Capítulo XI

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Acordei na cama, a porta estava se fechando e Harry vinha na minha direção, olhei em volta e Miranda dormia ao meu lado, eu estava de calça moletom e uma blusinha de alça finas, no meu pé estava um edredom grosso.
Harry se agachou ao meu lado e pediu minha mão, havia um curativo, ele sorriu tristonho e alisou meu cabelo.

- Ela passou a noite inteira aqui, o doutor deu um remédio forte para tirar a sua dor... Esperou que você acordasse mas seu sono ficou cada vez mais pesado... Desculpe.
- Você fez a avalanche? - Perguntei.
- Não, por que acha isso? - Ele vincou a testa, eu ri.
- Então por que está pedindo desculpas? - Puxei sua mão e fiz alguns carinhos.
- Acho que a sua hora de morrer chegou quando seus livros caíram... Como a própria morte abraçou a vida... Alguém mais está trabalhando para que o serviço seja feito. - Harry lamentou.
- Não diga besteiras, foi só azar. Estou viva... Graças a você. - Sorri para ele, Harry não retribuiu.
- Não foi nada complicado, sinto muito não ter avançado antes de machucar o braço e a cabeça...
- Você salvou da minha coluna ficar igual a de uma minhoca. - Tentei novamente.
- Você deve estar com fome, vou buscar um sanduíche. - Ele se levantou.
- Não vai! É só pedir o serviço de quarto! - Disse alto de mais, Miranda se mexeu.
- Volto daqui a pouco. - Harry saiu.

Miranda acordou e sorriu quando olhei para ela.

- O Super Man está irritado por quê? - Sua voz estava rouca.
- Ele acha que poderia ter feito melhor... - Suspirei.
- Ele é estanho, não lembro de ver ele subindo e indo te pegar, só sei que quando a avalanche acabou ele saiu do outro lado com você no colo. - Ela continuou.
- Adrenalina. - Menti, Miranda riu. - Obrigada por ter ficado comigo. - Mudei de assunto.
- Fiquei morrendo de preocupação, não saberia me perdoar por perder você. - Miranda pegou em minha mão. - Vou para o meu quarto! Precisa de alguma coisa?
- Não! Obrigada! Amanhã a gente se diverte mais! - Miranda gargalhou.
- Claro, velhinha! - Ela zombou.

Fiquei sozinha no quarto, liguei a televisão e fui para o banheiro em passos lentos, ri quando entendi o porque de Miranda me chamar de velhinha, estava andando feito uma. Fiz minhas necessidades e lavei a boca, estava com um gosto amargo.
Quando voltei para o quarto, Harry saiu rapidamente da cama e veio até mim, me pegou no colo como se eu fosse de pano e me deitou na cama novamente.

- Eu sei andar! - Exclamei, tentei me sentar e soltei um grunido, Harry rapidamente me pegou pela cintura e me sentou na cama, olhei para ele e não parecia ter sido por graça, ele parecia magoado e estava disposto a tudo para me fazer sentir melhor.
- Sabe andar mas não está conseguindo. - Ele se sentou no banco ao meu lado.
- A cama é grande, cabe você nela. - Lembrei ele, Harry olhou para o espaço vazio e me ignorou, colocou no meu colo uma pequena bandeja com dois sanduíches e um suco em copo de viagem. - Para de agir assim, vou ficar triste. - Pedi a ele.

O ombro de Harry relaxou, ele se levantou e antes que eu pudesse processar estava deitado ao meu lado.
Harry se manteve em silêncio enquanto eu comia, sabia que ainda estava colocando a culpa em si por algo fora do seu controle.

- Não vai relaxar? Por que está se culpando tanto, afinal? - Estava tentando deixar a voz relaxada.
- Por que eu tento me manter longe, e quando cedi nem mesmo minha velocidade ou super força impediu você de se machucar assim.
- Bom, então me transforma. - Pedi com ironia, Harry olhou para mim e riu desacreditado.
- Por que acha que eu condenaria você a essa vida imunda? - As palavras saíram rasgando todo o ar, nossa segunda discussão.
- Não fala isso, eu poderia me cuidar... Ficar com você para sempre.
- E vamos ficar juntos, está nos meus planos... - Ele tentou acalmar a voz também.
- Meu para sempre é diferente do seu.
- É o para sempre que eu posso te dar. - Harry se levantou, não conseguindo manter a calma.
- Você está decidindo por mim, o que aconteceu com "Depois da faculdade podíamos seguir juntos?". - Arrumei minha postura.
- Ah! - Ele exclamou gesticulando. - Você quer mesmo falar sobre isso? Acha mesmo que sou tão egoísta ao ponto de tirar você da tranquilidade humana? De perto do único integrante da sua família? Colocar você em um ciclo eterno infernal? Te colocar no meio da minha família desordenada? Assistir você definhar nessa vida? Ver toda a alegria sumir nos seus olhos com o tempo? Seus olhos nem serão mais da cor natural, sua pele, seu cheiro, sua voz. - Ele andava de um lado para o outro, irritado, falando alto, gesticulando.
- Não sabia que você odiava tanto isso... - Murmurei, sabia que ele tinha ouvido cada palavra.
- Eu me odeio, odeio não conseguir ficar ao seu lado como seus amigos ficam, odeio não poder te abraçar como seu pai te abraça, odeio não poder esquentar sua carne quando está com frio... Odeio tanto querer você morta, seca... Só por que tenho uma sede insaciável. - Harry estava longe, sua voz não estava mais alta, mesmo assim podia ouvir com clareza. - Odeio não poder chorar nesse momento, odeio não ter um coração que bate, odeio viver eternamente... Infeliz e sozinho com o meu próprio demônio.
- E vai ficar entendiado quando eu parecer uma vovó e você meu cuidador. - Tentei amenizar o clima.
- Não me apaixonei somente pela sua aparência... Amo você como um louco e se o preço que pago é perder você daqui a cinquenta ou setenta anos... Eu pago! - Naquele momento me caiu a fixa, estava com medo... Pela primeira vez Harry parecia um vampiro.
- Posso pedir para outro vampiro. - Continuei. Queria mesmo deixar ele no seu limite?
- Por que está me irritando? - Ele sussurrou, fechou seus olhos, punhos cerrados.
- Não tem nada mais que eu queira a não ser ficar eternamente com você! - Sussurrei.
- Está errada, depois de transformada, tem algo que você irá querer muito mais, pelo qual vai matar, pelo qual vai querer morrer... sangue. - Seus olhos duros me deram uma última analisada, e como se jamais estivesse ali comigo, Harry saiu pela janela do quarto.

A Quarta Fase Da Lua (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora