beslicou gentilmente meu queixo e piscou um olho dourado. - A propósito, seus olhos estão lindo. - Ele me elogiou, dei uma risada envergonhada. - Está vendo? Ja esqueceu!
- Tudo bem! Sabe o que é isso? - Mostrei o copo térmico de café.
- Claro, senti o cheiro, achei inteligente trazer tequila para a aula. - Ele brincou, seguimos caminho para a sala, segurava a respiração enquanto podia, mas toda vez que sentia não poder ficar sem respirar, colocava o copo próximo ao meu nariz, assim o cheiro de todos os corpos misturados eram bloqueados pelo forte cheiro da tequila.

Sentei ao lado de Liam, ele era estudioso e manteve a atenção na aula durante todo o tempo, algumas vezes me recordando de mexer o corpo, um bocejo, um alongamento do pescoço, apoiando as mãos no queixo, arqueando as costas ou até mesmo bufando de tédio.
Era completamente exótico essa necessidade de ficar o tempo todo em movimento, nenhum humano passava mais de três minutos sem algum movimento, nenhum e mesmo que tentasse evitar, os murmurios me seguiam, não poderia evitar, era o assunto da cidade, deveria me acostumar.

Acabando a minha única aula com Liam, segui sozinha para a minha próxima aula com meus... Amigos... Humanos, eles já estavam apostos e sorridentes, ao me verem entrar pela sala, se calaram e automaticamente os batimentos cardíacos aumentaram, subi vagarosamente as escadas e me sentei ao lado de Vanessa, ela olhou para a fila ao seu lado esquerdo e respirou fundo.

- Ooi!? - Vanessa disse sorridente, havia muitos dentes em sua boca.
- Oi! - Tentei falar como falava como humana, minha voz saiu como a de uma dubladora da princesa Branca de Neve, engoli o veneno que desceu pela garganta assim que me permiti olhar o pulso de Vanessa. - Perdi muita coisa?
- Posso te emprestar meu caderno, relaxa! - Agora que estávamos em uma conversação a entonação de voz de Vanessa havia mudado, ela tentava se equalar a mim ou talvez me seduzir?
- Seria bom, seria ótimo na verdade. - Respondi sorrindo, os batimentos de Vanessa pararam e voltaram acelerados talvez até 124 batimentos, desviei os olhos e segui para a trilha ao lado de Vanessa, todos sorriam, menos Wayne.

A Quarta Fase Da Lua (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora