Capítulo XVIII

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Saindo da sala de reuniões, corri para o banheiro, como se meus olhos finalmente fossem abertos consegui enxergar como estava.
O cabelo em um coque mal feito, a mancha escura embaixo dos meus olhos inchados, a pele pálida, o rosto fino pelos oito quilos perdidos no decorrer do tanto tempo, os lábios sem cor e olhos sem vida.
Harry havia voltado também? Um sorriso se brotou no canto dos meus lábios.

Molhei meu rosto e soltei meu cabelo, passando os dedos para tirar os nós, arrumei minha roupa e corri diretamente para a minha sala, pegando minha garrafa de água notei o quanto estava tremendo de nervosismo, procurei na bolsa um batom perdido, passei pouca quantia, achei um rímel e passei para realçar os olhos.

Minha sala estava uma bagunça, logo comecei a organizar minha mesa e jogar os vários lixos no devido lugar, após organizar minha mesa, organizei os cômodos que também estavam completamente desorganizados, tudo da forma mais rápida possível, abri a cortina da minha sala e a janela para que a sala tivesse uma corrente de ar já que a meses eu estava evitando o sol.
Peguei um desodorante guardado na cômoda a minha frente e apliquei no ar e em mim, já fazia algum tempo que deixei de passar perfume, fechei a porta e tentei me acalmar mexendo no computador.
Quinze minutos depois ouvi uma batida na porta.

-E-Entre! - A quanto tempo eu não falava em voz alta? Minha voz parecia completamente diferente.
A porta de abriu, Zayn colocou a cabeça primeiro e depois o corpo inteiro, primeiro detalhe que percebi eram os olhos, castanhos escuros?
- Bom dia. - Ele disse, me afastei do computador e me levantei.
- Bom dia, Chefe! - Brinquei. Zyan riu.
- Muito ocupada para um almoço? - Ele perguntou.
- Você... Come comida humana? - Sussurrei, era extremamente reconfortante estar na presença de um imortal novamente.
- Não, eca, queria apenas te fazer companhia... Se você quiser é claro. - Ele piscou para mim.
- Ah. - Olhei em volta, tentando lembrar se havia algo a ser feito, não recordando de nada, não havia como recusar seu convite. - Claro! - Peguei minha bolsa, Zayn foi na frente, e como sempre os olhos de todos estavam em mim, não foi diferente quando me viam com Harry pelos corredores, não foi diferente quando me viam como uma zumbi nos corredores, não seria diferente desta vez também.
- Bom, onde gosta de almoçar? - Ele quis saber. A mão de Zayn teclando o botão do elevador me trouxe um déjà vu vivido, rapidamente meu cérebro se convenceu que aquela pálida mão era de Harry. Olhei para o rosto de Zayn, o formato dos olhos eram idênticos. - Adellie? - Zyan me chamou.
- Sim!? - Pisquei algumas vezes, tentando por os pensamentos em ordem.
- Onde costuma almoçar? - Ele repetiu sua pergunta.
- No escuro do meu escritório. - Respondi espontaneamente. - Ah! Merda! - Zayn já estava rindo, e pela primeira vez em muitos meses consegui rir, o estilo de risada exatamente parecida com o de Harry, a voz exageradamente perfeita, a risada soando como conto de fadas.
- Podemos comprar comida e você pode comer no escuro, eu enxergo bem. - Ele disse depois de se recuperar.
- Não! Tudo bem, eu preciso pegar um pouco de ar. - Pensei, não iria aguentar por muito tempo a pergunta que queria explodir meus pulmões.
- Certo, eu dirijo. - Ele disse, a porta se abriu e estávamos no estacionamento, Zyan foi em silêncio para o carro, entrou e me esperou.

Entrei e me acomodei no banco do passageiro, pedi que fosse para o restaurante mais próximo, cinco minutos de distância, ele seguiu em silêncio, algo me dizia que estava segurando a respiração, então, mantive silêncio também.

- Aqui!? - Ele apontou, estava distraída, ele segurava o volante igualmente como Harry.
- Sim... - respondi.
- Ok. - Ele murmurou enquanto estacionava o carro, quando desligou o carro me olhou com a sobrancelha direita arqueada. - Tem alface no meu dente? - Ele quis saber.
- Não! Desculpe, é... Já fazia algum tempo que não encontrava um...
- Vampiro?
- Sim!
- Pode falar a palavra, não é um xingamento para mim. - Ele abriu a porta do carro, por insistindo esperei que ele abrisse a minha, quando percebi que não faria sai eu mesma do carro.
- Você se dá bem com a sua situação? - Questionei no caminho.
- Na verdade sim, não tem nada melhor do que viver eternamente.
- Achei que estivesse trabalhando para os Volturi. - Ele abriu a porta do restaurante.
- Estava, tirei férias... - Ele se sentou a minha frente.
- Tirou férias e veio justamente para cá? - Questionei.
- Claro, aliás, depois que ele resolveu sair mundo a fora, alguém precisa tomar conta dos assuntos da família, é por aqui que tiramos nosso sustento. - Ele brincou com a palavra sustento.
- Então, por que trabalha para os Volturi?
- Você é bem curiosa, não é? - Ele riu e mordeu os lábios, meu coração acelerou, Zayn notou esse solavanco e seu rosto ficou aínda mais malicioso.
- Desculpe. - Desviei o olhar, me ajeitando no banco de verniz.
- Tudo bem, eu pretendo te chamar mais vezes para almoçar, não quero que meus motivos ou nossos assuntos acabem. - Ele se ajeitou no banco também, percebi que estava sorrindo, envergonhada desviei o olhar. - Entendo porque ele gostou de você, sempre achei que ele fosse só um masoquista idiota, mas é além disso.- Notei que Zayn evitava tocar no nome dele, de alguma forma eu era grata.
- Então me explica. - Pedi, uma voz veio a minha mente "Tente também esclarecer os motivos para que ele me deixasse", não teve como ignorar essa voz, senti uma dor no peito, era físico, coloquei a mão no meu peito, tentando acalmar meu coração.
- Tudo bem? - Zayn perguntou preocupado, parei a massagem no peito e joguei os cabelos para trás, suspirei fundo.
- É só... Você tocou em um assunto delicado. É... Difícil falar sobre... Isso! - Não prossegui, iria começar a chorar.
- Perdão, estava tentando te elogiar, tentarei outros meios.
- Você é esperto, vai pensar em algo. - Disse a ele, Zayn riu.
- Como vai a faculdade? - Ele perguntou, uma garçonete se aproximou.
- Boa tarde, aqui está o cardá-pi-o... - Ela ficou a encarar Zayn, revirei os olhos e peguei o cardápio que ela aí da não havia soltado completamente na mesa, já estava acostumada com isso. Já conhecia as opções, odiava não gostar de testar novas possibilidades, pedi o de sempre.
- Oi! - A chamei, mesmo que ela estivesse na mesa, ainda encarando Zayn. - Quero esse lanche acompanhado de cebola empanada, e por favor uma água saborizada com gás. - Ela anotou meu pedido.
- E você? - Perguntou animada para Zayn.
- Nada! Obrigado. - Zayn disse me olhando, entreguei o cardápio para a garçonete.
- Tudo bem, se mudar de ideia, estou ao seu total dispor. - Ela disse, ri sem conseguir disfarçar, sabia ser ainda mais forte que o medo a vontade de agarrar um vampiro.
- A faculdade vai ótima, obrigada, Zayn! - Retomei nossa conversa, a garçonete então saiu de perto da mesa.
- Gostando do estágio? - Zyan brincava com o guardanapo da mesa.
- Queria poder fazer mais horas extras. - Brinquei, ele parou de mexer no guardanapo e me olhou atento.
- Posso promover você a gerente do setor edital, oque acha?
- A Laysa pediu demissão? - Perguntei.
- Não, eu só... Colocaria você e demitiria ela. - Não pude deixar de arregalar os olhos.
- Não! Não! Por favor, humanos não vivem tempo suficiente para ficar milionários, estou bem com o meu cargo, mas obrigada. - Declarei, ele riu.
- Vai ser bom almoçarmos juntos, não sei como me misturar no meio de humanos. - Ele confessou.
- Zyan, você... Se alimenta de animais como... seus primos? - Questionei.
- Oh não, lamento, essa dieta é nova na minha família, quando os Cullens ficaram conhecidos, muitos vampiros que não gostam da própria natureza começaram a seguir o "exemplo". - Ele fez aspas com os dedos, quem era os Cullens? Não sabia, mas deduzi que Zayn não gostava nadinha deles.
- Oque quer dizer com isso? - Perguntei.
- É algo que demora para ser aperfeiçoado, sete anos dessa dieta é uma tortura, como um fumante em cigarro chupando balas para tentar amenizar a vontade de fumar sendo que ele apenas parou pq a chata da mulher dele estava implicando, entende?
- Então você... Gosta de se alimentar de humanos. - Concluí.
- Sim, não escolho aleatoriamente mas também não deixo de me alimentar toda semana.
- Nossa, existe um mar entre você e seu... irmão. - Comentei, a palavra irmão quase não saiu.
- Possivelmente ele já voltou as origens. - Zayn contou.
- Onde ele está, Zayn? - Criei coragem para perguntar.
- Longe, Adellie, longe. - Zyan disse, frio.

Olhei para a rua, os olhos ardendo e logo em seguida marejando, reparei fundo algumas vezes e me servi de um copo de água que já estava encima mesa, ficamos em silêncio por alguns minutos.

- Aqui está! - Entregou a garçonete meu lanche. - Tem certeza de que não quer nada, meu amor?
- Oque eu quero, não tem no cardápio. - Zayn disse olhando fixamente para a garçonete, seria ela uma possível vítima? A garçonete riu abobada e saiu em passos lentos, Zayn me olhou novamente.
- Isso vai ser um mar entre nós dois? - Ele foi direto.
- Sua alimentação? - Perguntei.
- Sim.
- Somos só amigos, não é da minha conta mas também prefiro nem saber. - Disse de forma fria, ele sorriu contente.

A forma como Zayn me olhava comer era diferente da forma dele, o olhar de Zayn indicava que se fosse possível ele chutaria minha comida para longe e me daria o pescoço da garçonete, o cheiro não parecia lhe agradar, muito menos a aparência.
Ele me olhava como o seu personagem favorito, fazendo algo super fofo.

Seis semanas depois...

Minha rotina havia mudado desde da chegada de Zayn, 11:45 ele passava na porta da minha sala e apenas me olhava, sorria e esperava que eu fosse na frente, íamos a algum lugar diferente todo dia, a única exigência que eu tinha era: precisasava ser comida!
No almoço falávamos sobre a família dele, o serviço, minha família e a faculdade, Zayn me deixava na porta do escritório e aparecia no findar do seu expediente para me dar, boa noite.

Nos dias em que eu tinha aula, logicamente não o via, também não o via no final de semana, voltando a morar com meu pai, comecei a passar mais tempo com meus amigos novamente, principalmente no sábado.
Vanessa havia saído da fraternidade e estava no dormitório com Miranda.
Niall e Wayne estavam ficando e parecia que logo estariam namorando, mesmo assim Niall sempre fazia o semblante de Wayne mudar quando eu estava por perto, como amiga, tentava sempre manter Wayne despreocupada com minhas intenções, era somente com Niall que ela devia ficar irritada, Vanessa e Miranda sempre que podiam me davam uma força em relação a esse tema, Wayne sempre dizia estar tudo bem, mas na verdade nunca estava.

Meu pai estava muito contente com meu novo progresso, voltei a comer, me arrumar, conversar e dormir, a única parte de dormir eram as horas incessantes de pesadelos, a única parte de ficar sozinha em casa depois de chegar do serviço era ter tempo de sobra para pensar nele e chorar por isso.

Mas o pesadelo era sempre o mesmo, na praia Harry se despedia e entrava na água, desesperada entrava no mar salgado, ignorando o frio, ignorando a necessidade de oxigênio, quando já estava submersa meu corpo ficava imóvel, me esquecia como nadar e afundava rapidamente para o fundo, na minha queda uma rocha machucava minha perna e meu braço esquerdo, não demorava muito até o sangue manchar a água e então vinha até mim como um tubarão um enxame de vampiros, nadando em alta velocidade, não sabia reconhecer a maioria, apenas dois, Agatha e Zyan.
Sem vida no fundo do mar uma transformação acontecia, a água fervia e então sempre despertava nessa parte, com calor, gritando e chorando ao mesmo tempo.

Por mais que Zayn fosse diferente do que eu estava acostumada, ele ainda era capaz de amenizar a minha agonia, com ele eu podia me esquecer de todas as preocupações e dores, sabia exatamente qual era a intenção de Zayn e sabia também das minhas, por mais que gostasse de Zayn, algo me influenciava e talvez sendo amiga de Zayn, considerado por ele um vampiro nada confiável, forçasse uma visita rápida nem que fosse para me dar um sermão.

Talvez, aceitando as investidas de Zayn, ele ficaria irritado por ter dado uma chance para seu irmão caçula, talvez ele odiasse qualquer forma de contato com Zayn e viesse, talvez... se ele se importasse, talvez ele me faria uma visita se ele soubesse das minhas inclinações suicidas... talvez.

A Quarta Fase Da Lua (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora